17 Março 2021
"Muitos com que tenho conversado dizem que suas igrejas não pararam um só dia, funcionaram em ritmo industrial, festivas e indiferentes ao sofrer alheio. Dizem esses amigos e amigas que para eles não faz mais sentido. Só serve uma igreja que seja artesanal, em que vidas valem mais do que performance religiosa. Tais igrejas já encontraram o seu novo normal e nem perceberam que perderam gente muito querida que encontraram Jesus no distanciamento de uma espiritualidade tóxica, ensimesmada e terrivelmente cristã", escreve Valdemar Figueredo, editor do Instituto Mosaico e pastor. Doutor em Ciência Política (IUPERJ, 2008) e em Teologia (PUC-RJ, 2018), em texto publicado na página do Medium do Instituto Mosaico, 16-03-2021.
A grande missão deixada por Jesus: que a igreja espalhasse pelo mundo a boa notícia da salvação. Certificado de autenticidade? O amor. Amai-vos. Espalhem o amor! Não faria sentido anunciar a vida eterna sonegando o amor imediato.
Será que há brasileiros que acreditam que a igreja espalha o vírus e se tornou um espaço de difusão da morte em plena pandemia da Covid-19?
Pastores morrendo.
Templos abertos.
Corais cantando festivamente sem máscara e sem distanciamento.
Famílias enlutadas chorando baixinho para não incomodar os vizinhos.
Juristas dos púlpitos pregando que a Igreja ninguém fecha.
Médicos exaustos emendando plantões sem entrar em casa.
Os próprios membros dizendo que a Igreja presta um serviço essencial.
Um amigo babalorixá disse que desde março do ano passado o terreiro está fechado, por amor aos fiéis.
Crentes difundindo Fake News nos grupos de WhatsApp adaptando o Salmo 91.
Cientistas e pesquisadores gritando no deserto por vacina e medidas preventivas.
Pregadores eletrônicos dos seus estúdios vendendo curas milagrosas e convidando para um passo de fé.
Trabalhadores desempregados tendo que se expor na rua aos perigos da covid porque precisam garantir o pão do dia.
Igrejas modestas fazendo investimentos para proporcionar conforto, cuidado e comunhão, mesmo no ambiente virtual (espiritual).
Igreja rica promovendo em plena pandemia um congresso em que o título sugere que em tempo de crise os justos prosperam enquanto os ímpios perecem como a palha.
Profetas vendilhões dos templos e costumeiros bajuladores dos governos dizem que não é para tanto, sem medo e sem mimimi, só kkkkkkkkk.
Padre Júlio Lancellotti profetiza com a marreta que nem só de pedra vivem as pessoas em situação de rua, mas também de pontes e pães
Teólogos predestinados ao gozo eterno fazem de Olavos oráculos e reificam as teorias conspiratórias como se fossem divinas: antiestado, antivacina, antiecumênico, anticiência, antipobre, antiuniversidade, antimoderno e pró-Armas
Muitos com que tenho conversado dizem que suas igrejas não pararam um só dia, funcionaram em ritmo industrial, festivas e indiferentes ao sofrer alheio. Dizem esses amigos e amigas que para eles não faz mais sentido. Só serve uma igreja que seja artesanal, em que vidas valem mais do que performance religiosa. Tais igrejas já encontraram o seu novo normal e nem perceberam que perderam gente muito querida que encontraram Jesus no distanciamento de uma espiritualidade tóxica, ensimesmada e terrivelmente cristã.
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Igrejas que não fecham e nem choram - Instituto Humanitas Unisinos - IHU