14 Dezembro 2021
Um importante cardeal europeu disse que os esforços de algumas pessoas na União Europeia para remover a linguagem que se refere ao Natal podem levar alguns cristãos a apoiarem políticos populistas.
A reportagem é de Inés San Martín, publicada por Crux, 11-12-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O cardeal Jean-Claude Hollerich, de Luxemburgo, argumentou que a resposta para o fato de a União Europeia ter muitas religiões e culturas não é impedir as religiões, mas dar acesso ao espaço público a todas elas.
O prelado respondeu a uma pergunta sobre as diretrizes para uso interno assinadas pela comissária europeia para a Igualdade, Helena Dalli, de Malta, que teve de se retratar 24 horas depois de as diretrizes terem sido divulgadas por um jornal italiano no início deste mês.
Vazado para a mídia na primeira segunda-feira do Advento, o dossiê recomendava interromper o uso da palavra “Natal” por não ser um termo “inclusivo” e substituir a clássica saudação “Feliz Natal” por “Boas Festas”, assim como se referir às férias de Natal como “férias de inverno” [no Hemisfério Norte].
“Eu acho que a União Europeia não queria causar dano ao dar essa instrução, mas não tinha noção de como os cristãos receberiam tal aviso”, disse Hollerich sobre as diretrizes na sexta-feira. “O Papa Francisco as chamou de anacrônicas, e ele está certo.”
O cardeal também reconheceu que a Europa hoje é uma entidade multicultural e multirreligiosa, embora as estatísticas mostrem que os cidadãos de quase todos os países da União se autodenominam cristãos. Mas a resposta para fazer com que todos se sintam acolhidos “não é colocar as religiões na esfera do privado, mas dar acesso ao espaço público para todas as religiões”.
Recusar-se a nomear o Natal quando a razão da existência da celebração é o nascimento de Cristo e, em vez disso, desejar aos outros “uma bela festa de inverno ou o que seja”, é na verdade “uma discriminação prática dos cristãos que não podemos aceitar”.
Por outro lado, Hollerich, que chefia a Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia (Comece), defendeu que essa discriminação ativa contra os cristãos da União “não é politicamente um passo muito bom, porque empurra os católicos para partidos que são populistas, mas com um discurso católico”.
“Precisamos encorajar os políticos católicos a não terem medo de fazer política motivados pela sua fé cristã”, disse ele. “Se os católicos na Europa virem a atuação de tais políticos, eles não cairão na armadilha dos políticos populistas que usam o nome do cristianismo para justificar a sua [orientação] quase anticristã em suas atitudes práticas.”
O cardeal Peter Turkson, que chefia o Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral do Vaticano, concordou com seu colega de Luxemburgo e, com base em seus comentários – que foram proferidos durante uma coletiva de imprensa realizada na Sala de Imprensa da Santa Sé –, ele descreveu as diretrizes como um reflexo do desejo de políticos de criarem um espaço de diálogo e de acolherem as pessoas de todas as religiões.
“Mas, para entrar em diálogo, você não precisa perder a sua identidade nem precisa compartilhar a identidade do outro para entrar em diálogo com ele”, disse o prelado ganense. “O diálogo é, antes, a de afirmação da nossa identidade e um esforço para compreender e conhecer os outros parceiros do diálogo.”
Hollerich e Turkson estavam apresentando a 3ª Jornada Social Católica Europeia, que ocorrerá de 17 a 20 de março de 2022, em Bratislava, Eslováquia. Se as condições de viagem devido à pandemia da Covid-19 complicarem a participação presencial na cúpula, o evento será realizado online.
Embora a jornada estivesse sendo preparada antes da pandemia do coronavírus, Hollerich disse que a crise sanitária teve um impacto no programa final do evento.
“As consequências da pandemia abalaram as aparentes certezas dos nossos sistemas político, econômico e social, e expuseram as nossas vulnerabilidades”, disse ele. “Não nos esqueçamos de que a pandemia da Covid-19 chegou em um momento já marcado por desequilíbrios demográficos, rupturas tecnológicas e injustiças ecológicas.”
Visando a uma “Europa para além da pandemia” e a “um novo começo”, o evento será uma ocasião para refletir sobre a importância da solidariedade e da justiça social em uma Europa em transição, afirmou o prelado.
Mais de 300 delegados enviados pelas conferências episcopais da Europa – entre os quais estarão jovens, acadêmicos, políticos da União Europeia e nacionais, e representantes da Igreja – se reunirão na capital da Eslováquia para contribuir com o processo de discernimento sobre questões sociais cruciais na Europa.
“Nosso objetivo é refletir e debater sobre o caminho a seguir rumo a uma recuperação justa na Europa e, por meio dessa reflexão, contribuir com o processo de reconstrução a partir de uma perspectiva cristã”, disse Hollerich, falando das três principais transições que serão exploradas na presente era: a transição demográfica e a vida familiar; a transição tecnológica e digital; e a transição ecológica.
As Jornadas Sociais Católicas Europeias anteriores foram realizadas em Gdansk, Polônia, em 2009, e em Madri, Espanha, em 2014.
No fim da primeira edição da Jornada Social Católica em Gdansk, os participantes encorajaram todos a “não terem medo. A solidariedade, afirmaram, é a base do nosso futuro comum”, disse Hollerich. “O comportamento egoísta e o materialismo devem dar lugar à solidariedade, como mostra a atual crise de saúde. Devemos deixar o princípio da solidariedade guiar as nossas ações e permanecer unidos em toda a Europa para compartilhar o fardo das suas implicações socioeconômicas.”
O evento é organizado pela Comissão Episcopal (Comece), pelo Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE) e pela Conferência dos Bispos da Eslováquia, em colaboração com o Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral do Vaticano.
O título escolhido para o evento é “A Europa para além da pandemia: um novo começo”. E o subtítulo é “Sociedades europeias em transição: uma contribuição cristã para a solidariedade e a justiça social”.
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Cardeal alerta que autoridades da Europa correm o risco de reação populista se marginalizarem o cristianismo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU