15 Março 2021
A visão de Francisco: “É preciso um modelo de desenvolvimento sustentável para salvar a humanidade”. A mensagem aos jovens: “Tempos difíceis, mas continuem lutando para realizar os seus sonhos”.
Essas são algumas passagens do livro do Papa Francisco em conversa com Domenico Agasso, vaticanista do La Stampa, “Dio e il mondo che verrà” [Deus e o mundo que virá] (Ed. Piemme-Lev), que chegará às livrarias [italianas] na terça-feira, 16 de março.
O jornal La Stampa, 14-03-2021, publicou um trecho da entrevista. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Um trecho ampliado da entrevista pode ser lido, em italiano, aqui e em espanhol aqui.
Santidade, como o senhor interpreta o “terremoto” que se abateu sobre o mundo em 2020 na forma do coronavírus?
Na vida, há momentos de escuridão. Muitas vezes, pensamos que eles podem acontecer não conosco, mas apenas com alguma outra pessoa, em outro país, talvez de um continente distante. Em vez disso, todos nós acabamos no túnel da pandemia. Dor e sombras derrubaram as portas das nossas casas, invadiram os nossos pensamentos, agrediram os nossos sonhos e programas. E assim ninguém hoje pode se dar ao luxo de se sentir tranquilo. O mundo nunca mais será como antes. Mas, precisamente dentro desta calamidade, devem ser captados aqueles sinais que podem se revelar como eixos da reconstrução. Não bastam as intervenções para resolver as emergências. A pandemia é um sinal de alerta sobre o qual o ser humano é forçado a refletir. Este tempo de prova, assim, pode se tornar um tempo de escolhas sábias e clarividentes pelo bem da humanidade. De toda a humanidade.
Há momentos, períodos ou vidas inteiras em que parece que Deus se esqueceu de nós, que não se importa conosco, que nos deixa afundar nos nossos dramas...
É verdade, mas, na realidade, Deus está conosco, está perto de nós e, no momento oportuno, nos estenderá a mão e nos salvará.
Que urgências o senhor entrevê?
Não podemos mais aceitar inertes as desigualdades e as perturbações no ambiente. O caminho para a salvação da humanidade passa pela reavaliação de um novo modelo de desenvolvimento, que coloque como indiscutível a convivência entre os povos em harmonia com a criação. Conscientes de que toda ação individual não fica isolada, para o bem ou para o mal, mas tem consequências para os outros, porque tudo está conectado. Tudo! Mudando os estilos de vida que obrigam milhões de pessoas, principalmente crianças, às garras da fome, poderemos levar uma existência mais austera que possibilitaria uma distribuição justa dos recursos. Isso não significa diminuir direitos para alguns para uma equiparação por baixo, mas dar mais direitos, e direitos mais amplos, para aqueles que não são reconhecidos e protegidos.
Percebe sinais encorajadores?
Hoje, vários movimentos populares “de baixo”, mas também algumas instituições e associações, estão tentando promover essas noções e operações. Tentam concretizar um modo novo de olhar para a nossa casa comum: não mais como um depósito de recursos a serem explorados, mas sim um jardim sagrado a ser amado e respeitado, por meio de comportamentos sustentáveis. E, depois, há uma tomada de consciência entre os jovens, particularmente nos movimentos ambientalistas. Se não arregaçarmos as mangas e cuidarmos imediatamente da Terra, com escolhas pessoais e políticas radicais, com uma virada econômica para o “verde” e direcionando nessa direção as evoluções tecnológicas, mais cedo ou mais tarde a nossa casa comum nos jogará pela janela. Não podemos mais perder tempo.
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O papa e a vida após o vírus: “Ecologia e solidariedade são os pilares do novo mundo” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU