27 Julho 2021
"Só o amor que - pelo seu grau de profundidade - pode dar um sentido maior ou menor (não, mais importante ou menos importante) à vida humana e à vida da Irmã Mãe Terra, Nossa Casa Comum. Essa é a Igreja que as CEBs querem ser! Essa é a nossa Igreja!", escreve Marcos Sassatelli, frade dominicano, doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP) e professor aposentado de Filosofia da UFG, em artigo originalmente publicado por Portal das CEBs, 22-07-2021.
Jesus de Nazaré quis e quer uma Comunidade de seguidores e seguidoras que seja uma Comunidade de irmãos e irmãs em comunhão.
Para se referir a essa Comunidade - o Povo de Deus da Nova Aliança - os autores do Novo Testamento adotaram o termo Igreja (em grego: Ekklesia), que quer dizer Assembleia: Comunidade reunida. Neste sentido, Jesus - dirigindo-se a Pedro - diz: "Você é Pedro e sobre esta pedra construirei a minha Igreja" (Mt 16,18). (Observamos que - com o passar do tempo - o termo Igreja adquiriu também o significado de ‘templo’: lugar de oração e de culto).
Portanto, desde a época em que foi escrito o Novo Testamento, a Comunidade dos seguidores e seguidoras de Jesus de Nazaré começou a ser chamada Igreja. Trata-se, porém, de uma Igreja de irmãos e irmãs em comunhão e não de uma Igreja de classes (clero, religiosos/as, leigos/as). Por ‘comunhão’ entende-se, pois, ‘comunhão eclesial’ e não ‘comunhão hierárquica’ (que não é verdadeira comunhão).
Essa Igreja de irmãos e irmãs em comunhão reconhece - na prática e não só na teoria - que todos os seres humanos - homens, mulheres e pessoas de outras orientações sexuais (integrantes da Comunidade LGBTQIA+) - são iguais em dignidade e valor. "Deve-se reconhecer cada vez mais a igualdade fundamental entre todos os seres humanos" (Concílio Vaticano II. A Igreja no mundo de hoje - GS 29), criados à imagem e semelhança de Deus (Cf. Gn 1,26-27).
“Reina verdadeira igualdade quanto à dignidade e ação comum a todos os fiéis na edificação do Corpo de Cristo" (Concílio Vaticano II. A Igreja - LG 32). "A razão principal da dignidade humana consiste na vocação do ser humano para a comunhão com Deus" (GS 19). “É comum a dignidade dos filhos e filhas de Deus batizados e batizadas, no seguimento de Jesus, na comunhão recíproca e no mandamento missionário” (Exortação Apostólica Pós-sinodal “Ecclesia in America - EA 44). “Todos e todas são chamados à santidade (perfeição humana, felicidade) e receberam a mesma fé pela justiça de Deus” (LG 32). "O mistério do ser humano só se torna claro verdadeiramente no mistério do Verbo encarnado. (…) Cristo manifesta plenamente o ser humano ao próprio ser humano e lhe descobre a sua altíssima vocação" (GS 22).
Nessa Igreja de Jesus de Nazaré, todas as relações são de comunhão entre irmãos e irmãs. Nelas, não há espaço para relações de dependência, submissão, subordinação, subserviência, dominação, inferioridade ou superioridade.
Nas relações de comunhão entre irmãos e irmãs, todos e todas - na diversidade dos carismas (dons) e dos ministérios (serviços) - são sujeitos conscientes e responsáveis de suas opções, atitudes e atos. “A cada um e a cada uma é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum” (1Cor. 12,7).
Sabemos, porém, que a Igreja (pessoas e Instituição) - que é no mundo com o mundo, que é mundo - é uma Igreja divina e humana, santa e pecadora, ao mesmo tempo. No decurso da história, a Igreja se deixou influenciar pela sociedade imperial, feudal e capitalista, e incorporou - em sua própria estrutura social - elementos (pompa, luxo, poder, triunfalismo e outros) que não têm nada a ver com o Evangelho: a Boa Notícia de Jesus de Nazaré. Para tomar consciência disso, basta fazer a memória de como Jesus viveu e de como as primeiras Comunidades cristãs viveram.
Por causa desses desvios - farisaicamente legitimados e sacralizados - “desenvolvendo perspectivas já presentes no Concílio, mas ainda não explicitadas, vários teólogos - a começar por Congar - têm proposto pensar a estrutura social da Igreja em termos de 'comunidade - carismas e ministérios' (e não em termos de ‘hierarquia - laicato’). O primeiro termo, 'comunidade' (ou o teologicamente mais denso 'comunhão'), inclui tudo o que há de comum a todos os membros da Igreja; e a dupla 'carismas e ministérios' inclui tudo o que positivamente os distingue. É esta, aliás, a perspectiva do Novo Testamento, onde nunca aparece o termo 'leigo' ou ‘leiga’ (e - podemos acrescentar - nem o termo ‘clero’), mas sublinham-se os elementos comuns a todos os cristãos e cristãs e, ao mesmo tempo, valorizam-se as diferenças carismáticas, ministeriais e de serviço. Neste sentido, os termos que designam os membros do Povo de Deus acentuam a condição comum a todos os renascidos pela água e pelo Espírito: 'santos/as', 'eleitos/as', 'discípulos/as', 'irmãos/ãs'” (CNBB. Missão e Ministérios dos Cristãos Leigos e Leigas - 62, 1999, nº 105).
Por fim, é só o amor que - pelo seu grau de profundidade - pode dar um sentido maior ou menor (não, mais importante ou menos importante) à vida humana e à vida da Irmã Mãe Terra, Nossa Casa Comum.
Essa é a Igreja que as CEBs querem ser! Essa é a nossa Igreja!
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CEBs: uma Igreja que se constitui de irmãos e irmãs em comunhão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU