06 Dezembro 2022
A presença de mulheres nos "altos" ministérios da Igreja volta a emergir como um problema "insolúvel" para o Sínodo dos Bispos a ser celebrado no próximo mês de outubro; de fato, o papa reitera que a "mulher-padre" é absolutamente inaceitável, enquanto muitas mulheres e homens na Alemanha o consideram desejável e possível. E uma freira indiana considera o ponto de vista de Francisco "inaceitável".
O comentário é de Luigi Sandri, jornalista italiano, publicado por L'Adige, 05-12-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Em entrevista à "America", importante revista dos jesuítas estadunidenses, o pontífice, na semana passada, havia rejeitado totalmente a hipótese da mulher-padre: de fato, explicava ele, emerge do Novo Testamento que a Igreja se alicerça em duas pilares: o "princípio petrino", que funda uma estrutura que prevê, ligados ao sucessor de Pedro, bispos e presbíteros, todos homens; e o "princípio mariano", ou seja, a presença das mulheres - como outrora foi a de Nossa Senhora - que tornam a Igreja esposa e mãe. Mesmo sem citá-lo, Bergoglio tomou esta explicação exegética do teólogo suíço Hans Urs Von Balthasar: este, a quem João Paulo II havia anunciado a nomeação a cardeal em 1988, morreu às vésperas de tal nomeação.
Mas as afirmações de Francisco não agradaram nem um pouco à irmã Virgínia Saldanha, teóloga, originária da Índia, que está entre as mais conhecidas de toda a Ásia.
Dois dias atrás, ela definiu essas palavras como "perturbadoras"; recordou ao pontífice que Jesus não instituiu nenhum “sacerdócio”, mas apenas “ministérios”, ou seja, “serviços” para a comunidade eclesial, abertos tanto a homens como a mulheres; e salientou que estas, e não os homens, deveriam dizer qual poderia ser o seu papel na Igreja.
Que uma freira teológica conteste uma declaração papal em alto e bom som teria sido impensável até alguns anos atrás; mas a liberdade de expressão agora é irreversível até mesmo na Igreja Romana onde, embora muitas mulheres se sintam representadas pelo pensamento de Bergoglio, muitas outras recusam uma procuração em branco a padres, bispos e papas.
Na Europa Central (particularmente na Alemanha, como foi visto no "Synodaler Weg", o Caminho Sinodal em andamento) cresce a cada dia o número de mulheres - assim como de homens - que discordam do magistério papal sobre a problemática dos ministérios; a questão continua sendo espinhosa e controversa. Uma mediação entre o "não" e os "sim" aos ministérios femininos talvez poderia ser encontrada na admissão da mulher como diácona? Uma hipótese que, até agora, Francisco nunca havia proposto.
Em meados de novembro, reunido com altos representantes da Cúria Romana, o presidente da Conferência Episcopal Alemã, Georg Bätzing, havia dito que, em sua opinião, a questão do ministério das mulheres é um dos problemas mais agudos que devem ser enfrentados para reformar a Igreja. Mas as palavras do papa à "America" parecem querer fechar de antemão um debate crucial que paira sobre o Sínodo de 2023.
Portanto, será muito difícil evitá-lo: será acalorado, e vai abalar o "status quo" do papado e de toda a Igreja Católica.
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A mulher-padre continua sendo um problema - Instituto Humanitas Unisinos - IHU