07 Setembro 2021
As árvores são vitais para a vida na Terra. Têm importância não apenas ecológica, mas cultural e econômica para a maior parte das sociedades. Além disso, fornecem habitat para metade das plantas conhecidas no mundo e milhões de espécies de animais, assim como são fundamentais em garantir serviços ambientais como armazenamento de carbono, tão essencial diante do atual desafio da humanidade perante a crise climática. As árvores absorvem 50% do CO2 terrestre e garantem a proteção contra eventos climáticos extremos, como furacões e tsunamis.
A reportagem é de Suzana Camargo, publicada por Conexão Planeta, 02-09-2021.
Todavia, essas grandes guardiãs de nossas florestas estão cada vez mais ameaçadas. O relatório The State of the World’s Trees (Estado das Árvores do Mundo, na tradução para o português), divulgado ontem (01/09) pela Botanic Gardens Conservation International (BGCI) revela um cenário muito preocupante: 30% das cerca de 60 mil espécies de árvores do planeta estão em risco de extinção. Algo em torno de 17.500 mil espécies. Esse número é o dobro de mamíferos, pássaros, anfíbios e répteis ameaçados globalmente.
O estudo, que levou cinco anos para ser finalizado e envolveu mais de 500 pesquisadores de 60 instituições internacionais, aponta que mais de 440 espécies de árvores estão à beira de desaparecer completamente, o que significa que têm menos de 50 indivíduos remanescentes na natureza. Outras 142 já foram declaradas extintas.
O relatório mostra ainda que, apesar de uma em cada cinco espécies de árvores serem usadas diretamente pelo homem como fonte de alimento, combustível, madeira, medicamento ou horticultura, muitas enfrentam a extinção como resultado da sobre-exploração e má gestão.
“Espécies de árvores que evoluíram ao longo de milhões de anos, adaptando-se a climas em mudança, não podem mais sobreviver ao ataque das ameaças humanas. Como somos míopes em permitir a perda de árvores das quais a sociedade global é ecológica e economicamente dependente. Se pudéssemos aprender a respeitar as árvores, sem dúvida muitos desafios ambientais seriam muito beneficiados”, lamenta Jean-Christophe Vié, diretor da Fundação Franklinia.
Apesar de o Brasil ter algumas das florestas mais biodiversas do mundo, estamos em 2º lugar no ranking de países com o maior número de árvores ameaçadas – das 8.847 espécies brasileiras nativas, 1.788 estão em perigo, ou seja, 20% do total. Entre elas aparecem o jacarandá e o mogno. Ficamos atrás somente de Madagascar (1.842) nesse ranking tão triste.
Um relatório produzido recentemente pelo MapBiomas revelou que houve um aumento de 14% no desmatamento do nosso país em 2020. A cada segundo, 24 árvores foram derrubadas no Brasil no ano passado.
“As árvores são uma das formas de vida mais familiares para todos os humanos e representam a maior parte da biomassa terrestre. Para a maioria das pessoas, elas podem parecer bastante semelhantes, mas, com quase 60 mil espécies existentes, elas constituem um grupo muito diverso e formam os mais diferentes habitats no planeta”, ressalta Vié.
“Este relatório é um passo importante para a avaliação completa de todas as espécies de árvores, que constituirá uma linha de base com a qual governo serão capazes de relatar o progresso em direção à proteção da biodiversidade mundial. Toda uma comunidade composta por botânicos e os conservacionistas estão prontos para ajudar nesta enorme tarefa. Esse trabalho precisa estar associado a esforços concretos que não devem ser liderados exclusivamente por silvicultores e empresas para as quais o número de árvores plantadas é o único motivador”, finaliza o especialista.
Como não é surpresa, os principais responsáveis por esse cenário assustador são a perda de habitat para a agricultura e a pastagem, seguida pelas atividades da indústria madeireira. O levantamento conclui que uma em cada três árvores derrubada atualmente para a obtenção de madeira está em risco de extinção. E aos poucos, a crise climática e o clima extremo, como furacões, tempestades, secas e incêndios históricos, contribuem cada vez mais para o desaparecimento da flora.
Os especialistas destacam, por exemplo, que pelo menos 180 espécies estão diretamente impactadas pelo aumento do nível dos oceanos e outros eventos climáticos, e isso ocorre principalmente em ilhas, como é o caso das magnólias no Caribe.
Abaixo as principais ameaças indicadas pelo relatório State of the World’s Trees:
Gráfico: Conexão Planeta/State of the World’s Trees
O gráfico acima mostra, em vermelho, a porcentagem das espécies em risco de extinção.
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30% das árvores do mundo estão em risco de extinção: Brasil é o segundo país com o maior número de espécies ameaçadas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU