22 Setembro 2021
Se alguém lhe dissesse: “Não é por dinheiro, mas por uma questão de princípio”, fique tranquilo que é por dinheiro.
O comentário é do cardeal italiano Gianfranco Ravasi, prefeito do Pontifício Conselho para a Cultura, em artigo publicado por Il Sole 24 Ore, 19-09-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
É uma daquelas piadas que a revista estadunidense "New Yorker" costuma incluir entre os artigos. É uma dose de realismo destinada a dissolver o véu da hipocrisia que envolve tantas afirmações de princípio. Frequentemente, somos tão desapegados ou melindrados em relação ao dinheiro, enquanto na verdade constitui uma espécie de prensa que nunca afrouxa, nem a mente nem o coração. Eventualmente, caso se deixar a via livre para essa prensa, a pessoa se torna egoísta e obtusa, tacanha e até cruel. A Martinho Lutero é atribuída esta afirmação: “A riqueza é a coisa mais efêmera que Deus possa dar ao homem. Por isso o bom Deus geralmente a concede aos maiores asnos, aos quais não pretende dar nada mais”.
A Bíblia, quando fala do idólatra, diz que ele se torna como o objeto que adora (Salmo 115,8). Ironiza-se de alguém dizendo que em suas pupilas pode-se entrever o cifrão do dólar ou do euro, tanto dinheiro é o único objeto de seu desejo. Isso é um pouco verdade para todos: quanto mais nos apegamos a uma coisa, mais ela molda a alma e até mesmo o corpo. Se o dinheiro é a realidade predileta, é inevitável que nos tornemos cada vez mais calculadores frios, insensíveis aos outros, guardiões implacáveis de nosso tesouro.
O escritor católico escocês Bruce Marshall estava certo quando definiu o dinheiro como "a medida da incapacidade do homem de amar o seu próximo como a si mesmo". Concluímos com outra anedota: “Queres saber o que Deus pensa do dinheiro? Olhe para as pessoas a quem ele o dá!”.
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#Não é por dinheiro. Artigo de Gianfranco Ravasi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU