08 Junho 2022
Em nota pública, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) cobra agilidade nas buscas pelos desaparecidos e denuncia o desmonte das políticas e órgãos públicos de proteção aos territórios indígenas e povos isolados.
A nota foi publicada por Conselho Indigenista Missionário (Cimi), 07-06-2022.
Eis a nota.
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) manifesta imensa preocupação com o desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, correspondente do Jornal The Guardian, no Vale do Javari, estado do Amazonas, no último domingo, 5 de junho, após sofrerem ameaças de morte de invasores da Terra Indígena (TI) Vale do Javari.
Ambos se deslocaram até a equipe de Vigilância Indígena, localizada perto do “Lago do Jaburu”, próximo também à Base de Vigilância da Fundação Nacional do Índio (Funai), no rio Ituí, onde o jornalista iria realizar algumas entrevistas com os indígenas.
Até o momento, três dias após o desaparecimento do servidor da Funai e do jornalista britânico, as buscas para encontrá-los, organizadas pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) e por órgãos públicos, não tiveram resultados, trazendo muita apreensão e temor sobre o que possa ter acontecido.
As organizações indígenas da região vêm denunciando sistematicamente as invasões na TI Vale do Javari, localizada na fronteira com o Peru, por garimpeiros, madeireiros, narcotraficantes, pescadores e caçadores, que se sentem respaldados e empoderados diante da negligência e do permanente ataque aos direitos indígenas por parte do governo federal.
É particularmente grave que essas invasões ocorram na terra indígena onde existe a maior concentração de povos isolados, ou em isolamento voluntário no mundo. O que ocorre no Vale do Javari está intrinsecamente relacionado ao desmonte das políticas e órgãos públicos de proteção aos povos originários e aos seus territórios – acompanhado do enfraquecimento das Bases de Proteção Etnoambientais da Funai, responsáveis pela fiscalização da área, que atualmente se encontram sem a capacidade operacional mínima para desempenhar o seu papel.
Manifestamos nossa solidariedade às famílias, amigos e colegas de trabalho de Bruno Pereira e Dom Phillips e aos povos indígenas do Vale do Javari, sistematicamente e constantemente ameaçados dentro de suas terras. Ao mesmo tempo, seguiremos acompanhando o caso junto às organizações indígenas e indígenas locais.
Há algumas semanas, @domphillips esteve na Aldeia Apiwtxa, conversando e ouvindo a história do povo Ashaninka para seu novo livro. Externamos aqui nossa profunda preocupação com o seu desaparecimento, junto com o indigenista Bruno Araújo, pedimos total celeridade nas buscas! pic.twitter.com/wto0QOAKKZ
— Ashaninka Apiwtxa (@apiwtxa) June 7, 2022
Nós, do Conselho Indigenista Missionário, reforçamos a necessidade das medidas descritas na Ação Civil Pública impetrada pela Defensoria Pública da União (DPU) e pela organização Univaja, no que diz respeito à ampliar as equipes de buscas e o número de barcos, bem como a viabilização do uso de helicópteros para que as buscas incluam sobrevoos na área. Ao mesmo tempo que exigimos das autoridades locais e nacionais celeridade e transparência, adotando de forma urgente todas as medidas cabíveis na busca pelos desaparecidos. Neste momento, a agilidade nas buscas pode significar a vida daqueles que se dedicam à defesa dos povos indígenas no Vale do Javari.
Brasília, 07 de junho de 2022.
Conselho Indigenista Missionário – Cimi
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Desaparecimento de Bruno Pereira e Dom Phillips evidencia o desmonte da política indigenista durante o governo Bolsonaro, afirma Cimi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU