Cidades gaúchas com decrescimento populacional em 2020. Artigo de José Eustáquio Diniz Alves

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14 Dezembro 2021

  

"Em algum momento da década de 2030 a população gaúcha vai começar um contínuo e persistente processo de decrescimento demográfico", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e pesquisador de meio ambiente, em artigo publicado por EcoDebate, 13-12-2021.

 

Eis o artigo.

 

Nas próximas duas décadas o RS deve continuar tendo aumento da população, mas em ritmo cada vez menor.

A pandemia da covid-19 afetou a dinâmica demográfica aumentando o número de mortes e diminuindo o número de nascimentos em todo o país. No Rio Grande do Sul houve 114 municípios com número de óbitos acima dos nascimentos, apresentando variação vegetativa negativa em 2020 (considerando nascimentos menos óbitos e migração zero). A tabela abaixo mostra as 35 cidades gaúchas com os maiores decrescimentos demográficos em 2020.

 

 

A capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, registrou 18,4 mil nascimentos e 20 mil óbitos em 2020, com decrescimento vegetativo (nascimentos – óbitos e migração zero) de 1.556 pessoas. Em seguida, entre as 10 cidades com maior decrescimento demográfico em 2020, aparecem Guarani das Missões (-43 pessoas), Jaguari (-42 pessoas), Campinas do Sul (-41), Restinga Seca (-40), São Martino (-40), São Valentim (-40), Pinheiro Machado (-37), Alecrim (-36) e Marques de Souza (-31 pessoas).

O Rio Grande do Sul é o Estado com maior proporção de idosos do país. Portanto, está mais avançado na transição demográfica e mais próximo da fase de decrescimento populacional. A pandemia da covid-19 antecipou temporariamente um fenômeno que iria acontecer mais cedo ou mais tarde.

O gráfico abaixo mostra que o número anual de nascimentos do RS estava em 134 mil em 2010, subiu para 150 mil em 2015, caiu para 142,7 mil em decorrência da epidemia da Zika e voltou a subir em 2017 para 144 mil. Nota-se que a recuperação de 2017 não voltou ao patamar de 2015 e que a partir de 2017 o número de nascimentos iniciou uma trajetória de queda contínua. Já o número de óbitos, que era de 72 mil em 2010 passou para 82 mil em 2019, apresentando uma tendência continuada de alta devido ao processo de envelhecimento populacional, sendo que o RS é a Unidade da Federação mais envelhecida do país.

Pela projeção do IBGE as curvas de nascimentos e mortes iriam se encontrar em 2039, com números de nascimentos e óbitos em torno de 115 mil. A partir daí as curvas se invertem e o estado do Rio Grande do Sul iniciaria um processo de decrescimento populacional estrutural no restante do século.

 

 

Contudo, a pandemia da covid-19 provocou alterações conjunturais que não alteram o rumo geral da transição demográfica gaúcha, mas que pode antecipar alguns números da tendência estrutural. Os registros da pandemia mostram que o estado do Rio Grande do Sul já registrou 1,5 milhão de pessoas infectadas e mais de 36 mil mortes. Além disto houve uma redução do número de nascimentos, pois muitas mulheres e casais adiaram suas decisões reprodutivas em função da gravidade do quadro pandêmico.

Com o fim da pandemia deve haver redução dos óbitos e aumento dos nascimentos, mas dentro do marco das projeções do IBGE. Nas próximas duas décadas o RS deve continuar tendo aumento da população, mas em ritmo cada vez menor. Com menores taxas de fecundidade, a base da pirâmide etária vai diminuir e haverá um aumento do envelhecimento populacional.

Assim, em algum momento da década de 2030 a população gaúcha vai começar um contínuo e persistente processo de decrescimento demográfico.

 

Referências

CAVENAGHI, S. ALVES, JED. A Dinâmica da Fecundidade no Rio de Janeiro: 1991-2000. A ENCE aos 50 anos: um olhar sobre o Rio de Janeiro / Escola Nacional de Ciências Estatísticas. – Rio de Janeiro: IBGE, 2006. Disponível aqui.

ALVES, JED. Três séculos de população no Brasil e os três bônus demográficos, Apresentação Webinário IPEA, 23/06/2021. Disponível aqui.

 

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