13 Junho 2022
Em 11 de maio passado, alguns jornais chilenos recordaram o quarto aniversário da inusitada – quase incrível, mas certamente inédita na história da Igreja – renúncia coletiva de 34 bispos chilenos reunidos no Vaticano a pedido do Papa Francisco.
A reportagem é de Il Sismografo, 10-06-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O pontífice havia visitado o Chile (de 15 a 18 de janeiro de 2018) e logo em seguida o Peru (de 18 a 21 de janeiro). Essa peregrinação teve uma grande repercussão internacional, uma das mais importantes entre todas as viagens do Santo Padre. No entanto, as coisas não correram bem para Francisco, como muitos previram, pois a Igreja chilena há vários anos estava em queda livre do ponto de vista da credibilidade, autoridade e prestígio devido à chocante gestão por parte de quase a totalidade dos bispos de dezenas e dezenas de denúncias de graves abusos sexuais de membros do clero, especialmente no caso do então padre Fernando Karadima, poderoso guia espiritual de jovens, protegido por cardeais e bispos que o consideravam e o definiam como um verdadeiro “santo”.
Esse Karadima, já falecido, expulso da ordem sacerdotal, era – diz-se – um grande descobridor de vocações para o sacerdócio, e quatro desses presbíteros depois se tornariam bispos. Eram conhecidos como “os bispos de Karadima”. Entre eles, o mais tristemente famoso é Juan Barros, hoje aposentado.
Por outro lado, quem deveria ter preparado bem a visita e o próprio papa, os dois cardeais chilenos da época, Errázuriz e Ezzati, incluindo o núncio do momento (hoje em Portugal), Dom Ivo Scapolo, parece que contaram ao papa sobre uma “Igreja inexistente”, não real e não verdadeira.
O Papa Francisco abordou a questão da renúncia coletiva dos bispos chilenos com calma e analisando caso a caso. Em 18 de junho de 2018, aceitou as três primeiras renúncias e depois outras, gradualmente, em muitos casos, esperou a aposentadoria do bispo (75 anos). Portanto, a parcial e limitada renovação do episcopado chileno nesses quatro anos foi tratada com timidez (diz-se “com prudência”), discretamente, com lentidão e sem reviravoltas de nenhum tipo.
É por isso que hoje, em 2022, a opinião generalizada no país é peremptória: não mudou nada, como se temia antes da chegada do papa. Sua visita não foi o início de uma mudança real e radical, e a hierarquia local permaneceu substancialmente a mesma que a das últimas décadas, ou seja, semelhante àquela que começou a se configurar com a chegada do novo núncio, o então arcebispo Angelo Sodano, cardeal ex-secretário de Estado, falecido em 27 de maio passado.
O caso chileno, visto à distância de quatro anos, aparece como dirimente no pontificado do Papa Francisco. Aqueles fatos e aqueles dias, para o povo chileno e também para outros da América Latina, parecem ser uma sucessão fulminante de circunstâncias em que – de forma confusa – se rompeu um feitiço, uma esperança, quase um sonho. O pontífice não voltou mais à América Latina, exceto por alguns dias no Panamá, onde estava prevista há anos a Jornada Mundial da Juventude (23 a 27 de janeiro de 2019).
Para os chilenos e para a Igreja no Chile, esse aniversário infelizmente não muda as perspectivas. Tudo permanece estagnado à espera não se sabe de quê.
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Abusos sexuais: quatro anos da renúncia de um episcopado inteiro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU