27 Julho 2022
O recente documento de Roma é uma declaração de guerra ao projeto de reforma dos católicos alemães. A quem só resta retroceder ou ousar o conflito áspero, com consequências imprevisíveis.
A reportagem é de Matthias Drobinski, publicada por Publik-Forum, 22-07-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Vaticano dificilmente poderia ter dito mais duramente o que pensa do Caminho sinodal, o projeto de reforma dos bispos católicos e do povo da Igreja na Alemanha: nada, absolutamente nada. Tornou pública uma declaração anônima, sem nenhum contato prévio com os destinatários, com um tom de quem fala de cima: não façam nada que possa pôr em perigo a unidade da Igreja universal - e o que for, nós o decidimos. O estilo é semelhante ao de uma multa por excesso de velocidade em que o Estado mostra brevemente ao cidadão irregular os instrumentos de seu monopólio sobre o uso da força: é melhor você aceitar e pagar, caso contrário só lhe custará mais.
Pelo menos, o aviso de penalidade do estado se abstém de insinuações, ao contrário da declaração do Vaticano. Na realidade, o Caminho Sinodal Alemão não pretende obrigar os bispos ou outros crentes a seguir uma nova moral, como insinua o documento. Mas até pensar em possíveis mudanças já parece demais.
Aparentemente, o Vaticano não quer. Não quer que o povo da Igreja tenha voz na eleição dos bispos, não quer novas estruturas de liderança nas paróquias, não quer propostas que levem à ordenação de mulheres ou ao abandono do celibato, não quer debates sobre a homossexualidade ou sobre a encíclica da pílula anticoncepcional.
E, evidentemente, o Papa Francisco também não quer. A declaração que agora foi publicada não é uma gafe nem um subterfúgio solitário dos reacionários da Cúria para enganar astutamente o reformista Francisco. Está de acordo com a entrevista do papa que declarou que a Alemanha não precisa de uma segunda Igreja Protestante.
Está de acordo com a frase do Cardeal da Cúria Walter Kasper, segundo a qual o Caminho Sinodal Alemão quer colocar a razão, a filosofia e o pensamento histórico no mesmo plano do Evangelho. Está de acordo com a desagradável acusação do Cardeal de Viena Christoph Schönborn de que o Caminho Sinodal Alemão está explorando o escândalo dos abusos.
Georg Bätzing, presidente da Conferência Episcopal Alemã, não conseguiu despertar a compreensão para o Caminho Sinodal Alemão em Roma, muito menos ter o apoio, pelo menos, entre os reformadores da Cúria. Entre os dois catolicismos já não existe mais nem mesmo uma linguagem comum, um nível de comunicação: isso também ficou evidente pela declaração romana.
Pode ser também que a declaração pretenda tranquilizar os críticos fundamentais do Caminho Alemão, como para lhes dizer que a situação está sob controle em Roma. Mas o Caminho Sinodal Alemão, como projeto de reforma fundamental para a Igreja em decorrência dos abusos sexuais e seu acobertamento, está ameaçado de morte.
Em última análise, aos sinodais alemães restam apenas alternativas ruins para sua próxima reunião no início de setembro. Eles podem ignorar os vários avisos de Roma e tomar suas próprias decisões - teriam boas razões para fazê-lo. Mas isso comportaria um conflito aberto e sobre questões fundamentais com o papa e a cúria; para muitos bispos é inimaginável e para muitas paróquias seria uma prova difícil. Mas ceder só aumentaria a frustração e a resignação de grande parte do povo da Igreja. Quem ainda gostaria de pertencer a uma instituição que demonstra tão claramente sua incapacidade de se reformar?
A primeira tomada de posição de Bätzing e da copresidente Irme Stetter-Karp, presidente do Comitê Central dos Leigos Católicos Alemães (ZdK), soa tão irritada quanto combativa: afirmam considerar um dever "declarar claramente onde são necessárias mudanças do seu ponto de vista” e declaram que querem finalmente ser ouvidos em Roma.
Na realidade, porém, Bätzing está bastante isolado no momento. Imediatamente após a publicação da declaração romana, o bispo de Augusta, Bertram Maier declarou que considerava perfeita a advertência. O silêncio dos outros pastores é, contudo, ensurdecedor. Eles preferem se manter abaixo do radar. Ninguém se atreve a sair e dizer: em Roma não se veem as coisas da maneira certa. As perspectivas para o Caminho Sinodal Alemão são verdadeiramente sombrias
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A declaração do Vaticano. O Caminho Sinodal Alemão corre o risco de morrer - Instituto Humanitas Unisinos - IHU