05 Março 2021
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de João 2,13-25, que corresponde ao 3° Domingo de Quaresma, ciclo B do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Quando Jesus entra no Templo de Jerusalém, não encontra pessoas que procuram Deus, mas sim comércio religioso. A sua atuação violenta perante os «vendedores e cambistas» não é mais do que a reação do Profeta que se encontra com a religião transformada em mercado.
Aquele Templo, chamado a ser o lugar onde se haveria de manifestar a glória de Deus e o seu amor fiel, converteu-se em lugar de enganos e abusos, onde reina o desejo de dinheiro e comércio de interesses.
Quem conheça Jesus não estranhará sua indignação. Se algo aparece constantemente no núcleo da sua mensagem, é a gratuidade de Deus, que ama os seus filhos e filhas sem limites e só quer ver entre eles o amor fraternal e solidário.
Portanto, uma vida transformada em mercado, onde tudo se compra e vende – inclusive a relação com o mistério de Deus –, é a perversão mais destruidora do que Jesus quer promover. É certo que a nossa vida só é possível a partir do intercâmbio e do serviço mútuo. Todos vivemos dando e recebendo. O risco está em reduzir as nossas relações a comércio interessado, pensando que na vida tudo consiste em vender e comprar, tirando o máximo proveito dos outros.
Quase sem nos darmos conta, podemos converter-nos em «vendedores e cambistas» que não sabem fazer outra coisa senão negociar. Homens e mulheres incapacitados de amar, que eliminaram das suas vidas tudo o que seja dar.
É fácil então a tentação de negociar mesmo com Deus. Oferece-lhe algum culto para ficar bem com Ele, pagam-se missas ou fazem-se promessas para obter dele algum benefício, cumprem-se ritos para tê-lo a nosso favor. O grave é esquecer que Deus é amor, e o amor não se compra. Por algo dizia Jesus que Deus «quer amor e não sacrifícios».
Talvez o primeiro que precisamos escutar hoje na Igreja é o anúncio da gratuidade de Deus. Num mundo convertido em mercado, onde tudo é exigido, comprado ou ganho, só o gratuito pode continuar a fascinar e surpreender, porque é o sinal mais autêntico do amor.
Os crentes devemos estar mais atentos em não desfigurar um Deus que é amor gratuito, fazendo-O à nossa medida: tão triste, egoísta e pequeno como as nossas vidas mercantilizadas.
Quem conhece «a sensação da graça» e já experimentou alguma vez o amor surpreendente de Deus, sente-se convidado a irradiar a sua gratuidade e é provavelmente aquele que melhor pode introduzir algo bom e novo nesta sociedade em que tantas pessoas morrem de solidão, tédio e falta de amor.
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O amor não se compra - Instituto Humanitas Unisinos - IHU