Impulso feminino no neofascismo cristão de Bolsonaro: quatro cenas recentes de início do ano eleitoral. Artigo de Fábio Py

"O cristofascismo brasileiro é um neofascismo que usa prioritariamente a linguagem cristã do deus bélico e despótico tão importante para as grandes agências fundamentalistas americanas", adverte o teólogo

Carla Zambeli, Regina Duarte, Michelle Bolsonaro (Fotos: Wikimedia Commons) e Damares Alves (Foto: Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos)

21 Fevereiro 2022

 

"O ano de 2022 só começou e com ele vem brotando um novo signo das disputas religiosas-políticas para as eleições", diz o teólogo Fábio Py, no artigo a seguir, enviado ao Instituto Humanitas Unisinos - IHU.

 

Segundo ele, além do projeto político do presidente Bolsonaro estar ligado "às Grandes Corporações Cristãs afinadas com o fundamentalismo e o conservadorismo", "vozes femininas" têm ganhado destaque no projeto "para aprofundar a razão maniqueísta do governo: bem x mal, deus x diabo, conservadores x esquerda".

 

A seguir, Py também reflete sobre o neofascismo, que tem "desprezo pelas instâncias coletivas como a saúde pública e educação, porque está conectado à lógica do mercado e ao aprofundamento neoliberal. Contudo, segue sendo uma fábrica de ódio às minorias, aos diferentes". Para ele, a associação entre política e religião na gestão Bolsonaro criou um projeto político que "irradia uma teologia do poder autoritário no qual simplifica a vida em prol de argumentos teológicos-moralistas para justificar o desprezo aos pobres e a opção das suas mortes via estado". E acrescenta: "O cristofascista une a moral cristã racista e a discussão econômica ultraliberal de dissolução do estado".

 

Fábio Py, doutor em teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-Rio e professor do Programa de Pós-Graduação em Políticas Sociais da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – UENF. Py é autor de Pandemia cristofascista (São Paulo: Editora Recriar, 2020). O livro online está disponível aqui.

 

 

Fábio Py (Foto: Arquivo pessoal)

 

Eis o artigo.

 

Desde o fim de 2021 se nota uma nova retomada na linguagem político-religiosa de Bolsonaro, apresentando novos elementos como as vozes femininas, que buscam reconectar com o universo religioso impulsionando suas campanhas eleitorais para as eleições do fim de 2022. Já nesse período se vê uma nova fase da investida religiosa de Bolsonaro com a participação nos cultos na Assembleia de Deus (ministério Belém), Igreja Batista, Igreja Presbiteriana do Brasil etc. na promoção de orações, unções e bênçãos, tal como solapou sua campanha em 2018. Esse trabalho, junto ao Programa Auxílio Brasil (substituto do Bolsa Família), vem permitindo o empate técnico com Lula nas primeiras pesquisas eleitores de 2022 no público evangélico (disponível aqui).

 

Assim, no artigo se destaca a forma prioritária da comunicação a partir das mulheres promovida pela cúpula neofascista de Bolsonaro a partir do uso da linguagem cristã nos materiais midiáticos mais difundidos entre o fim de 2021 e o início de 2022. Pelo impacto das cenas digitais, separam-se duas cenas do perfil oficial de Bolsonaro e duas de apoiadoras do presidente (uma da deputada e apoiadora Carla Zambelli e a sua ex-ministra Regina Duarte). Contudo, antes de tratar delas, retoma-se a discussão do cristofascismo brasileiro a partir do neofascismo.

 

1. Cristofascismo, um dos filhos do neofascismo

 

O cristofascismo brasileiro é uma modulação do que Frederico Finchelstein (2019) e Michael Löwy (2020) vão chamar de uma nova versão do fascismo, ou melhor, um neofascismo. É um neofascismo que usa prioritariamente a linguagem cristã do deus bélico e despótico tão importante para as grandes agências fundamentalistas americanas. Para os autores, o neofascismo, ao contrário do fascismo clássico, não dissolve o parlamento; seus mandatários chegam ao poder pela via eleitoral e administram uma pluralidade partidária. Logo, não tem a mesma tônica dos fascismos da primeira metade do século XX, porque não existe “clima mundial” para governos explicitamente totalitários.

 

 

Se o fascismo se relacionava com a fortificação do Estado, o neofascismo, para Finchelstein, inverte essa lógica traçando um desprezo pelas instâncias coletivas como a saúde pública e a educação, porque está conectado à lógica do mercado e ao aprofundamento neoliberal. Contudo, segue sendo uma fábrica de ódio às minorias, aos diferentes.

 

Bolsonaro, em sua hegemonia, tem uma especificidade no espectro do neofascismo: ele usa termos, cenas, versículos, orações, textos, exegeses que normatizam uma ética cristã fundamentalista de base, mas das agências neoimperialistas americanas. Dessa forma, aprofunda a reprodução neoliberal, promovendo guerra cultural contra seus adversários. Outro detalhe: no caminho dos discursos dos agentes do Estado bolsonarista, a tônica liberdade versus Estado é algo que se encontra presente historicamente nas tendências fascistas do século passado, como escreve Finchelstein. Por exemplo, para o argentino, o próprio estado de Mussolini utilizou as inteligências pedagógicas autonomistas para educação de suas elites, bem como o nazismo explorou as primeiras escolas ecoeducacionais (anarquistas, pouco preocupadas com a política oficial) para educação de suas elites.

 

 

Portanto, as elites do estado cristofascista primam pela educação, pela liberdade individual; contudo, as garantias não são as mesmas nos setores populares. Eles sofrem com a precarização da educação, com a caça policial, ou com o “deixar morrer”, como foi observado na trágica entrega biológica à morte com a Covid e outras doenças. Como se disse, fazem isso a partir dos símbolos/afetos da plataforma do cristianismo hegemônico e, a partir dele, se arquiteta uma nova modulação das lutas de classes do estado capitalista. O qual se firma nas perseguições aos setores LGBTQI+, no sufocamento dos funcionários públicos, na batalha contra a liberdade de imprensa, nas ameaças a órgãos de justiça, no desprezo das contagens dos infectados, na luta pela desinformação, nos óbitos da Covid-19, na desestima pela ciência brasileira e na implosão da classe professoral.

 

Como se está tratando do tronco dos fascismos, é importante resgatar um intelectual que lutou contra ele: Antônio Gramsci. Ele travou uma luta política na Itália contra Mussolini. Gramsci pontua que fascismos são modulações “extremas das lutas de classes, em nome das direções capitalistas (...) que tracionam um leque de inteligências em prol hegemonia capitalista” (2001, p. 212). Sobre as correntes dos fascismos, escreve que “caracteristicamente operam a violência junto aos estados (...) nas quais defendem a liberdade da classe dirigente” (p. 325). Isto é, que desde a Itália fascista as classes dirigentes estavam envolvidas na narrativa da liberdade.

 

Portanto, afirma-se a partir de Gramsci e de Finchelstein que a cúpula de Bolsonaro se sustenta traçando a questão da liberdade individual contra a intervenção do estado. Logo, se observam posturas como a campanha contra a vacinação em massa, contra a educação pública, ou a questão da adesão ao lockdown. O projeto político da gestão de Bolsonaro irradia uma teologia do poder autoritário no qual simplifica a vida em prol de argumentos teológicos-moralistas para justificar o desprezo aos pobres e a opção das suas mortes via estado. Assim, após essa pontuação sobre o cristofascismo (a partir do neofascismo), passa-se à análise das quatro postagens-chaves da cúpula do governo Bolsonaro que mais tiveram impacto nas redes.

 

 

2. Bem x mal: Lula - comunista e adorador do Diabo

 

Após um início de 2021 com muitas mortes de Covid-19, a vacinação levou à diminuição dos óbitos. Nesse momento, reverberaram pesquisas eleitorais de intenção de votos para 2022. Diante do discurso triunfal de Lula, logo após sua soltura, ele despontou como candidato na liderança das pesquisas. Lula, que já foi presidente, é um político ligado às lutas populares, com partido de cor vermelha – o PT. Nas narrativas religiosas, ele é lembrado como adepto das religiões de terreiro, logo, diante do raciocínio fundamentalista, ele é “do diabo”. Pela divulgação da pesquisa de intenção de votos, a deputada bolsonarista Carla Zambelli tuitou: “a luta do bem contra o mal nunca ficou tão evidente”, assim:

 

 

A Guerra dos Deuses da postagem (de uma representante do estado brasileiro) coloca Lula à esquerda, junto ao diabo e o símbolo do comunismo. O que remete à ideia conspiratória de uma “teologia acusatória do marxismo cultural”, a qual une o diabo ao marxismo. No lado direito, Bolsonaro aparece andando ao lado de Jesus, com a bandeira do Brasil, seguido por brasileiros, pais de famílias, patriotas. A cena digital divide bem x mal, vermelhos x patriotas, e deixa o apelo: “escolha o seu lado”. A deputada sintoniza o tom das mensagens evangelísticas das igrejas. O meme mais parece ser um apelo de um missionário pregando no domingo à noite: “escolha seguir a Jesus”. Assim, após as pesquisas eleitorais apontarem Lula em primeiro lugar, se pulveriza uma cena digital a qual posiciona Lula como alguém diabólico/comunista e Bolsonaro patriota/com Jesus do lado e com “pessoas de bem”. Acusa-se Lula e “vermelhos” de serem do diabo e se assume a ideia de que a salvação vem com Bolsonaro - político que caminha ao lado de Jesus.

 

 

3. Pronunciamento à nação de 2021: economia, paz e mortes nos campos

 

Na virada do ano, no dia 31 de dezembro, Bolsonaro discursou às mídias. Com tom eleitoral, afirmou que 2022 será o ano do bicentenário da independência do Brasil. O que é uma data importante para os governos autoritários brasileiros (Vargas e a Ditadura), os quais exploraram essas datas na tecedura de um ideal de nação a reboque das comemorações militares. Agora, nem mesmo os generais da Ditadura iniciaram um discurso oficial dessa forma: “Quis Deus que eu ocupasse a presidência em 2019”.

 

Bolsonaro milimetricamente coloca sob a assinatura do divino ter assumido a presidência na data do bicentenário, bem como ser a salvação diante dos governos anteriores, “símbolo da devassidão moral e da irresponsabilidade econômica”. Tal como se escreveu, o cristofascista une a moral cristã racista e a discussão econômica ultraliberal de dissolução do estado. Além disso, transforma seu discurso oficial numa teologia política evocando “Deus quis que ocupasse”. Na sequência, segue dizendo os feitos dos anos de governo: “lei da liberdade econômica”, da “pacificação no campo" e "flexibilização da arma de fogo”. Tal como se indicou sobre o neofascismo, a lógica economicista justifica o ímpeto da guerra cultural dos deuses. Logo, o que nomeia de “paz do campo” é sim parte dos mecanismos de permissão aos latifundiários do agronegócio, que com o governo acumulam mais armas para caçar trabalhadores rurais.

 

 

No fim do discurso, Bolsonaro volta à ladainha do divino: “Hoje temos um governo que acredita em Deus, que respeita seus militares, defende a família e deve lealdade ao seu povo”. Nele, sinaliza sua concepção do divino: um deus bélico, ligado à defesa dos militares e das famílias (aristocráticas) brasileiras. Ao mesmo tempo, silencia ante os demais setores da sociedade, o que mostra seu desprezo pelas diferentes formações familiares e seu horror generalizado às esquerdas. Bolsonaro, como neofascista, usa o discurso divino em prol da guerra aos pobres mediante a fala da liberdade econômica ultraliberal para permitir a eugenia para o benefício dos empresários e latifundiários.

 

4. Jesus, Bolsonaro e a facada de 2018 atualizada para 2022

 

No início de 2022, Bolsonaro volta a ser internado por complicações por conta da facada sofrida em 2018. Logo, os pastores apoiadores (como Silas Malafaia e Josué Valandro Jr.) convocam campanhas de oração nas igrejas “pela saúde do presidente”. A volta da comoção para recuperação, com direito a fotos no hospital e discursos de que tinha medo de morrer (tal como falou em 2018). Após três dias ele recebe alta. Com sua saída, sua ex-ministra e apoiadora, Regina Duarte, posta nas redes sociais Bolsonaro caminhando com roupas de hospital assim:

 

Foto: Reprodução Instagram

 

Regina Duarte compartilha a cena apelativa, onde Bolsonaro aparece caminhando no hospital, de mãos dadas com Jesus. Cristo também carrega uma criança nas costas, e uma luz vem do alto guiando Bolsonaro. O tom da cena digital postada por Regina Duarte é de um milagre, de Jesus-Deus carregando Bolsonaro. A cena reforça Bolsonaro como canal de Deus - alguém guiado por ele para o público cristão. Regina realça imageticamente o cristofascista como escolhido por Deus para o cargo, que ele é próximo a Jesus, e até como ele que vence a via dolorosa. O apelo da cena postada por uma mulher, apoiadora e ex-ministra, é o indicativo de que ele passa pela tribulação, pois é íntimo de Deus e foi dado a missão de governar a nação. Agora, como se vem dizendo no artigo, as mulheres vêm ganhando destaque no projeto político de Bolsonaro na promoção das cenas religiosas.

 

5. Michelle: primeira-dama e mobilizadora da teologia do domínio raiz

 

Na primeira imagem, que colocou Bolsonaro como cristão e patriota, versus Lula, é símbolo da luta dos deuses, de Deus versus o diabo (postada por Carla Zambelli). A segunda cena foi do discurso para a nação tratando da liberdade econômica e a paz nas roças mediante as armas. A terceira cena é de Bolsonaro caminhando ao lado de Jesus, se recuperando (postada por Regina Duarte). Agora, passa-se à cena que teve milhares de replicações nas redes religiosas. Ora, se Bolsonaro se veste como cristão símbolo do Brasil, faltava uma ida à igreja. Assim, logo após sua saída do hospital, foi agradecer a “cura” na celebração da Igreja Sara Nossa Terra em Vicente Pires, no Distrito Federal, no dia sete de janeiro. Além de Michelle, esteve presente seu ministro Onyx Lorenzoni, realçando os tons políticos da celebração.

 

 

O culto foi celebrado pelo bispo Robson Rodovalho, líder da igreja, em prol do tema do ano da igreja: “O profético ano do resgatador”. Nele, o discurso de Bolsonaro foi curto. Afinal, ele tem pouca habilidade na linguagem religiosa de improviso. Bolsonaro disse: "Quero agradecer a Deus pela minha vida e pela missão, e a vocês pelas orações e pela fé. Se Deus quiser, os momentos difíceis logo ficarão para trás. Vivemos numa grande nação, com um povo maravilhoso. Acreditamos no nosso Brasil e sempre Deus acima de tudo, e o Brasil acima de todos. Muito obrigado”. Claro, lembrou do momento que levou à internação e a missão que foi dada por Deus de levar a nação. No púlpito, elogia o país e o nosso povo, além de agradecer por Deus o ter separado para ser presidente e termina entoando o jargão “Brasil acima de todos”, da campanha de 2018.

 

Bolsonaro recitou seu monólogo habitual. No entanto, surpreendente foi a fala de Michelle Bolsonaro, que é evangélica e participa de ministérios nas igrejas. Ela vem ganhando mais destaque nas ações da cúpula bolsonarista. No fim do ano, falou com Bolsonaro no vídeo para a nação, dando mostras de um capital matrimonial cristão modelo. Embora tenha hesitado em falar, quando falou, ficou à vontade agradecendo aos intercessores da igreja e do “mundo” que oram por eles. E, diferente das falas presidenciais e até de alguns pastores apoiadores, ela traçou explicitamente a teologia do domínio assim: “declaramos todos os dias que esse Brasil é do nosso Senhor Jesus. ‘Feliz é a nação cujo deus é o Senhor’. O Senhor é o deus da nossa nação”.

 

Foto: Palácio do Planalto | Flickr CC

 

 

A teologia do domínio da primeira dama se explicita nas frases: “Brasil é do senhor Jesus”. Ela explora uma série de jargões da teologia, típicas de seu construtor Peter Wagner (2009). Ele, que pregava a cristianização do mundo pela via dos governantes, chamando a isso de “mandato cultural”. Wagner deu tons territoriais à teologia apologética quando insistia que existe uma luta nacional de “demônios e potestades que possuem o domínio de territórios, sendo necessário que esse poder seja quebrado para que as bênçãos sejam liberadas” (2009, p. 89). Michelle utilizou um versículo importante do pensamento de Wagner: “Feliz a nação cujo deus é o Senhor” (Salmo 33, 12). Um salmo de louvor a Deus acionado para destacar que todos devem se render a Ele e aos líderes convertidos.

 

Se não bastasse isso, Michelle seguiu pedindo a Deus "que haja unidade”. Com apoio do esposo, inspirada na leitura do truculento salmo, a primeira-dama enfatiza a “unidade”. Ora, governos que gritam unidade se interessam pelo silêncio dos inimigos. E, pela teologia latino-americana, se sabe que os apelos à unidade são parte das pautas dos impérios. O que Michelle conecta com o versículo do Novo Testamento (de Mateus 18, 18 - outro versículo utilizado por Wagner) - que diz “que seja ligado na terra, seja ligado no céu”. Tanto Wagner como Michelle tratam disso para conectar coisas terrenas aos territórios dos céus. A teologia de Wagner busca ligar os céus e terra, no sentido da unidade do governo mediante a expulsão dos diabos, ou seja, os inimigos, os descontentes. Assim, ela termina dizendo: “Deus está no controle de todas as coisas (...) que abençoe a casa de cada um de vocês”.

 

Nova investida bolsonarista no discurso para eleições de 2022...

 

Portanto, Michelle, ao fazer uso explícito da teologia do domínio, amplifica o que Bolsonaro faz de forma displicente. Ela destaca um conjunto de versículos bíblicos que dão força simbólica para essa teologia autoritária no desenvolvimento do “governo cristão”. A fala de Michelle dá mais força à Guerra dos Deuses da gestão Bolsonaro; talvez, por isso, venha ganhando espaço com falas, orações, glossolalias e postagens na composição do governo. Logo, esse já é um desenho diferente de 2018 a 2020, quando Bolsonaro era o messias e tinha a palavra. Agora, ele se cerca com um conjunto de vozes femininas que proclamam a unidade, formando inclusive um parâmetro de família cristã junto a Michelle.

 

 

Portanto, para as eleições de 2022, se desenha uma nova configuração religião-política para a candidatura cristofascista. Como é notória a inabilidade de Bolsonaro com os temas religiosos e sua perda do público cristão, vem se buscando a alternativa de ser impulsionado pelos perfis femininos mais ligados ao cristianismo, como sua ministra Damares Alves, com Carla Zambelli, e principalmente por sua esposa - portadora de uma inteligência evangélica. Como na ida à Igreja Sara Nossa Terra, Michelle, com sua voz mansa, coloriu com mais tonos secos o discurso do projeto cristofascista de caça à esquerda, aos sistemas de comunicação, aos movimentos indígenas, movimentos negros, feministas e os cientistas – tudo em nome do apelo à unidade. As quatro cenas destacadas foram as mais compartilhadas recentemente nas mídias conservadoras, sendo um demonstrativo dos ajustes eleitorais que estão sendo feitos no neofascismo cristão de Bolsonaro, sendo que dessa vez com mais apelo feminino com a força das narrativas religiosas de Michelle. Como já se disse nas redes sociais, ela vem assumindo uma posição de “primeira-dama de oração”.

 

 

Assim, mesmo o projeto político de Bolsonaro seguindo ligado às Grandes Corporações Cristãs afinadas com o fundamentalismo e o conservadorismo, inteligentemente se vem destacando a importância das vozes femininas para aprofundar a razão maniqueísta do governo: bem x mal, deus x diabo, conservadores x esquerda. Mais uma arma, um novo impulso no projeto neofascista de desprezo aos pobres, minorias sociais e LGBTQI+ em prol de uma nação triunfante cristã fundamentalista salva recorrentemente pelo messias cristão Bolsonaro. Nesse sentido, a cúpula de Bolsonaro vem construindo inteligentemente uma nova versão de sua teologia do poder autoritário pela via da nova guerra dos deuses ratificando bem x mal, a economia ultraliberal, o armamentismo contra os povos dos campos e das favelas, alinhando uma teologia do domínio explícita para sensibilizar um país que cada vez mais se torna evangélico, midiático e maternal. O ano de 2022 só começou e com ele vem brotando um novo signo das disputas religiosas-políticas para as eleições.

 

Bibliografia

 

FINCHELSTEIN, F. Do fascismo ao populismo na história. São Paulo: Almedia, 2019.

GRAMSCI, A. Quaderni del carcere: edizione critica dell’Istituto Gramsci. A cura di Valentino Gerratana (vol. 4). Turim, Itália: Giulio Einaudi, 2001.

LÖWY, M. Dois anos de desgoverno – a ascensão do neofascismo. IHU, 2020. Disponível aqui.

PY, Fábio. Pandemia cristofascista. São Paulo: Recriar, 2020.

SOLLE, Dorothee. Beyond Mere Obedience: Reflections on a Christian Ethic for the Future, Minneapolis: Augsburg Publishing House, 1970.

WAGNER, C. Peter. Domínio! Como a ação do Reino pode mudar o mundo. Grand Rapids, MI: Chosen Books, 2008.

 

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