24 Setembro 2021
“O que chegará a Roma a partir das Conferências Nacionais individuais é crucial, mas o que resta saber é como a periferia fará as suas vozes serem ouvidas. O próximo Sínodo pode depender mais das mídias sociais e menos dos bispos diocesanos.”
A opinião é da teóloga estadunidense Phyllis Zagano, pesquisadora associada da Universidade Hofstra, em Hempstead, Nova York. É autora, em português, de “Mulheres diáconas: passado, presente, futuro” (Paulinas, 2019).
O artigo foi publicado em Religion News Service, 22-09-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O plano do Papa Francisco é de que os católicos comuns tenham uma palavra a dizer. Ele começa com o próximo Sínodo, que será inaugurado em Roma no dia 9 de outubro e em cada diocese do mundo no dia 17 de outubro.
O problema: ninguém parece saber disso. O maior problema: os bispos dos Estados Unidos não parecem se importar com isso.
Ele se intitula “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”. Embora Francisco realmente queira que todos os católicos rezem e falem sobre as necessidades da Igreja de hoje, seu plano depende da participação diocesana.
Enquanto os bispos dos Estados Unidos discordam sobre qual político católico pode receber a Comunhão, eles têm feito pouco para planejar a discussão mundial sobre as necessidades da Igreja. Eles foram convidados a se organizar em maio passado. E não o fizeram.
Eis como as coisas deverão funcionar. Em maio passado, Roma pediu a cada bispo o nome da pessoa que dirigirá o seu processo sinodal diocesano. O bispo, então, deverá abrir o seu sínodo local no dia 17 de outubro, coletar informações das paróquias e apresentar um relatório à sua Conferência Episcopal nacional.
As conferências – na América do Norte, a Conferência dos Bispos dos Estados Unidos e a Conferência dos Bispos do Canadá – irão, então, reunir os resultados para os membros da 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, marcada para outubro de 2023 em Roma.
As pessoas da América Central e do Sul, assim como da Austrália, da Alemanha e da Irlanda se somaram à ideia. Seus encontros já estão em andamento. Os bispos dos Estados Unidos nomearam um coordenador nacional experiente e elegantemente treinado, Richard Coll, mas as dioceses dos Estados Unidos parecem ter ficado para trás.
Se uma amostra das 10 dioceses de Nova York pode servir de indicação, os sínodos diocesanos terão um início turbulento, mesmo depois de começarem. Enquanto Roma pediu que todas as dioceses enviassem os nomes de seus coordenadores sinodais em maio, poucas delas, se é que há, parecem ter planos.
Uma semana depois de serem questionadas, apenas três das 10 dioceses de Nova York responderam. Duas enviaram os nomes dos coordenadores diocesanos, e uma disse que é muito cedo para dar qualquer informação (uma das duas ofereceram o bispo e o coordenador para um telefonema. Mas apenas um deles).
Para ser justa, o escritório do Sínodo do Vaticano publicou o manual do Sínodo, chamado de vademecum, e o documento preparatório do Sínodo há apenas algumas semanas, no dia 7 de setembro.
Mas a “sinodalidade” está rondando há anos, ganhando proeminência depois do Concílio Vaticano II.
Roma anunciou o tema do próximo Sínodo em março de 2020, no momento em que a pandemia da Covid-19 começava. O tempo de lockdown atrasou o encontro culminante em Roma em um ano, para outubro de 2023, dando aos bispos interessados e às Conferências Episcopais mais tempo de planejamento.
Então, o que toda essa conversa (ou não conversa) significa? A sinodalidade – a palavra vem do grego e significa “caminhar juntos” – é a forma de Francisco escutar a periferia. Francisco é conhecido por ter dito que “a periferia é o centro”, e ele quer que os bispos no topo da pirâmide da Igreja hierárquica reconheçam isso. Ele quer escutar os católicos comuns, assim como os seus bispos.
Francisco já agiu em relação a alguns pedidos de mudanças do Sínodo Pan-Amazônico de 2019 com o objetivo de ampliar a participação. Em janeiro deste ano, ele mudou a lei canônica para permitir que mulheres fossem instaladas como leitoras (durante a missa) e acólitas (servidoras do altar), ministérios leigos exigidos antes da ordenação diaconal.
O processo sinodal, quando feito corretamente, promove um discernimento orante e uma compreensão do que a Igreja precisa daqui para a frente.
O próprio processo é o início e o fim da sinodalidade. Se todos tiverem voz, não sobre a doutrina definida, mas sobre as questões relativamente mundanas de quem pode fazer o quê (padres casados, diáconas, liderança paroquial, controle de fundos e propriedades), então o processo terá alcançado o seu objetivo.
Quais são as chances de sucesso? Isso depende de para quem você pergunta isso.
Para bispos cimentados no clericalismo, eles começarão a aderir da boca para fora, na melhor das hipóteses, a um processo profundamente inserido na Igreja. Eles provavelmente farão um levantamento dos suspeitos usuais, escolhendo quem ouvir e o que relatar. O “sucesso” deles será manter o controle.
O sucesso dos bispos que não se concentram em controlar o poder será escutar e relatar honestamente as necessidades do povo.
O que chegará a Roma a partir das Conferências nacionais individuais é crucial, mas o que resta saber é como a periferia fará as suas vozes serem ouvidas. O próximo Sínodo pode depender mais das mídias sociais e menos dos bispos diocesanos. Mas você nunca sabe.
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Papa Francisco quer que cada católico tenha uma palavra a dizer. Artigo de Phyllis Zagano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU