16 Setembro 2021
Muitos estudos sobre as responsabilidades do setor agrícola em relação ao aquecimento global já foram publicados. Os mais respeitados, como os do IPCC e da EPA dos EUA, atestam em torno de 25%. Até agora, porém, eram consideradas apenas as emissões relacionadas à produção agrícola, e não dentro de todo o sistema agroalimentar. Desse modo, estava faltando uma fatia importante, aquela relacionada ao fim do percurso, ou seja, à nossa alimentação.
A reportagem é de Mariella Bussolati, publicada por Repubblica, 14-09-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Um novo estudo publicado na Nature Food e realizado por uma equipe internacional, por outro lado analisou em todo o mundo, toda a cadeia de abastecimento: do campo ou da fazenda, ao transporte, ao consumo. A pesquisa quantifica as emissões de 171 tipos de cultivos diferentes e 16 produtos de origem animal, em mais de 200 países e nove regiões, considerando também diferentes tipos de intensidade da atividade agrícola, como tipo de aração, a forma de plantio, a fertilização, a irrigação, a colheita e a gestão dos resíduos.
"As diferenças entre as várias estimativas podem depender do fato de que os dados fornecidos pelos países com base na convenção sobre o clima consideram apenas as emissões no campo. Não são calculadas aquelas para produção de energia, o transporte, o consumo em casa. Acompanhamos toda a cadeia do alimento, até o consumidor. O resultado é que a produção de alimentos corresponde a 35% dos gases de efeito estufa produzidos, ou 17.318 bilhões de toneladas de gás, sendo os três componentes, a produção na fazenda, a destruição dos ecossistemas para criar terras agrícolas e a distribuição, equivalentes”, diz Francisco Tubiello, um dos autores, responsável pelas estatísticas ambientais da FAO.
A maior contribuição se deve aos derivados de origem animal, 57%. As plantas respondem por 29%, os produtos não alimentícios, como algodão e borracha, por 14%.
A produção animal contribui, com 9,796 bilhões de toneladas de gás, sendo 32% por dióxido de carbono, 20% por metano, 6% por óxidos de nitrogênio. O pasto, que muitos acreditam ser menos invasivo, é responsável por 21% dessas emissões. Um fator importante se deve à fermentação intestinal dos ruminantes que chega a 18%. A responsabilidade de porcos e aves é, em vez disso, devido à destruição de territórios naturais para obter novos espaços de criação e ao comércio. A carne de gado e o leite são os produtos de maior impacto.
Produzir o alimento necessário para mantê-los produz outros 2.450 bilhões de toneladas de gás, dos quais 23% por sementes, em especial milho, trigo e soja, 12% por forragens, 21% por resíduos, 42% por pastagens, 2% por resíduos e outros alimentos. Os países mais responsáveis pelas emissões animais são China (8%), Brasil (6%), EUA (5%) e Índia (4%).
As plantas somam 5.209 bilhões de toneladas, das quais 19% por dióxido de carbono, 6% por metano e 4% por óxidos de nitrogênio. O arroz é o principal responsável por causa das emissões de metano. Os cientistas observam que, embora o dióxido de carbono tenha sua importância, em termos da capacidade de retenção de calor o metano, gerado pelo arroz e pelos animais, e o dióxido de nitrogênio gerado pelos fertilizantes, são 34 e 298 vezes mais potentes que o CO2. Em relação ao dióxido de carbono e dióxido de nitrogênio, os principais atores são o milho e o trigo.
Quanto aos vegetais, China, Índia e Indonésia são os maiores emissores: 7,4 e 2%.
Os pesquisadores também calcularam o consumo, combinando transporte, armazenamento e comércio. Os alimentos mais nocivos são café, chá, banana, frutas cítricas, óleo de palma, borracha, cana-de-açúcar e forragens porque as regiões tropicais, que estão aumentando as exportações e, portanto, as viagens, estão obtendo cada vez mais terras cultivadas às custas dos ecossistemas naturais. aumentando assim as emissões.
A América do Sul produz muitos gases de efeito estufa das exportações de carne. O peso da Europa vem da importação de carnes e do intenso mercado interno.
Em geral, o Sul e o Leste da Ásia são os maiores contribuintes, 23%, mesmo que tenham as menores emissões per capita e onde aquelas devidas aos animais sejam menores daquelas vegetais. O segundo emissor global é a América do Sul, 20%, onde, no entanto, as emissões per capita são as mais altas e se devem à alimentação animal. As Nações Unidas preveem que a produção de alimentos deve crescer 70% até 2050 para atender ao aumento da demanda devido ao aumento da população.
“Estou otimista. Embora não possamos reduzir metano e dióxido de nitrogênio porque estão ligados à produção, podemos melhorar a eficiência energética. E, uma vez que sairmos da nossa dependência dos combustíveis fósseis, a situação só pode melhorar. Também podemos intervir com as técnicas agrícolas: por exemplo, no arroz agora se usa o sistema da água alternada que reduz o aporte de metano. Também devemos parar de destruir os ecossistemas e, sobretudo, não contabilizar a sua proteção como crédito em compensações do carbono. Claro, também se pode mudar a dieta e a escolha dos produtos: nos últimos trinta anos aumentou drasticamente o recurso a supermercados e produtos pré-cozidos e congelados. Mas quem consome deve ser responsável no mesmo nível de quem oferece o serviço”, finaliza Tubiello.
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Quanto polui a nossa mesa? No prato 35% dos gases de efeito estufa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU