26 Outubro 2021
A delegação do Vaticano e a Igreja Católica estarão em “todo lugar” durante as duas semanas de COP26, do alto escalão e suas negociações privadas às margens, à base, com os movimentos sociais e lideranças comunitárias, disseram dois delegados.
A reportagem é de Carol Glatz, publicada por The Tablet, 22-10-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Alistair Dutton, membro da delegação da Santa Sé para a COP26 e chefe do Fundo de Ajuda Internacional da Caritas da Escócia (Sciaf, sigla em inglês), que é uma das organizadoras locais do evento, disse que os representantes da Igreja trarão consigo as pessoas afetadas pelo novo regime climático “para dar certeza que as vozes do Sul Global serão escutadas claramente e levadas a sério”.
Este não pode ser um encontro sobre eles sem eles, disse. Aumentar a visibilidade dos mais afetados pelo novo regime climático é importante porque as conferências sobre o clima anteriores mostraram que “aqueles que mais sofrem são deixados de lado, e isso acaba sendo um assunto de conversa entre as nações mais ricas”, disse ele.
O Sciaf está cobrindo as despesas de um grupo de pessoas do Malawi, Zâmbia, Colômbia e outras nações para que possam participar da COP26 e pedir uma ação urgente contra a crise climática que já vivem.
Organizada pelo Reino Unido em parceria com a Itália, a cúpula do clima global de 31 de outubro a 12 de novembro tem como objetivo fazer com que os líderes mundiais proponham formas concretas de reduzir as emissões globais pela metade até 2030 e alcançar as "emissões líquidas zero" até 2050 como parte dos esforços para limitar o aquecimento global a 1,5 °C.
As negociações também se concentrarão em ajudar a proteger a biodiversidade e honrar as promessas de financiar ações em países em desenvolvimento, especialmente em ajudá-los a se adaptar, mitigar e se recuperar dos danos causados pelas mudanças climáticas.
Estas serão as mesmas prioridades em que a delegação da Santa Sé insistirá, disse o padre salesiano Joshtrom Kureethadam, coordenador da seção de “Ecologia e Criação” do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral.
“Vamos lá representar a Igreja, como cristãos”, disse ele. Eles estarão lá como uma das muitas comunidades de fé que sabem que a Terra não é apenas um planeta, mas é uma criação de Deus, pontuou. A delegação também representará os sem voz e os vulneráveis que não causaram a crise climática, mas são suas “primeiras e desproporcionais vítimas”.
Dutton disse que a compensação financeira por “perdas e danos” sofridos por tantas pessoas pobres e vulneráveis será um “grande problema, especialmente para o Sul Global, durante a COP26”.
Por exemplo, o financiamento é necessário para aqueles cujos meios de subsistência foram prejudicados pela mudança climática e para os pobres cujas terras desapareceram sob o aumento do nível do mar para que possam comprar novas terras em outro lugar, afirmou ele.
Isso significa que todo o dinheiro arrecadado para os países em desenvolvimento, conforme prometido no Acordo de Paris de 2015, deve ser dividido igualmente entre a adaptação ao novo regime climático e a mitigação, disse ele, porque atualmente a maior parte do financiamento é priorizada para mitigação e tecnologias destinadas a reduzir as emissões.
Os 100 bilhões de dólares prometidos por ano “não devem gastos com pessoas ricas brincando com novas tecnologias enquanto as pessoas pobres simplesmente não podem sobreviver onde estão”, disse Dutton.
A delegação do Vaticano, chefiada pelo cardeal Pietro Parolin, incluirá funcionários da Secretaria de Estado e do dicastério de desenvolvimento integral, bem como de duas organizações católicas locais: Sciaf e Cafod.
Embora seja “extremamente decepcionante” o Papa Francisco não estar em Glasgow, disse Dutton, não há dúvida de como ele está empenhado em cuidar da criação, que tem sido “a questão definidora de seu papado”.
Suas palavras continuam vivas e dão à delegação uma plataforma para construir, disse ele.
Os membros da delegação estarão ativamente engajados na chamada zona azul, que é o espaço administrado pela ONU que hospeda as negociações oficiais com delegações de organizações de observadores e mais de 190 “partes” governamentais que assinaram a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima.
Eles também contribuirão para eventos paralelos na zona verde, administrados pelo governo do Reino Unido para o público em geral, a fim de promover o diálogo, a conscientização e compromissos ativos. Aqui, haverá “espaços sagrados” para reflexão, uma grande marcha no dia 6 de novembro com uma “seção de fé e crença” com bispos e paróquias, e uma missa no dia 7 de novembro seguida por um culto inter-religioso, disse Dutton. “A Igreja estará em toda parte.”
As delegações do Vaticano fizeram o mesmo em cúpulas sobre o clima anteriores, disse o padre Kureethadam. “Esse é um dos pontos fortes da nossa delegação porque temos muitos desses contatos” com os organizadores locais.
Isso reflete a “abordagem multilateral” da Igreja de trabalhar com todos os níveis da sociedade civil, de cima para baixo com a ONU e governos, de cima para baixo com as comunidades locais, acrescentou.
Dutton falou que a Igreja manterá a agenda da COP26 viva depois que os líderes globais voltarem para casa.
O Sciaf, por exemplo, pressionará a Escócia para cumprir suas promessas, e “traduzirá” isso para a ação local. Assim, "quanto tudo tiver acabado, as pessoas não sairão chocadas, mas com um claro senso do papel que podem exercer”, disse Dutton.
Inspirar líderes políticos a apoiar políticas corretas não é suficiente porque, se eles não forem reeleitos ou se o assunto não estiver “em voga”, as políticas podem não sobreviver ou podem ser revertidas. Contra isso é necessário que sejam fortemente apoiadas pelo povo, afirmou.
Dutton disse que as conferências episcopais pelo mundo “deveriam trabalhar muito mais”, falando, cobrando líderes políticos para se responsabilizarem e alertando que se a meta for perdida será “uma instância gigante de injustiça global”.
No entanto, diz ele, a verdadeira preocupação com o meio ambiente, “deve vir desde a base”.
A Igreja tem uma “rede capilarizada” para permitir “realmente mobilizar cada comunidade em cada país” e possibilitar a “conversão nos corações de cada indivíduo” que vão fazer a diferença, afirmou Dutton.
“Cada um de nós tem que parar de emitir carbono no mundo”, o que significa repensar que transporte usam, como ele aquecem e resfriam suas casas, que alimentos e produtos eles compram e quantas milhas as coisas viajam para sair do produtor ao consumidor, concluiu Dutton.
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