16 Dezembro 2022
O caso tornou-se público na semana passada. Do Vaticano a excomunhão depois retirada em 2019, após o arrependimento do mosaicista conhecido em todo o mundo. Mantêm-se restrições que "não devem ser relaxadas".
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por La Repubblica, 15-12-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
O superior dos jesuítas confirmou que o padre Marko Rupnik, mosaicista conhecido em todo o mundo, "ultrapassou os limites permitidos" com uma mulher, há trinta anos, numa relação de guia espiritual que assumiu características de "manipulação", e posteriormente absolveu a mulher em confissão, incorrendo assim na excomunhão, pena que posteriormente foi retirada por ter se arrependido, em 2019, no âmbito de um processo do Vaticano. O Padre Rupnik continua sujeito a “restrições”, que “não devem” ser relaxadas, e a Companhia de Jesus não descarta a possibilidade de haver “outros casos”.
“O caso que se tornou público na semana passada em relação ao padre Marko Rupnik é um bom exemplo do muito que ainda temos a aprender, especialmente sobre o sofrimento das pessoas”, disse o padre Arturo Sosa, superior geral dos jesuítas, durante um encontro com alguns jornalistas para os votos de Natal. “Este caso, como outros, nos enche de espanto e dor, nos leva a compreender e nos sintonizar com o sofrimento das pessoas envolvidas de uma ou outra forma”.
Embora ser nunca usar a palavra "abuso" ou "vítima", o jesuíta venezuelano confirmou as notícias que apareceram na internet na semana passada, explicando que se trata de "uma denúncia de superação dos limites permitidos nas relações entre o padre Rupnik e pessoas consagradas adultas da comunidade de Loyola, na Eslovênia", no início dos anos 1990.
Trata-se de uma comunidade feminina de Ljubljana composta por mulheres consagradas, não religiosas, onde o Padre Rupnik e outros coirmãos residiam. A relação entre o jesuíta e algumas mulheres tornou-se depois “conflituosa” e o padre Rupnik foi afastado, mudando-se para Roma, onde, aliás, se juntaram a ele algumas das primeiras companheiras daquela comunidade. Pois bem, os abusos sexuais ocorreram “entre um padre que exerce o ministério sacramental e uma pessoa que recebe o sacramento”, ou seja, no contexto da confissão, num tipo de relação onde se verificaram elementos de “dependência” e de “manipulação”.
Como o abuso ocorreu enquanto Rupnik "exercia atividades pastorais ligadas ao seu ministério sacramental", foi o dicastério para a Doutrina da Fé que fez a investigação quando a denúncia chegou ao Vaticano. Que com um processo administrativo-penal constatou que durante a confissão o sacerdote, como se costuma dizer na linguagem do direito canônico, "absolveu" a "cúmplice" e, portanto, incorreu em excomunhão latae sententiae. A excomunhão, segundo a práxis, foi posteriormente retirada em 2019: “A pessoa deve reconhecer e arrepender-se formalmente, assim foi feito”, explicou o Padre Sosa.
Normalmente "os chefes de dicastério prestam contas ao Papa, posso imaginar que o prefeito da congregação tenha falado com o Papa antes de tomar essa decisão", respondeu o superior dos jesuítas às perguntas dos jornalistas: "Parece-me normal, mas não posso dizer nem sim nem não".
Trata-se de um caso à parte, e até agora não confirmado oficialmente, a respeito das investigações conduzidas pelo dicastério vaticano responsável pelos processos canônicos por abusos, e concluídas em outubro passado, a respeito de outras denúncias dirigidas ao padre Rupnik. Nesse caso, o escritório do Vaticano, liderado por um jesuíta, o cardeal espanhol Luis Ladaria, não impôs sanções porque "as denúncias recebidas estavam legalmente prescritas". Os jesuítas, por outro lado, quiseram “passar do nível jurídico para aquele de cuidar dos sofrimentos causados e tentar sanar as feridas abertas”. E por isso decidiram "manter em vigor as medidas restritivas" que haviam sido adotadas como precaução durante a investigação, mas datavam de 2019.
Concretamente, uma vez que os abusos ocorreram no âmbito do acompanhamento espiritual, o padre Rupnik "não pode confessar, não pode administrar o sacramento da reconciliação, não pode acompanhar espiritualmente uma pessoa, não pode dirigir cursos ou acompanhar retiros inacianos de nenhuma forma", mas "não há outras restrições". Além disso, para "qualquer intervenção pública, conferências, artigos, livros, deve ter a permissão expressa do superior de sua comunidade".
Aos que se perguntavam se lhe era permitido realizar um retiro espiritual, previsto para os próximos meses em Loreto, o Padre Sosa salientou que “isso não deve ser possível”. O jesuíta está em Roma e “continua o seu trabalho de artista, bem como o seu ministério sacerdotal em âmbitos não afetados pelas medidas restritivas”, como, por exemplo, a celebração da missa. As sanções, explicou padre Sosa de forma mais geral, "devem ser proporcionais ao erro", e no caso de Rupnik está em discussão "sua conduta pessoal no exercício de seu ministério sacerdotal", não "sua teologia, sua arte, o que ele escreveu ou pregou".
Quanto à hipótese, longe de remota, de que possam existir outras vítimas, que ainda não se manifestaram, por exemplo por medo de retaliações, “não somos ministérios públicos, mas se surgirem outros casos, serão seguidos os procedimentos necessários", disse o padre Sosa.
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Abusos na Igreja, os jesuítas confirmam os cometidos pelo padre Marko Rupnik. “Outros casos possíveis” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU