26 Abril 2022
A reunião de Francisco com o recentemente reeleito primeiro-ministro húngaro.
A reportagem é de Loup Besmond de Senneville, publicada por La Croix, 25-04-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Esse era um encontro que ocorreria na biblioteca papal privada no coração do Palácio Apostólico. Como seus predecessores, isso é onde o Papa Francisco realiza audiências diárias com bispos e outros notáveis que estão passando por Roma.
E nessa quinta-feira, 21 de abril, em particular, a visita do papa era Viktor Orbán.
Menos de três semanas após ser facilmente reeleito para seu terceiro mandato consecutivo como primeiro-ministro da Húngria, o líder nacionalista de 58 anos fez do Vaticano e da Itália o destino da sua primeira viagem internacional após a vitória eleitoral.
Seu encontro com o papa foi cuidadosamente vigiado devido à relação de proximidade que a Húngria tem cultivado com a Rússia, a qual permanece em contraste marcado à vasta maioria dos membros da União Europeia que tem dado forte apoio à Ucrânia.
Como essas reuniões privadas entre o papa e os líderes políticos são ditadas por protocolo, poucos detalhes emergiram sobre o conteúdo da conversa de 40 minutos entre eles.
No entanto, o Vatican Media filmou algumas partes do encontro, incluindo a tradicional troca de presentes.
Entre os itens que Francisco deu a Orbán estava uma medalha de São Martinho de Tours, o bispo do século IV que nascei em Pannonia, onde hoje é a Húngria.
Há uma história famosa de como Martinho, como um soldado da armada romana, pôs-se a ajudar um mendigo no inverno do ano 334.
“Eu escolhi isso para você porque diz ‘São Martinho, o húngaro’”, disse Francisco, apresentando a medalha para Orbán.
“Eu estava pensando em vocês húngaros que receberam todos esses refugiados durante esse tempo”, disse o papa, em alusão aos muitos ucranianos que fugiram da guerra e foram aceitos pela Húngria nos últimos dois meses.
Ele apontou que a medalha retrata São Martinho dando sua capa de soldado ao mendigo.
Mas o primeiro-ministro húngaro respondeu imediatamente, “não esqueça que ele deu apenas a metade da capa”.
Devemos ver isso como emblemático da conhecida relutância de Orbán em acolher refugiados? Ou foi sua maneira de dizer que acolher os ucranianos é apenas uma coisa temporária?
As fotos e filmagens não dizem.
Tampouco nos dizem como Francisco respondeu.
O papa estava tentando dizer ao líder húngaro que o soldado Martinho deu apenas metade de sua capa ao pobre, não por avareza, mas porque metade de seus bens pertencia à cavalaria?
O que significaria que, naquela noite, Martinho deu tudo o que tinha.
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Viktor Orbán, o Papa Francisco e a capa de São Martinho de Tours - Instituto Humanitas Unisinos - IHU