01 Junho 2021
Esforços para ajudar 150 centros de saúde a ganhar acesso à água foi o foco de um simpósio na última semana em Roma.
A reportagem é de Loup Besmond de Senneville, publicada por La Croix International, 31-05-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
“Aqui, quando alguém é hospitalizado, frequentemente precisa trazer água consigo. Não há água suficiente para todos”.
Essa é a situação em Kisantu, uma cidade a 100km ao sul de Kinshasa, a capital da República Democrática do Congo.
Nas 300 camas do Hospital São Lucas, acesso à água é tão escasso que a administração decidiu limitar seu uso para as necessidades mais essenciais, como limpeza ou lavagem das mãos antes de uma operação.
“Nós deveríamos construir uma torre d’água”, disse François Kangela, que trabalha para a Catholic Relief Services em Kinshasa.
“Custa mais de 6 mil dólares, mais o trabalho necessário para deslocar a equipe para limpar áreas sensíveis, como os leitos de operação e banheiros. Em todos, nós necessitamos 8 mil a 10 mil dólares por ano”, afirmou.
Na iniciativa do Vaticano, São Lucas é uma das 150 instalações de saúde a receber apoio nos últimos meses. O programa é chamado de “WASH” e está sendo desenvolvido em 23 países em desenvolvimento. O objetivo é identificar todos os problemas que os centros católicos de saúde encaram no acesso à água.
E seu trabalho foi o foco de uma conferência de quatro dias na última semana em Roma.
O projeto foi divulgado em 24 de maio no encerramento do “Ano Especial Laudato Si'”, que leva o nome da encíclica ecológica do Papa Francisco de 2015: “sobre o cuidado da casa comum” (no vídeo abaixo, a conferência está disponível com tradução para o português, transmitida pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU).
Na verdade, o WASH faz parte dos esforços de longa data da Santa Sé para lembrar os líderes mundiais da necessidade vital de garantir o acesso das pessoas à água.
Por exemplo, uma delegação papal participou do Fórum Mundial da Água em Kyoto em 2003.
“O acesso à água potável e ao saneamento são direitos humanos fundamentais e são pilares da defesa da dignidade humana e da luta contra a pobreza”, explica Tebaldo Vinciguerra, responsável pelo projeto WASH.
O trabalho nos hospitais começou no verão passado no Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral.
O prefeito do dicastério, o cardeal Peter Turkson, escreveu a todos os bispos do mundo pedindo-lhes que relatassem ao Vaticano todos os estabelecimentos de saúde com dificuldades de acesso à água.
Algumas semanas depois, voluntários das instalações preencheram um questionário de seis páginas, com o objetivo de identificar seus problemas.
“Existem deficiências que podem ser facilmente corrigidas, como consertar uma torneira ou estabelecer hábitos como fazer com que os profissionais de saúde lavem as mãos regularmente”, continua Vinciguerra.
“Mas outros exigem mais tempo e recursos, como a perfuração de um poço ou a construção de uma caixa d'água, por exemplo, em países sujeitos a secas severas ou em hospitais que bombeiam água de um rio que pode ficar lamacento durante as enchentes”, destaca.
Existem várias necessidades mais caras e o Vaticano está agora em busca de financiamento.
Vinciguerra afirma que não é uma tarefa fácil.
“É muito mais gratificante para um doador dar dinheiro para financiar uma nova sala de cirurgia do que para desbloquear poços, comprar filtros ou financiar bombas”, observa.
Outros projetos a serem realizados são programas mais educacionais.
É o caso, por exemplo, da Diocese de Moroto, no nordeste de Uganda, que fica em uma região semidesértica, não muito longe da fronteira com o Quênia.
Dom Damiano Guzzetti, missionário comboniano, diz que conta com os programas patrocinados por Roma para o ajudar a formar o pessoal do hospital e dos oito centros de saúde da diocese.
“O hospital tem água suficiente, mas os centros não”, explica o bispo.
“Não basta instalar bombas d'água”, continua. “É necessário educação para explicar como usá-la”.
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Vaticano ajuda hospitais do Sul Global a terem água - Instituto Humanitas Unisinos - IHU