20 Março 2021
Larissa Bombardi publicou carta onde explica sua decisão: "Recebi indicação para que eu evitasse os mesmos caminhos".
A reportagem é publicada por Brasil de Fato, 19-03-2021.
A professora Larissa Bombardi, colunista da Rádio Brasil Atual e pesquisadora do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP), publicou uma extensa carta aberta nesta quinta-feira (18). Em tom de desabafo, ela relata ataques ao seu trabalho, sobretudo após a publicação de seu atlas Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia, em 2019. As intimidações, além de outros motivos pessoais, a fizeram decidir por deixar o país.
Bombardi é autora do atlas “Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia” - Foto: Abrasco.
Mãe de duas crianças, a mestra, doutora e pós-doutora em Geografia Humana conta que, após o lançamento do livro na Europa, passou a ser intimidada. “Recebi indicação de lideranças de movimentos sociais para que eu evitasse os mesmos caminhos, alterasse os meus horários e a minha rotina, de forma a me proteger de possíveis ataques dos setores econômicos envolvidos com a temática sobre a qual eu me debruço”, disse a pesquisadora.
Ela relata que as intimidações se avolumaram após a maior rede de supermercados orgânicos da Escandinávia boicotar produtos brasileiros, a partir do conhecimento do conteúdo do Atlas.
Um dos que a atacaram por suas pesquisas foi o agrônomo Xico Graziano, ex-deputado federal pelo PSDB e apoiador de primeira hora do governo Jair Bolsonaro (sem partido). Ele acusa a pesquisadora de falsificar a história.
“A professora Larissa deforma a realidade do agro, para assim endossar sua fantasia retrógrada”, acusou, em artigo.
O agrônomo é conhecido por ter seu nome envolvido em disparos de fake news, através de seu filho, Daniel, que administrou o site Observatório Político, do Instituto Fernando Henrique Cardoso. Daniel foi intimado num inquérito por postar calúnias envolvendo Fábio Luis Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula. Entre elas, a de Fábio ser sócio da Friboi e dono de mansões, aviões e grandes áreas de terras, como o terreno onde está instalada a Escola Superior de Agricultura (Esalq), na cidade de Piracicaba. Todas desmentidas.
Assalto suspeito
Em agosto de 2020, a professora foi vítima de um assalto em sua casa. Após ter sido trancada, durante a madrugada, no banheiro, teve seu laptop antigo levado. “Era um laptop antigo de baixíssimo valor, mas que tinha todo o meu banco de dados. Felizmente eu tinha um backup em outro local, em um HD externo escondido, que não foi encontrado”.
Larissa Bombardi é também autora de estudos, em 2020, nos quais relaciona a suinocultura e a covid-19. “Os artigos tratam da hipótese, ainda não comprovada, mas já discutida por outros pesquisadores, de que a criação intensiva de animais possa ser um dos veículos de propagação da doença”, escreve.
Por conta desses textos ela conta que sofreu intimidações da Associação Brasileira dos Produtores de Proteína Animal e da própria Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Além de, outra vez, ser alvo de Xico Graziano, dessa vez numa reportagem do Jornal Nacional.
Com bolsa na Universidade Livre Bruxelas, prevista para iniciar em abril desse ano, a pesquisadora, que se abrigou com os filhos, desde o assalto, em uma casa de amigos, pretende deixar o país.
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Após intimidações por luta contra agrotóxicos, pesquisadora decide deixar o país - Instituto Humanitas Unisinos - IHU