05 Novembro 2021
A grande dúvida em relação ao Facebook é se o seu funcionamento é involuntariamente atrapalhado (como defende seu bilionário fundador, Mark Zuckerberg) ou se é assim por pura ganância. Pela rede social, confessam que não são capazes de filtrar todas as fake news (o que influenciou, por exemplo, o referendo do Brexit e a chegada de Trump à Casa Branca) e que, entre o emaranhado de informações que dissemina em nível global, é possível que surjam algumas mentiras negacionistas sobre as mudanças climáticas. Mas não são algumas, são muitas. Muitas, na verdade. E crescem dia a dia.
A reportagem é de Manuel Ligero, publicada por La Marea-Climática, 04-11-2021. A tradução é do Cepat.
Isso é o que expõe um relatório publicado por Stop Funding Heat, The Real Facebook Oversight Board e Sum of Us, três grupos que se dedicam a analisar a maior rede social do mundo (tem mais de 2,5 bilhões de usuários). Segundo suas medições, somente 3,6% da desinformação publicada é submetida a um processo de verificação.
E por que isso acontece? Na avaliação de Sean Buchan, pesquisador da Stop Funding Heat, por interesse: “O Facebook, em muitos casos, está recebendo dinheiro para publicar conteúdo negacionista”, afirmava em declarações a Euronews.
“Nosso relatório demonstra uma avassaladora escalada de desinformação climática no Facebook, em publicações, grupos e anúncios”, acrescenta Buchan. Em teoria, a rede de Mark Zuckerberg conta com mecanismos para detectar informação fraudulenta. Entre eles, seu próprio programa de verificação de fatos e o chamado, talvez ostentosamente, Centro de Climatologia.
Ambos “fracassaram claramente”, conclui Buchan. E detalha dados de sua pesquisa para fundamentar sua afirmação: o número de reações, comentários e publicações compartilhadas aumentou 76,7%, desde o início do ano, em páginas e grupos que se dedicam a fomentar a desinformação climática.
O Facebook deixa passar até 92% dos boatos
O relatório quis aproveitar a celebração da COP26, em Glasgow, para destacar a empresa que, “por ser a maior plataforma do mundo”, pode representar “uma das maiores, senão a maior, ameaça à ação climática nos meses e anos que virão”. Mas não é o único estudo crítico a essa rede social.
Na cidade escocesa, foram apresentados outros dois: a lista de “Os 10 tóxicos”, que faz uma classificação dos meios de comunicação que mais propagam boatos negacionistas e cujo impacto o Facebook (que deixou passar 92% de suas mentiras), sem reparos, multiplica, e o publicado por Eco-Bot.Net, um grupo especializado em desmascarar o greenwashing e a desinformação nas redes sociais.
Segundo este último, empresas como ExxonMobil, CEMEX, Shell e Teck utilizam a rede de Zuckerberg para divulgar um falso compromisso com o meio ambiente. A Exxon, por exemplo, gastou 4 milhões de dólares em publicidade (climaticamente enviesada) no Facebook, neste ano. Seus 1.211 anúncios com greenwashing tiveram mais de 100 milhões de impressões na plataforma mencionada.
Após os sucessivos escândalos protagonizados pelo Facebook, os polêmicos vazamentos realizados pela ex-gerente de produtos de sua empresa (Frances Haugen), as falhas no WhatsApp e os efeitos nocivos do Instagram sobre a juventude (uma rede que até mesmo na própria empresa consideram “tóxica”), há poucos dias, Zuckerberg apresentou o Meta, um projeto com o qual pretende reparar a deteriorada imagem de sua marca. A empresa matriz não se chamará mais Facebook, mas Meta, e propõe algumas novidades que colocam em alerta aqueles que observam a Internet e as redes sociais do ponto de vista ético.
Seu “metaverso”, como ele o chama, é uma espécie de universo virtual que usa a realidade aumentada para conectar pessoas e coisas. Para conectar tudo, de fato. E tudo administrado, claro, por Zuckerberg. Trata-se de “uma Internet personalizada”, segundo o magnata.
“Em vez de olhar por uma tela, você estará dentro dessas experiências. Tudo o que fazemos na Internet hoje, conectar socialmente, nos divertir, jogar, trabalhar, será muito mais natural e real”.
Nos grupos partidários das redes descentralizadas e o software livre, há quem não hesite em qualificar tudo isso como “uma ameaça real para a nossa existência”.
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Facebook, “uma ameaça para a ação climática” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU