09 Junho 2021
"Em Roma, que é o Papa Francisco em última instância, não se sabe mais o que fazer para fazer frente ao sínodo da Alemanha - especialmente depois da renúncia como arcebispo de Munique oferecida pelo cardeal Marx com o propósito de relançar o próprio sínodo -, então parece incerta também diante dessa rebelião dos jesuítas estadunidenses", escreve Sandro Magister, vaticanista do semanário L’Espresso e autor do blog Settimo Cielo, em artigo publicado por Settimo Cielo, 08-06-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Todos os caminhos levam a Roma, não apenas da turbulenta Alemanha do cardeal Reinhard Marx, mas também do tranquilo e remoto estado americano de Indiana.
Em Indianápolis, a capital, uma escola dirigida por jesuítas apelou à Santa Sé para que lhe fosse concedido o direito de desobedecer ao seu arcebispo, sobre um tema em que é mestre o "caminho sinodal" em curso na Alemanha: a homossexualidade.
Tudo começou com o casamento celebrado em 2017 entre Layton Payne-Elliott, professor da Brebeuf Jesuit Preparatory School, e Joshua Payne-Elliott, professor em outra escola católica de Indianápolis, a Cathedral High School.
Por sua condição de "casados" do mesmo sexo, incompatível com a doutrina católica, o arcebispo de Indianápolis, Charles C. Thompson, em junho de 2019 ordenou às respectivas escolas que despedissem os dois. A Cathedral obedeceu, a Brebeuf não.
Este não é o primeiro caso do tipo em Indianápolis. Em 2018, outra escola católica da arquidiocese, a Roncalli High School, pelo mesmo motivo demitiu dois de seus funcionários que haviam se "casado", Shelly Fitzgerald e Lynn Starkey.
Ambas haviam processado a arquidiocese, cujos casos agora estão pendentes no tribunal federal.
Desta vez, a Cathedral High School também tentou inicialmente se opor à demissão de Joshua Payne-Elliott por via judiciária, mas após a mudança de seu diretor, decidiu se curvar ao comando da arquidiocese.
A Escola Preparatória Jesuíta Brebeuf, por outro lado, manteve-se firme em sua recusa em despedir Layton Payne-Elliott, e por esta razão a arquidiocese a excluiu da lista das escolas católicas.
Joshua Payne-Elliott, expulso da Cathedral, no entanto, não desistiu e levou a arquidiocese a tribunal, queixando-se de ter sido injustamente afastado "por motivo de ser quem sou e de quem eu amo".
A arquidiocese se defendeu apelando para a primeira emenda da constituição dos EUA, que protege a separação entre Igreja e Estado e, portanto, proíbe a um poder secular de interferir nos assuntos internos de uma igreja, incluindo a liberdade de escolher seus professores de acordo com a fé professada.
O tribunal inicialmente deu luz verde para o processo, mas a Suprema Corte de Indiana, examinando o caso a pedido da administração Trump e do Ministro da Justiça de Indiana, o republicano Todd Rokita, em dezembro de 2020 ordenou que reconsiderasse tudo novamente. E o tribunal, com um novo juiz, arquivou o processo em 7 de maio, essencialmente dando razão à arquidiocese.
Joshua Payne-Elliott apelou contra esse arquivamento, enquanto a Brebeuf Jesuit Preparatory School - que também hospeda um Gender Sexuality Alliance Club em apoio a estudantes LGBTQ - apelou da decisão da arquidiocese de removê-la da lista das escolas católicas.
A Brebeuf expressou o motivo dessa rebelião em uma declaração assinada por seu reitor, o jesuíta William Verbryke, e por todo o conselho de administração, na qual reivindicou que a própria "identidade como instituição católica e jesuíta permanece inalterada".
Segundo a Brebeuf, “esta ingerência direta da arquidiocese de Indianápolis em uma disciplina de ensino de uma escola regida por uma ordem religiosa é sem precedentes, caso único por estar entre as mais de 80 escolas primárias e secundárias administradas por jesuítas na diocese da América do Norte".
E a rebelião contra a arquidiocese de Indianápolis - especifica a declaração - não é apenas da Escola Preparatória Jesuíta de Brebeuf, mas de toda a província da Companhia de Jesus do Meio oeste dos Estados Unidos.
Mas isso não é tudo, porque os dirigentes da Brebeuf, apoiados pelos Jesuítas da província liderados pelo seu superior Brian G. Paulson, fizeram apelo a Roma para ver reconhecida pela Santa Sé – contra a arquidiocese de Indianápolis - a sua "consciência informada sobre esta matéria particular", ou seja, a legitimidade da sua recusa de “expulsar um professor altamente capaz e qualificado por ser casado em um casamento homossexual civilmente reconhecido”.
É difícil pensar que tal passo de toda uma província da Companhia de Jesus tenha sido dado sem a aprovação do Superior Geral da Companhia, Arturo Sosa Abascal.
Mas, enquanto isso, o tempo passa e o apelo aguarda sem resposta em alguma mesa da Cúria do Vaticano.
Porque em Roma, que é o Papa Francisco em última instância, não se sabe mais o que fazer para fazer frente ao sínodo da Alemanha - especialmente depois da renúncia como arcebispo de Munique oferecida pelo cardeal Marx com o propósito de relançar o próprio sínodo -, então parece incerta também diante dessa rebelião dos jesuítas estadunidenses.
Nos dias 11 e 21 de junho de 2021, o Instituto Humanitas Unisinos – IHU realiza o evento A Igreja e a união de pessoas do mesmo sexo. O Responsum em debate, que tem como objetivo debater transdisciplinarmente os pressupostos teológicos, antropológicos e morais subjacentes à resposta negativa da Congregação para a Doutrina da Fé à bênção de uniões de pessoas do mesmo sexo e suas implicações pastorais para as comunidades eclesiais.
A Igreja e a união de pessoas do mesmo sexo. O Responsum em debate
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Casamentos entre pessoas do mesmo sexo. O Sínodo da Alemanha faz escola para Indianápolis - Instituto Humanitas Unisinos - IHU