Tradicionalistas pós-modernos

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12 Fevereiro 2022

 

Os “tradicionalistas” são modernistas. Ou, melhor, plenamente pós-modernos: uma condição marcada pela superação das grandes narrativas e pelo próprio consenso sobre a existência de uma cultura.

O comentário é de Iacopo Scaramuzzi, vaticanista italiano, em artigo publicado na revista Jesus, de fevereiro de 2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

 

Eis o texto.

 

A liturgia, como se sabe, desperta sentimentos veementes, senso de pertencimento, ciúmes. Experiência totalizante, espiritual e física ao mesmo tempo, ela toca as cordas da identidade, a tal ponto que alguns a perceberem como uma dimensão inegociável.

“Sabe qual é a diferença entre um liturgista e um terrorista?”, perguntou há algum tempo o primaz anglicano Justin Welby ao Papa Francisco: “Você pode negociar com o terrorista...”. Bergoglio riu com gosto, sabendo o quanto a piada era verdadeira.

Reverter a decisão de Bento XVI de liberalizar o missal antigo trouxe a ele algumas das críticas mais ferozes ao seu pontificado. Não é de se admirar que, em tempos de mudanças epocais, haja quem olhe para o passado agarrando-se a ele como um náufrago aos destroços de um navio, que em um mundo desestruturado a identidade monolítica seja uma miragem.

No entanto, o paradoxo intrínseco chama a atenção. Porque os “tradicionalistas” irados com a Traditionis custodes sustentam que defendem a tradição, precisamente, mas contestando um papa e um Concílio, como subversivos quaisquer.

Eles avaliam a própria consciência como superior à norma, como qualquer anarquista individualista. Eles promovem uma cultura da identidade que não tem nada a invejar aos estudiosos dos estudos culturais das universidades estadunidenses mais liberais.

São, em suma, modernistas. Ou, melhor, plenamente pós-modernos: uma condição marcada pela superação das grandes narrativas e pelo próprio consenso sobre a existência de uma cultura.

É típico das sociedades secularizadas, nas quais até a religião, como bem observou o islamólogo Olivier Roy, é “desculturada”, um conteúdo prêt-à-porter descontextualizado e incandescente a ser usado em um mosaico que não tem mais um desenho unívoco. Em que a Tradição, com T maiúsculo, obviamente, é um dos retalhos do patchwork.

 

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