18 Mai 2021
Enquanto o cardeal Joseph Tobin, de Newark, falava na frente do seu computador aos participantes online do segundo dia da celebração do 50º aniversário da Campanha Católica pelo Desenvolvimento Humano, no sábado, as janelas do seu escritório estavam fechadas para limitar o ruído externo. Algo incomum para o prelado de 69 anos de idade, que, no espírito de São João XXIII, prefere as janelas da Igreja abertas.
A reportagem é de John Lavenburg, publicada por Crux, 17-05-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Se eu abri-las, vocês ouvirão todo o tipo de coisas”, explicou Tobin. “De caixas de som a samba, salsa, talvez até alguma briga ocasional. Mas a Igreja precisa dessa janela aberta para ouvir.”
Invocando a Fratelli tutti do Papa Francisco, Tobin enfatizou que escutar as pessoas de todos os âmbitos da vida é fundamental para que a Igreja possa ajudar a resolver as muitas “rachaduras e fissuras” na nossa sociedade, explicitadas pela pandemia da Covid-19.
Tobin, ao lado de outros painelistas, falou sobre as “rachaduras e fissuras” sociais que foram trazidas à tona no ano passado e sobre o que é mais importante abordar no futuro. Além da escuta, uma renovação da interação humana e o futuro do emprego estavam no topo da lista.
Em todos os casos, ele considera a tecnologia um desafio presente e futuro.
Tobin reconheceu que a tecnologia tem suas vantagens ao permitir que as pessoas se conectem quando, de outra forma, isso não seria possível (por exemplo, durante uma pandemia global), mas disse que ainda não há um substituto para o contato pessoal entre as pessoas, que ele considera como uma “necessidade”.
O cardeal também ressaltou o medo que existe em sua diocese e em outras, de que “as pessoas se acostumarão a ser telespectadoras litúrgicas e assistirão à missa todos os domingos em vídeo”.
Quanto à sua preocupação com o futuro do emprego, Tobin teme que a tecnologia, e a inteligência artificial em particular, faça mais mal do que bem.
“A tecnologia está tirando empregos, e não criando, exceto para uma camada muito elitista da sociedade, e isso vai continuar”, disse Tobin.
Kimberly Mazyck, gerente sênior de engajamento e divulgação educacional da Catholic Charities USA, também invocou a Fratelli tutti para destacar a necessidade de persistir na abordagem de questões que poderiam voltar para o segundo plano como na era pré-Covid-19, especialmente o racismo e a pobreza.
“O Papa Francisco, na Fratelli tutti, disse que ‘o racismo é um vírus que muda facilmente e, em vez de desaparecer, dissimula-se, mas está sempre à espreita [n. 97]”, lembrou Mazyck.
“Muitas coisas como essas, se nós não as abordarmos, se não ouvirmos o que precisamos ouvir, às vezes coisas que não queremos ouvir, então pode parecer que não existem mais, mas estão apenas espreitando e esperando a oportunidade surgir”, continuou ela. “Não podemos fechar os olhos diante da pobreza e do racismo.”
Uma coisa que Mazyck notou durante a pandemia em seu papel na Catholic Charities USA foi o aumento no número de famílias com insegurança alimentar. Há 10 dias, porém, ela percebeu uma redução desse número, que ela atribui ao compromisso de agências e órgãos governamentais, e organizações sem fins lucrativos em ajudar as pessoas necessitadas.
Uma mudança importante que ela observou foi a expansão das compras online no Programa de Assistência à Nutrição Suplementar (SNAP, na sigla em inglês) do governo.
“Se respondermos de forma apropriada, se encontrarmos formas de ajudar as famílias a fazerem pedidos online se estiverem no SNAP, para que possam obter os alimentos necessários com base em suas necessidades de saúde, com base em suas necessidades culturais, as pessoas comerão e serão capazes de trabalhar e viver bem”, disse Mazyck.
Olhando para o futuro, Mazyck espera que o país não volte ao normal como era antes da pandemia da Covid-19, mas, em vez disso, continue a se adaptar.
“Eu espero que realmente digamos: ‘Vimos algumas coisas que não estavam certas, sabíamos que não estavam certas antes da pandemia. Como podemos nos adaptar para realmente enfrentar essas coisas por meio da nossa Igreja e por meio das nossas comunidades?’”, questionou ela.
No início do segundo dia do evento, o cardeal Peter Turkson, prefeito do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, também falou sobre o futuro, embora não tenha mencionado nenhum assunto específico. Em vez disso, ele enviou uma mensagem mais ampla sobre a necessidade de respeitar todas as pessoas.
“Somos seres relacionais. É um convite a considerar que a cada dia, a cada momento das nossas vidas, somos lembrados do fato de que, como seres relacionais, precisamos respeitar as demandas da relação em que vivemos, e respeitar essas demandas constitui a nossa justiça diante de Deus e um perante o outro”, disse Turkson.
“Somos convidados a promover a dignidade de cada um de nós e a viver uma vida de justiça. Pois essa é a prova de que somos da única família de Deus, que é a Igreja.”
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Tecnologia é um desafio para a justiça social, afirma cardeal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU