O Papa Francisco e as principais autoridades vaticanas realizaram uma reunião com muitos membros da elite financeira global sobre como remodelar o mundo após a pandemia da Covid-19. Ministros da Economia de sete países participaram do encontro, na sexta-feira passada, na Casina Pio IV, no Vaticano.
A reportagem é de James Roberts, publicada em The Tablet, 18-05-2021. A tradução é de Anne Ledur Machado.
Intitulado “Sonhando com um reinício melhor”, o encontro foi organizado e sediado pela Pontifícia Academia das Ciências e pela Pontifícia Academia das Ciências Sociais.
Imagem: Visão aérea da Pontíficia Academia de Ciências | Foto: Jean-Pol GRANDMONT / Wikimedia Commons
Em uma nota, as Pontifícias Academias declararam: “A crise atual e o estado de confusão global nada mais são do que o fim do globalismo do egoísmo, da exclusão e da cultura do descarte. A desigualdade e a fome estão aumentando, levantando grandes desafios éticos, econômicos e políticos aos quais tanto os formuladores de políticas quanto a sociedade civil devem reagir”.
“O Papa Francisco, assim como muitos outros líderes, enfatizou que essa situação exige um novo começo de solidariedade e de fraternidade na configuração econômica e política global. (...) Mudanças extensas na política internacional e na arquitetura financeira são necessárias para enfrentar a desigualdade, assim como planos abrangentes de combate às mudanças climáticas e a transformação do sistema alimentar.”
O congresso não foi anunciado pelas Pontifícias Academias e foi fechado à imprensa, mas um livreto do programa acessível online citava uma passagem da encíclica Fratelli tutti, do Papa Francisco, de outubro de 2020, que incluía a frase: “Outros bebem de outras fontes. Para nós, este manancial de dignidade humana e fraternidade está no Evangelho de Jesus Cristo” [n. 277].
O compatriota argentino do papa e chanceler das Pontifícias Academias, Dom Marcelo Sanchez Sorondo, proferiu as palavras de abertura junto com o presidente da Pontifícia Academia das Ciências, Joachim von Braun, o presidente da Pontifícia Academia das Ciências Sociais, Stefano Zamagni, e o secretário da Santa Sé para as Relações com os Estados, Bispo Paul R. Gallagher.
O congresso, depois, se dividiu em dois painéis, um sobre “Solidariedade financeira e tributária”, e outro sobre “Sustentabilidade ecológica integral”. Membros do governo Biden, dos EUA, fizeram discursos proeminentes em cada painel – a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, fez uma contribuição online para o primeiro painel, antes que a presidente e diretora administrativa do FMI, Kristalina Georgieva, fizesse o discurso principal presencialmente.
O proeminente defensor do controle populacional e apoiador do presidente do Partido Comunista Chinês, Xi Jinping, o professor Jeffrey Sachs, liderou a discussão em grupo que se seguiu. Sachs exaltou a iniciativa Belt and Road de Xi Jinping, que visa a estender a influência do Partido Comunista Chinês pela Ásia até a Europa, como “uma das iniciativas de desenvolvimento econômico mais importantes na história da economia contemporânea”. Ele é um colaborador frequente de Dom Sorondo, que, em uma entrevista em fevereiro de 2018, disse: “Neste momento, quem está implementando melhor a doutrina social da Igreja são os chineses”.
A descrição do programa do primeiro painel apontava que, no contexto da reestruturação da dívida, “o G20 recentemente se comprometeu com a Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI), um processo que deve envolver o setor privado”.
O grupo do segundo painel sobre “Sustentabilidade ecológica integral” foi dirigido remotamente pelo presidente da União Africana e presidente da República Democrática do Congo, Félix Tshisekedi, antes que o enviado presidencial especial dos EUA para o Clima, John Kerry, fizesse o discurso principal presencialmente.
O presidente da Fundação Rockefeller, Raj Shah, foi um dos líderes da discussão geral que se seguiu. Junto com seus projetos humanitários, a fundação financia há anos programas de anticoncepção e provedores de aborto em todo o mundo. Shah trabalhou para a USAID durante a presidência de Barack Obama e, antes disso, ocupou diversos cargos de liderança na Fundação Bill e Melinda Gates.
O programa do congresso deu uma indicação ampla das questões discutidas no segundo painel: “Nos últimos anos, a ciência tem alertado para os impactos das mudanças climáticas e tem enfatizado a necessidade de limitar o aquecimento global para 1,5 grau Celsius. (...) Nos últimos anos, temos visto a publicação de estratégias nacionais de energia e transformação de alimentos (...) que devem ser integradas (...) para alcançar uma transição harmoniosa [de emissão zero]”.
No dia seguinte, 15 de maio, Kerry teve um encontro pessoal com o Papa Francisco. Nenhum detalhe foi divulgado, mas posteriormente foi revelado que o papa participaria da COP-26 em Glasgow, em novembro. O encontro ocorreu em meio a um conflito intensificado entre Israel e o grupo terrorista Hamas em Gaza, que é patrocinado pelo Irã.
Imagem: Papa Francisco se reúne com John Kerry | Foto: U.S. Department of State / FotosPublicas
Kerry, como um dos principais arquitetos do acordo nuclear com o Irã de 2015, que está ressurgindo no governo Biden, estabeleceu canais de comunicação com Teerã.