16 Novembro 2022
Esse domingo, 13, é o Dia Mundial dos Pobres. Os necessitados estiveram na primeira fila da missa do papa. Depois, o almoço para 1.300 pobres na Sala Paulo VI. O arcebispo Redaelli, presidente da Cáritas italiana, afirma que somos chamados a abrir espaço na nossa vida para quem sofre.
A reportagem é de Paolo Lambruschi, publicada em Avvenire, 13-11-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A missa que o Papa Francisco celebrou nesse domingo na basílica do Vaticano é o evento central do Dia Mundial dos Pobres. Em seguida, ocorreu o almoço na Sala Paulo VI, do qual participaram cerca de 1.300 pessoas.
Desde a segunda-feira passada, depois de dois anos de interrupção devido à pandemia, regressou à Praça de São Pedro a iniciativa do centro de saúde gratuito para quem não tem meios para ser examinado por médicos e especialistas. A unidade também garante a distribuição de remédios necessários para o tratamento de diversas doenças.
Os diferentes ambulatórios que equipam a estrutura oferecem consultas de medicina geral, eletrocardiogramas, exames de sangue, vacinas contra a gripe e testes de Covid. Também são possíveis testes para detectar vírus como HCV (hepatite C), HIV e tuberculose.
“A intuição do Papa Francisco de instituir o Dia Mundial dos Pobres está se enraizando cada vez mais na Igreja”, comentou o arcebispo Rino Fisichella, responsável pela organização do evento desde 2016.
O 6º Dia Mundial dos Pobres é uma saudável provocação, como diz o Papa Francisco, “para nos ajudar a refletir sobre o nosso estilo de vida e sobre as muitas pobrezas do momento presente”. Em cerca de 80 dioceses italianas, estavam previstas para esse domingo iniciativas de sensibilização organizadas pela Cáritas, que em nível nacional realizou uma minicampanha com o slogan “Na relação, a liberdade”.
Quem quiser participar da campanha pode baixar no site www.caritas.it e usar as fotos de capas para Facebook e Twitter com o lema da campanha e compartilhar os posts disponíveis nos canais sociais da Cáritas italiana.
Pedimos que o presidente do órgão pastoral da Conferência Episcopal Italiana e arcebispo de Gorizia, Carlo Roberto Maria Redaelli, nos ajudasse a entender o sentido da iniciativa.
“O dia desejado por Francisco está se tornando um hábito que deve ser bem interpretado. Por um lado, não devemos ficar indiferentes, pensando que é a mesma coisa se os pobres estão aí ou não: precisamente o fato de nos ‘acostumarmos’ e de algum modo nos resignarmos ao fato de que há pobres. Por outro, deve ser um dia que chame a atenção ‘sincera e generosa’ de todos, como pede o papa em sua mensagem ‘Jesus Cristo se fez pobre por vós’. Acredito que Francisco quer nos pedir que a proximidade com quem sofre, dando-lhe espaço, torne-se, sim, um verdadeiro hábito, um modo de ser das nossas comunidades. Não basta passar um momento com os últimos ou se exibir servindo-os à mesa, talvez. É preciso que, nas nossas comunidades, haja uma verdadeira acolhida. Devemos abrir espaço para os pobres nas nossas agendas, nos nossos hábitos, para fazê-los entender que eles são importantes na nossa cotidianidade.”
Não há um excesso de delegação à Caritas e a outros grupos de caridade nas nossas comunidades cristãs?
O verdadeiro risco é delegá-la a quem já se ocupa dela. Em sua mensagem, o papa cita o apóstolo Paulo que organiza uma grande coleta para os pobres em Jerusalém a pedido dos outros apóstolos, lembrando-nos da tarefa da comunidade. Diante dos pobres, não fazemos retórica, arregaçamos as mangas e colocamos a fé em prática, por meio do envolvimento direto de cada um à sua maneira, assumindo as nossas responsabilidades. É a caridade da porta ao lado. Por exemplo, diante de um vizinho idoso em dificuldade ou de uma pessoa necessitada encontrada na porta das nossas casas, o primeiro pensamento não deve ser o de chamar a Cáritas, mas de cuidar dela em primeira pessoa. A outra coisa importante é o empenho dos leigos nos grupos organizados a serviço dos pobres nas comunidades, promovendo o espírito de acolhida.
Durante a pandemia e a consequente pandemia social, a sociedade italiana foi atingida por um forte choque: muitas pessoas se inclinaram para o sofrimento alheio. O que restou desse espírito?
Somos uma realidade social que muitas vezes oferece respostas generosas sob o impulso emocional. Em sua mensagem, o Papa Francisco fala da pandemia social que estava prestes a ser superada, quando eclodiu a guerra na Ucrânia. Diversas comunidades responderam à emergência dos refugiados com a acolhida, mas em outras situações faltou a mesma disponibilidade. Em suma, a continuidade dessa atenção ao pobre não foi garantida. O olhar de caridade que tivemos durante a pandemia deve se ampliar internacionalmente dado o contexto da “terceira guerra mundial em pedaços”, de agravamento da pobreza global devido às consequências do conflito russo-ucraniano e às emergências climáticas. A Covid e a guerra na Ucrânia nos deixam uma importante lição que não deve ser deixada de lado: a fragilidade da nossa condição.
O que significa estar com os pobres?
Interrogar-se sobre as causas do empobrecimento, olhar para a realidade cotidiana com outros olhos. Penso na falta de trabalho e no trabalho precário, nos esforços muitas vezes insustentáveis das famílias para pagar suas contas. Todos esses problemas exigem ações concretas in loco em todos os níveis, desde o nível pessoal até o comunitário, o que inclui um forte convite à política. Mas o ponto de partida é a proximidade.
Como sensibilizar os jovens em particular?
Enfatizando os dois tipos de pobreza identificados pelo papa: aquela que mata, filha da injustiça, da exploração, da violência, da distribuição injusta dos recursos, imposta pela “cultura do descarte”. Os jovens, em particular, devem se engajar para mudar isso. Mas, com o espírito de amor da segunda pobreza, aquela que liberta, que leva a um estilo de vida diferente, à sobriedade, à atenção à criação, à partilha.
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“É preciso dizer não à indiferença aos últimos.” Entrevista com Carlo Roberto Redaelli - Instituto Humanitas Unisinos - IHU