13 Outubro 2021
“A novidade introduzida pelo Papa Francisco na Episcopalis communio, de 15 de setembro de 2018, é que o Sínodo não é mais um evento isolado, mas um processo que se realiza por etapas. Hoje começa oficialmente a primeira fase da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos”. Dario Vitali, padre, professor de eclesiologia e diretor do Departamento de Teologia Dogmática da Pontifícia Universidade Gregoriana, explica as razões do Sínodo sobre a sinodalidade, tema decisivo para a vida e a missão da Igreja.
A entrevista é de Stefania Falasca, publicada por Avvenire, 10-10-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Papa chama toda a Igreja a se tornar sinodal. O que isso significa?
Significa que a Igreja é chamada a ser ela mesma. Se aquela sinodal é uma dimensão constitutiva da Igreja, a Igreja só pode ser sinodal.
Por que a sinodalidade seria uma dimensão irrenunciável da Igreja?
A Igreja é sinodal porque a sinodalidade pertence à própria natureza da Igreja. É constitutiva de seu ser. Quando, por exemplo, o Concílio fala da hierarquia, fala da constituição hierárquica da Igreja, significando que a Igreja não pode ser entendida sem os seus pastores. O mesmo vale para a sinodalidade: a Igreja não pode ser entendida se a sua dimensão sinodal for cancelada. São João Crisóstomo em uma de suas famosas expressões disse que Igreja e Sínodo são sinônimos.
Mas qual é a razão profunda dessa dimensão?
Porque a Igreja é povo de Deus, não é por acaso que voltamos a falar da dimensão sinodal da Igreja depois do Vaticano II. Antes, e por muitos séculos, a Igreja foi concebida como uma pirâmide, governada pelo princípio da autoridade. Os membros da Igreja eram divididos em dois corpos distintos e separados: aqueles que estavam acima e comandavam, exercendo todas as funções ativas; quem estava por baixo e só tinha que executar, obedecer. Quando o Concílio recupera a ideia da Igreja como povo de Deus, suas prerrogativas, suas funções ativas na liturgia e na vida da Igreja, a sinodalidade finalmente reaparece. Uma Igreja sinodal só pode ser entendida à luz da participação do povo santo de Deus na função profética, sacerdotal e régia de Cristo.
No entanto, isso parece ter faltado até agora ...
A recepção de um Concílio é um processo longo. Depois de séculos de Igreja piramidal, com tanta ênfase na dimensão hierárquica da Igreja, era necessário tempo para perceber que a Igreja é constitutivamente sinodal sem deixar de ser constitutivamente hierárquica. Em uma Igreja sinodal, a relação circular entre o povo de Deus e seus pastores é claramente entendida; também se entende perfeitamente a afirmação de que a Igreja existe "nas e a partir Igrejas particulares". O bispo é princípio e fundamento da unidade em sua Igreja, e o Bispo de Roma é princípio e fundamento de unidade de todo o povo de Deus, de todos os bispos, de todas as Igrejas. Portanto, a sinodalidade configura a Igreja como comunhão de sujeitos em relação, cada um com sua tarefa. Por isso, apenas em uma Igreja sinodal são exercidos em unidade dinâmica a sinodalidade, a colegialidade e o primado.
Depois de mais de mil anos, como essa dimensão pode ser plenamente recuperada?
Tendo certeza de que se trata de uma dimensão constitutiva. Só com tal convicção nos submeteremos ao esforço de realmente nos educar - a todos! - a um estilo sinodal, para que uma forma sinodal da Igreja possa realmente amadurecer.
Como esse objetivo pode ser alcançado?
Caminhando juntos. Diz o Concílio: “Assim como Israel é já chamado Igreja de Deus, assim o novo Israel, que ainda caminha no tempo presente e se dirige para a futura e perene cidade, se chama também Igreja de Cristo” (Lg 9) A Igreja é, por definição, o povo de Deus que caminha. Sínodo é um termo composto de syne hodos. Syn é cumulativo: quando se refere a pessoas, expressa o estar "juntos", destaca a unidade. Hodos é a via, o caminho, mas também o modo pelo qual se alcança a meta. Portanto, não é um caminhar por caminhar, mas um caminhar juntos em direção a uma meta, e não uma meta qualquer, mas ao Reino de Deus.
A Igreja sinodal, já foi dito, é uma Igreja da escuta. Como?
Na Igreja, todos são chamados à escuta do Espírito, escutando-se uns aos outros, cada um segundo a sua condição e função na Igreja. Em primeiro lugar, devemos ouvir o povo de Deus, porque participa, em razão do Batismo, na função profética de Cristo. A totalidade dos batizados é, de fato, sujeito do sensus fidei. Na Igreja Católica existem dogmas - a Imaculada Conceição e a Assunção de Maria ao céu - que foram definidos com base no sensus omnium fidelium.
Por isso o processo sinodal começa pela escuta do povo de Deus, que é (o Papa sempre o repete) infalível in credendo. Com base no que se escuta, os pastores não só podem, mas devem compreender, a partir do que recolheram do povo cristão, o que o Espírito diz à Igreja: isto vale para os bispos em suas Igrejas, para as Conferências Episcopais nos diferentes níveis (nacional e continental), para a Assembleia do Sínodo, para o Papa que recebe o Documento final da Assembleia do Sínodo.
Em sua opinião, com este Sínodo, a eclesiologia também terá de ser revista?
Revista não, entendida sim. Não se trata de desenvolver um novo modelo de Igreja. A Igreja é sempre a Igreja de Cristo. Seus elementos constituintes são sempre os mesmos. É nosso entendimento que muda. Cada época, pelo que vive, desenvolve uma compreensão própria da Igreja, na qual evidencia alguns aspectos e infelizmente cala ou esquece outros. Hoje o Espírito nos diz que devemos redescobrir essa dimensão, sem esquecer as outras. No fundo, se reconhecemos os sujeitos que constituem o corpo eclesial, e a cada sujeito reconhecemos a sua função específica, redescobrimos os traços da Igreja de Cristo, que o Espírito sempre renova. O caminho sinodal que está se iniciando pode dar-nos isso como fruto maduro da eclesiologia conciliar. E nos convencer de que é precisamente o caminho da sinodalidade "o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milênio".
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“Assim, o povo é o coração da Igreja”. Entrevista com dom Dario Vitali - Instituto Humanitas Unisinos - IHU