26 Março 2021
“A pandemia expôs outro tipo de doenças que já existiam antes: a falta de fraternidade e as barreiras que separam ricos e pobres. Há aqueles que podem acessar aos mais altos níveis de estudo e educação enquanto outros nem sequer têm a possibilidade de abrir um livro, há aqueles que podem ir aos melhores hospitais e os que nem sequer tem paracetamol disponível. Certamente, a covid-19 agravou isso: pensemos nas disposições sanitárias mais sensíveis, como lavar as mãos ou viver separados. Em muitas partes do mundo não há água e há famílias de 6 a 7 pessoas que vivem aglomeradas. A pandemia, ainda, pôs diante dos olhos de todos, as prioridades equivocadas de nosso mundo: não há máscaras, porém há dinheiro para armas e outros instrumentos de guerra”.
Assim expressou o cardeal Luis Antonio Tagle, prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, durante o seminário web “Tocar as feridas do mundo. Crer em tempos de pandemia”, organizado pelo Festival Franciscano, pela Editora Missionera Italiana e por Antoniano de Bolonha.
A reportagem é publicada por Agenzia Fides, 25-03-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O cardeal Tagle falou das feridas deste tempo, olhando-as desde uma perspectiva de esperança: “Há muitos tipos de feridas causadas por nossas decisões equivocadas, feridas autoinfligidas. Depois estão as feridas causadas pelo exterior, por outras pessoas, por sistemas e estruturas de indiferença e desigualdade. Gostaria de voltar a 27 de março do ano passado, nessa Praça São Pedro, tão vazia, durante a linda oração, o Santo Padre nos ofereceu um grande presente de fé, recordando-nos que a Encarnação de Jesus Cristo é a proximidade de Deus a todos que sofrem. Ninguém caminha sozinho, ninguém sofre sozinho, ninguém morre sozinho. Este é o remédio: Jesus Cristo. Disso nascem as feridas de amor: os voluntários, as enfermeiras, as religiosas, os bispos, os leigos que estiveram e estão dispostos a se contagiar entrando em lugares perigosos, demonstrando que estão dispostos a serem feridos pelo amor, pela solidariedade. Quando uma pessoa ama, está disposta a ser ferida”.
Como recorda Tagle, logo após a oração de 27 de março de 2020, o Papa Francisco convocou um grupo de trabalho para responder às necessidades dos países mais pobres e planejar um futuro próximo depois da covid: “A Congregação para a Evangelização dos Povos, Caritas, o Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral e outras instâncias da Igreja foram chamados para cada um dar a sua contribuição. Nosso Dicastério de Propaganda Fide, por exemplo, tem ajudado as igrejas locais, especialmente nas chamadas necessidades institucionais, por exemplo, no fornecimento de alimentos e produtos sanitários, além de ajudar nas necessidades básicas nas terras de missão. Por outro lado, foi confiada à Caritas a missão de educar e formar as comunidades locais, para que estejam preparadas para enfrentar a pandemia, para ajudar as comunidades a não dependerem totalmente de seus governos ”.
Na missão da Igreja, para além da emergência pandêmica, disse o cardeal Tagle, também é necessário responder com credibilidade a uma crescente secularização, ligada a uma globalização “que não é apenas um fato econômico, mas também cultural”. “Não é possível colocar escudos ou barreiras para proteger as pessoas da circulação dessas ideias, mas isso não é um problema, mas um desafio que nos leva a valorizar a nossa fé”, continuou o purpurado.
Finalmente, respondendo a uma pergunta sobre o acordo entre a Santa Sé e a China, o cardeal Tagle disse: “Estou otimista com a China. Sei que o nosso Papa João Paulo II tinha o sonho de lá ir, e tenho a certeza que é também o sonho do Papa Francisco. Esperamos que o acordo entre a China e a Santa Sé, embora limitado e não perfeito, abra as portas para essa possibilidade. A diplomacia com os asiáticos costuma surpreender: quando não se espera uma porta aberta, abrem-se as janelas”.
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“A pandemia revela as prioridades equivocadas do nosso mundo”, afirma o cardeal Tagle - Instituto Humanitas Unisinos - IHU