24 Março 2022
O padre jesuíta James Martin publicou um artigo na revista America (traduzido para o português pelo IHU) criticando o uso seletivo do ditado “odiar o pecado, amar o pecador” para a população LGBTQIA+.
O comentário é de Grace Doerfler, publicado por New Ways Ministry, 23-03-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
James Martin, muito conhecido por sua defesa da população LGBTQIA+ na Igreja, detalhou o significado e uso dessa frase comum; desafiando seus leitores a pensarem mais profundamente sobre quando e por que o ditado é usado.
James Martin (Foto: Editeurcoreen | Wikimedia Commons)
Ele explicou que, de certa forma, “Odiar o pecado, amar o pecador”, faz sentido – se encaixa com os chamados cristãos tanto para amar a todos quanto para evitar o pecado. Também “promove uma demarcação saudável entre a pessoa e o ato”, como disse Martin. Ele deu o exemplo da irmã Helen Prejean, que ministra a pessoas encarceradas no corredor da morte e que diz: “Uma pessoa é mais do que a pior coisa que já fez”.
Mas você pode realmente odiar o pecado e amar o pecador? Talvez não, como Martin desmontou.
“O problema com esse ditado aparentemente compassivo é que hoje ele é aplicado quase exclusivamente a um grupo: as pessoas LGBTQIA+”, escreveu Martin. “O pensamento é que podemos amar as pessoas LGBTQIA+ desde que condenemos suas ações – incluindo relações entre pessoas do mesmo sexo e casamento entre pessoas do mesmo sexo – e as rotulemos como ‘pecadoras’”.
Martin apontou que, essencialmente, “o ditado é usado como arma contra a população LGBTQIA+, porque a reduz efetivamente a ‘pecadores’, em primeiro lugar”. Esta é uma percepção importante. Embora todos nós sejamos pecadores de alguma forma, Martin disse que é cruel ver as pessoas LGBTQIA+ apenas dessa maneira. “Não há outro grupo ao qual esse termo seja aplicado com tanta regularidade, tão reflexivamente, tão implacavelmente”, escreveu ele.
Ele argumentou que muitas outras pessoas não estão em conformidade com os ensinamentos da Igreja, como estudantes universitários sexualmente ativos ou casais que usam contracepção, mas nenhum outro grupo é tão rapidamente descartado como um grupo de “pecadores”.
“Então, sobre quem essa afirmação é mais usada?”, perguntou Martin. “Quem é mais regularmente rotulado de ‘pecador’ em um mundo de imoralidade de todos os tipos – ganância, crueldade, mentira, egoísmo, racismo, belicismo, insensibilidade para com os pobres e assim por diante? As pessoas LGBTQIA+”.
Martin disse não apenas que o ditado é aplicado de forma desigual, mas também que a natureza do ataque contra pessoas LGBTQIA+ é particularmente prejudicial, porque “o ‘pecado’ em que as pessoas se concentram é a maneira como [as pessoas LGBTQ] se amam”.
Ele citou o psicólogo jesuíta William A. Barry, que disse que condenar a forma como as pessoas amam como um “pecado” é profundamente prejudicial. “A maneira como amamos influencia quase todos os aspectos de nossas vidas emocionais, mentais e espirituais”, escreveu Martin. “Dizer ‘seu amor é um pecado’ é um ataque a parte do eu mais profundo de uma pessoa. Nós somos uma mistura de mente, corpo e coração. Dizer ‘seu amor é um pecado’ atinge cada parte da pessoa humana”.
O artigo do padre Martin pede aos leitores que parem e pensem sobre as maneiras pelas quais a linguagem familiar pode ser profundamente prejudicial para os outros. Ele convida a igreja a considerar as pessoas LGBTQIA+ de maneiras mais expansivas e amorosas do que as reduzir a “pecadoras”. Sua defesa para que os católicos tratem as pessoas LGBTQIA+ com maior compaixão continua a moldar a Igreja para melhor.
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O jesuíta James Martin critica o uso seletivo de “odiar o pecado, amar o pecador” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU