O papel das imagens nas narrativas pandêmicas

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30 Março 2021

 

Artigo de professora da Escola de Comunicações e Artes (ECA) analisa o papel das imagens na formação de opinião e nos embates ideológicos em tempos de covid-19.

A reportagem é publicada por Jornal da USP, 22-03-2021.

“Qual a lógica, ou as lógicas que estão em jogo nas maneiras pelas quais pessoas, movimentos sociais, forças políticas se apropriam de certos mecanismos de produção e circulação de imagens e sons? Em que medida o mapeamento de imagens pode ajudar a entender a formação de opinião no mundo contemporâneo?” Essas são algumas das questões que a professora Esther Hamburger, do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão (CTR) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) busca responder por meio de suas pesquisas.

Nos últimos anos, uma das principais vertentes de seu trabalho tem sido a análise de imagens relacionadas a importantes eventos da atualidade, investigando o papel dessas imagens na formação de narrativas em um momento histórico marcado pela enxurrada de informações e pela crise da democracia. Segundo a professora, “há uma inegável dimensão cultural” organizada ao redor “da atualização de imaginários em um mundo que em alguma medida se articula em torno do controle estético e político de visualidades e visibilidades.”

A pedido da ReVista – Harvard Review of Latin America, publicação da prestigiada Universidade de Harvard, a docente estende estas reflexões para o contexto da atual crise sanitária no artigo Guerra de Imagens e Mensagens. Diante da constatação de que a pandemia vem sendo objeto de análise principalmente nos campos da medicina, economia e ciência política, Esther afirma que pensar as imagens pandêmicas e seus efeitos nas “opiniões públicas do mundo” é fundamental para compreender o momento que atravessamos.

“A crise intensifica fluxos de imagens e sons, nos transformamos em imagens ao realizar diversas atividades online. Olhamos não necessariamente para o mundo, segundo a metáfora renascentista de Aberti – reapropriada seguidamente ao longo de séculos a cada nova tecnologia, perspectivas, fotografia, cinema, televisão, internet –, olhamos para nós mesmos.”

Imagens podem estabelecer as mais diversas relações entre si, de maneira explícita ou sutil, dando origem a variados sentidos. Uma das relações mais perturbadoras identificadas no artigo de Esther é a rima visual entre as imagens da construção de um hospital em Wuhan, na China, e as imagens da abertura de uma cova coletiva no cemitério de Tarumã, em Manaus. As imagens revelam formas, cores e movimentos semelhantes, que carregam, no entanto, significados completamente distintos. “A semelhança entre elas, acentuada pelo fato de que elas tomam circuitos semelhantes, ajuda a apontar as diferenças entre a reação pró-ativa – ainda que tardia –, na China, e a reação acanhada, solapada pela falta de solidariedade e de coordenação do governo brasileiro”, diz a professora.

No artigo, Esther explica também como a ausência de imagens é tão eloquente quanto o seu oposto, especialmente quando se considera as estratégias do negacionismo. Enquanto há uma intensa produção e distribuição de imagens que desestimulam o uso de máscaras, a adesão a medidas de isolamento e a vacinação em massa, as imagens do colapso nos sistemas de saúde, dos esforços dos institutos de pesquisa e das ações de resistência e solidariedade (sobretudo em comunidades empobrecidas) parecem enfrentar mais obstáculos para viralizar nas redes. O resultado é a invisibilização de discursos e fatos que desafiam as narrativas de negação e apontam outras possibilidades de enfrentamento à crise provocada pela pandemia.

“A agenda emergente para um planeta desafiado por problemas ambientais múltiplos e por desigualdades sociais, raciais e étnicas deveria ocupar as telas. Talvez as doações e a solidariedade nunca tenham sido tão fortes, mas são invisíveis. É possível usar algoritmos para promover a produção compartilhada e democrática de conhecimento?”, pergunta a professora.

Ao citar a “antropologia reversa” de Davi Kopenawa (líder político Yanomami) e Ailton Krenak (ambientalista), Esther parece sugerir que a resposta se encontra alguns passos antes, no questionamento do modo de vida e produção vigente. Para fomentar esse debate, é necessário promover “contra-imagens”, nas palavras da docente, como o vídeo A Mensagem do Xamã, produzido pelo Instituto Socioambiental para uma campanha contra o garimpo ilegal em território Yanomami. O fluxo intenso de imagens do vídeo sintetiza, a um só tempo, as adversidades e potencialidades reveladas pela atual crise.

 

 

Guerra de Imagens e Mensagens está disponível na íntegra, em português, espanhol e inglês, no site da ReVista – Harvard Review of Latin America.

Artigo faz parte do projeto de pesquisa Em um mundo de telas

O artigo Guerra de Imagens e Mensagens integra o projeto Em um mundo de telas, que Esther Hamburger concebeu durante seu estágio como professora e pesquisadora visitante no Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Harvard, em 2015.

O projeto conta com Bolsa Produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e tem como um de seus eixos a investigação das formas “pelas quais as imagens reverberam no mundo, interagem com pessoas, corpos, outras imagens, e assim participam da definição da vida contemporânea”, segundo a docente.

O texto também se relaciona com a participação de Esther na rede internacional de pesquisa Crises of Democracy, coordenada na USP pela professora Laura Izarra, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH).

A análise de imagens de eventos contemporâneos, sua circulação e suas mediações também é explorada por Esther Hamburger no artigo Guerra das Imagens, publicado na revista Rapsódia, no capítulo “Saímos do Facebook” da coletânea Pluralidade Urbana em São Paulo (Editora 34, org. Heitor Frúgoli e Lúcio Kowarick), e no artigo Visibilidade, visualidade e performance em 11 de setembro de 2001, publicado em 2013 na revista anual da Compós.

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