12 Março 2021
"Comemorar oito anos de pontificado do Papa Francisco é motivo de alegria para muita gente, também para muitos que vivemos na Amazônia. Nele descobrimos a voz profética que denuncia uma economia que mata e que cada dia ameaça em maior medida a Amazônia e seus povos", escreve Luis Miguel Modino, padre espanhol e missionário Fidei Donum.
Alguns podem considerar ousado o fato de considerar Francisco como o Papa da Amazônia, mas se torna algo evidente que a Amazônia sempre esteve presente no pensamento do atual pontífice, que neste sábado, 13 de março, completa oito anos na Cátedra de Pedro.
Nos primeiros meses do seu pontificado, no encontro que teve com o episcopado brasileiro no dia 27 de julho de 2013, com motivo da Jornada Mundial da Juventude, celebrada no Rio de Janeiro, ele falou sobre um ponto “que considero relevante para o caminho atual e futuro não só da Igreja no Brasil, mas também de toda a estrutura social: a Amazônia”. Em suas palavras destacava a importante presença da Igreja na Amazônia, que está “não como aqueles que têm as malas na mão para partir depois de terem explorado tudo o que puderam”.
O Papa Francisco sempre olhou para a Amazônia desde uma espiritualidade do cuidado, e daí ele destacava a presença “determinante no futuro daquela área” que a Igreja tem. No mesmo discurso, ele abordava outra questão muito presente no seu pensamento, os migrantes, dizendo que “penso no acolhimento que a Igreja na Amazônia oferece hoje aos imigrantes haitianos depois do terrível terremoto que devastou o seu país”.
Ele lembrava do Documento de Aparecida, onde ele foi seu relator geral, coordenando assim os trabalhos de redação do documento, que incluía “o forte apelo ao respeito e à salvaguarda de toda a criação que Deus confiou ao homem, não para que a explorasse rudemente, mas para que tornasse ela um jardim”.
Esses elementos serão recolhidos na encíclica Laudato Si', publicada em 2015, que nos fala sobre o cuidado da casa comum. Trata-se de um texto onde a Amazônia aparece explicitamente só uma vez, mas onde o espírito amazônico perpassa todo o escrito. Foram os primeiros passos de algo que se concretizou naquilo que o próprio Papa Francisco definiu como o filho da Laudato Si': o Sínodo para a Amazônia.
O impacto do Sínodo para a Amazônia, que começou na sua única presença como Papa na Amazônia, na visita que ele fez a Puerto Maldonado, Peru, foi algo que ultrapassou as fronteiras da Igreja, colocando a Amazônia e a defesa do seu bioma e dos povos que a habitam, sobretudo os povos originários, no foco midiático mundial. De fato, estamos falando de um Sínodo que teve a cobertura integral de alguns dos meios de comunicação mais destacados do mundo.
Isso provocou a reação daqueles que só enxergam a Amazônia como fonte de recursos, passando o trator por cima de tudo o que encontram pela frente, inclusive os povos que habitam a região. Alguns governos, dentre eles o brasileiro, fizeram de tudo para tentar impossibilitar a celebração do Sínodo e tirar o foco daquilo que sempre esteve no pensamento do Papa Francisco, o cuidado da Amazônia e de seus povos.
Comemorar oito anos de pontificado do Papa Francisco é motivo de alegria para muita gente, também para muitos que vivemos na Amazônia. Nele descobrimos a voz profética que denuncia uma economia que mata e que cada dia ameaça em maior medida a Amazônia e seus povos. Sejamos gratos com aquele que tem a Amazônia no seu pensamento, nas suas palavras e sobretudo no seu coração.
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Oito anos de pontificado de Francisco, o Papa da Amazônia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU