12 Janeiro 2021
Não adianta xingar os invasores do Capitólio, eles não acreditam em nós
A turba não está nem aí para as instituições democráticas e considera todas corruptas.
10.jan.2021 às 12h00
EDIÇÃO IMPRESSA
FSP
Imagine que você cresceu em bairros periféricos e não teve acesso a muita coisa boa que permite as pessoas se educarem e ganharem dinheiro.
Agora, imagine que você escuta com frequência, porque trabalha para a elite, coisas como “minha empregada, coitada, é evangélica, não teve opção na vida”, “essas crianças vão reproduzir a violência que veem nos seus bairros e nas suas casas”, “pessoas ignorantes votam em idiotas”, e por aí vai.
Agora, imagine que essas pessoas da elite, com as quais você convive profissionalmente, resolvem explicar pra você que, como você é ignorante e pobre, você acredita em fake news. Imagine você, servindo cafezinho para essas “gentes”, enquanto eles e elas, todos e todas bem chiques, discutem a complexidade do impacto da desinformação na era das mídias sociais e como isso fortalece discursos populistas do tipo Trump e Bolsonaro.
Arriscaria dizer que não adianta ficarmos xingando os invasores do Capitólio em Washington, do dia 6 de janeiro, porque eles não acreditam em nós que somos mais inteligentes, mais ricos (no geral) e mais bem informados.
Somos essa elite chique que discute a complexidade do impacto da desinformação na era das mídias sociais e como isso fortalece discursos populistas tipo Trump e Bolsonaro.
Eles são os que fazem nossas estantes em nossas bibliotecas ou os que fazem o encanamento de nossas casas de praia.
Agora, eles têm formas de transformar o ressentimento e a exclusão de postos institucionais de produção de informação em ação. Diria, em práxis. Eis o caráter democrático popular das redes. A vocação à tagarelice na democracia já era apontada por Alexis de Tocqueville (1805-1859) em seu monumental “Democracia na América”.
A elite não gosta de ruídos e falta de educação. Mas, é típico de toda elite hoje ser condescendente com os menos afortunados. E quando esses se fazem revoltosos, temos uma gama de justificativas para julgá-los.
A extrema direita americana e brasileira julgam ter atingindo o grau de verdadeiros revolucionários e disputam pau a pau o vocabulário jacobino. A esquerda, atordoada, como toda elite quando vê gente se comportando de forma inadequada em relação ao status quo, busca explicações para se acalmar à noite, além de tranquilizantes.
Essa turba não está nem aí para as instituições democráticas. Consideram-nas todas corruptas e defensoras das elites. Xingam jornalistas de mentirosos porque a mídia é elite, assim como as universidades.
Há uma ruptura de vocabulário que a inteligência pública insiste em não reconhecer porque alimenta, ainda, o fetiche de termos como “revolucionário”, “quebra de paradigmas”, “preconceitos estruturais” e afins. Essa turba pensa que nós temos um preconceito estrutural contra gente que não aceita nossas explicações sofisticadas para o mundo deles.
As redes sociais estão criando uma ruptura radical na semântica da reflexão pública, trazendo à tona todo um universo de significados políticos (e outros) que a maioria de nós não consegue assimilar porque aderimos a um jogo de linguagem de gente chique: “defesa das instituições democráticas” soa, para os descamisados dos Estados Unidos, como “se não tem pão por que não comem brioche?”.
Essa turba aprendeu a lição da disputa por narrativas e sabe que as pessoas, na realidade profunda do cotidiano, acreditam em qualquer lixo que as agrade. O povo, quando faz o que eu acho idiota, é ignorante. Quando faz o que eu acho legal, é progressista.
Um detalhe significativo. Luís Corrêa Lima, no seu “Fernand Braudel e o Brasil, Vivência e Brasilianismo (1935-1945)”, Edusp, 2009, dedica excelentes páginas à missão francesa na USP nos anos 1930, da qual Braudel fez parte.
Numa dessas narrativas, vemos que os jantares inteligentes da elite paulistana de então tinha que ter seu francês inteligente, antes do vinho e do jantar, ilustrando a noite. Essas “gentes” tinham seus serviçais ignorantes também. Nada mudou. Continuamos com nossos franceses, em nossos jantares inteligentes, em que vomitamos com demonstrações de política sem educação.
Luiz Felipe Pondé
Escritor e ensaísta, autor de “Dez Mandamentos” e “Marketing Existencial”. É doutor em filosofia pela USP.
Falou o bruxo da Má-ringa. O cruel, o satã, o empresário, o dinheirista, o economista de Bajé, o artista da morte, o ignóbil, o rico paranaense, o mico da evolução
O genocídio é programado. Não se trata de incompetência. A desculpa é esfarrapada. O ministro da saúde (?) do Inominável cumpre ordens: deixar morrer. Talkey?
Do jornalista Luís Costa Pinto:
"A GM fechou no ABC. A Mercedes foi embora. Hoje, Ford anunciou que também vai embora do Brasil. Entre 2012 e 2013, quando éramos o melhor lugar para estar no mundo, produzíamos quase 3 milhões de automóveis por ano. Eis o Brasil pós-golpe de 2016."
Horror é ligar a TV e, no momento em que a Ford anuncia a sua saída do país, o BB anuncia o fechamento de muitas agências e demissão de 5000 funcionários, ver e ouvir Ana Flor defendendo as "reformas", o "teto de gastos"e outras sandices criminosas como "única saída" para o Brasil. O sotaque sulista não engana: existem pessoas que têm na alma o sotaque de Joaquim Silvério dos Reis, traidor do povo mineiro avant la lettre. Ana Flor trai post factum. Como é o caso da sumida, graças aos céus, Neuberth. Não me acusem por favor de gordofóbico, mas a Globo News ostenta também uma gordinha (tenho tamanho asco que não consigo lembrar o nome), a que declarou terem os mercados se rejubilado com a morte de Zavascki. Ela chega a ser pior do que a Ana Flor. Perto de semelhante planta carnívora, Cantanhede é um jardim de humanidade. Roberto Romano
Na disputa pela Presidência da Câmara vêm à tona coisas do arco da velha.
O Globo informa hoje que Rodrigo Maia exonerou 1.700 pessoas que ocupavam cargos de "natureza especial", de livre nomeação pelo presidente da Casa.
Eles tinham sido indicados por apoiadores de Arthur Lira, adversário do seu candidato.
Os salários vão de R$ 3 mil a R$ 15 mil.
É essa gente que defende a retirada dos direitos dos servidores de carreira, afirmando que o Estado está inchado.
O caso de Trump x Twitter (e Facebook) mostra os buracos no modelo atual de organização da esfera pública.
Por quase um século, as democracias ocidentais desenvolveram um modelo de regulação do rádio, da TV e, em alguns casos, também dos jornais impressos. É certo que a escassez de frequências era uma das justificativas para a regulação da radiodifusão, mas toda a racionalidade do modelo de regulação e do modelo de desenvolvimento dos sistemas públicos de comunicação partia do princípio de que concentração de poder na comunicação afeta diretamente a democracia.
Ante esse fato, criaram-se modelos de legislação, regulação e políticas públicas que tinham como foco garantir pluralismo e diversidade, proteger e promover a liberdade de expressão e equilibrar a liberdade de expressão com outros direitos fundamentais. Neste contexto, incitação à violência e promoção da subversão da ordem democrática sempre foram proibidos em grande parte das democracias consolidadas.
No desenvolvimento da Internet, muita gente achou que a questão de concentração de poder estava superada. À medida que as redes sociais foram ganhando mais poder, o que ficou nítido a partir especialmente a partir de 2010, foi ficando evidente para todos os que vinham do debate da regulação das comunicações que o poder que estava se concentrando ali tinha efeito muito maior que o econômico. Era preciso se antecipar, para evitar chegar ao ponto em que a esfera pública estivesse completamente dominada por poucas empresas. Mas o temor do poder de censura estatal e da tentação autoritária de governos fez (e faz) muitas organizações da sociedade civil e pesquisadores acharem que não valia a pena apostar na regulação pública.
O problema é que a discussão sustentada em tecnologia foi se mostrando insuficiente para dar conta do novo cenário de organização da esfera pública, dos ambientes de troca e circulação de informação. Em abril de 2016, levamos (pelo Ministério da Cultura) esse tema à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos.
Poucos meses depois, o episódio do Brexit e a eleição de Trump, entremeados pelo escândalo da Cambridge Analytica, evidenciaram que havia um problema. Desde então, as evidências se multiplicaram. Em 2020, o caldo entornou. E 2021 se iniciou com o banimento de Trump do Twitter e a suspensão pelo Facebook.
Tratados e legislações internacionais exigem, para que se imponham limites à liberdade de expressão, que elas passem no teste dos três passos: legalidade, necessidade e proporcionalidade. Mas todo o sistema foi pensado baseado na lógica de aplicação pública dessas respostas e de supervisão judicial dessas medidas.
Ou seja, o mais forte para mim, e que tenho visto se discutir pouco, é que não deveria caber ao Twitter e ao Facebook serem ao mesmo tempo promotor e juiz, ainda mais quando eles são, também, parte, legislador e, em última instância, tribunal de apelação.
A discussão, então, deve ser vista em duas partes, de mérito e de forma/processo.
No mérito do caso concreto, acho que a retirada do conteúdo de Trump tem sustentação legal, era necessária (por incitação à violência e à subversão da ordem democrática) e seria proporcional, ainda mais considerada a gravidade das consequências. Já o banimento da conta (no caso do Twitter) me parece que não responde à necessidade muito menos à proporcionalidade. A suspensão do Facebook é mais defensável, mas precisaria ser discutida a partir de parâmetros de direitos humanos.
Mas é na forma e no processo que está o maior problema. Dada a centralidade desses meios de comunicação para a organização da esfera pública, e, portanto, da democracia, os processos de moderação de conteúdo deveriam responder a parâmetros públicos definidos por lei. Pelo volume e velocidade, a aplicação inicial desses parâmetros deveria se dar pelas plataformas, mas com supervisão pública por órgãos reguladores independentes e em diálogo com os mecanismos tradicionais de justiça (Ministério Público, juízes, defensorias etc.).
Não deveríamos estar discutindo a ação do Twitter com base na política do Twitter, mas sim uma ordem legal com base em legislações nacionais (coerentes com os tratados e legislações internacionais).
É claro que, na ausência desses ordenamentos, é importante que haja ação das plataformas. Mas o poder absoluto que elas têm é inconcebível numa democracia. Sanções proporcionais poderiam ter impedido cautelarmente a difusão dos discursos de Trump (desde antes, inclusive), mas é preciso garantir o devido processo legal.
A Europa e o Reino Unido lançaram em dezembro propostas de regulação sobre o processo de moderação de conteúdo. O Digital Services Act (Europa) e o Online Harms Bill (Reino Unido) apontam caminhos possíveis para lidar com o tema. O que não dá mais é para negligenciar os 100 anos de debate sobre regulação democrática das comunicações e naturalizar o absolutismo das plataformas.
Cacique Raoni (Foto: Ricardo Stuckert)
Vejam as fotos. São estas pessoas que o governo brasileiro quer retirar de suas terras e de sua cultura para jogá-las na periferia de grandes cidades - em nome do progresso.
Isso me faz lembrar de Darcy Ribeiro:
"Darcy mostrou como o primeiro passo no processo de submissão e destruição dos indivíduos indígenas era a transformação do índio específico – o gavião, o urubu-kaapor, o xavante, o bororo, portador de uma história, integrante de uma comunidade, habitante de um espaço cheio de significados – naquilo que chamou de “índio genérico”, um sem-lugar, cuja indianidade, inscrita no seu corpo mas não mais na sua cultura, passava a ser um signo negativo no mundo dos brancos, no qual ele se inseria sempre por baixo." ["Certa ideia de Brasil", texto meu]
É patético, tragicômico, morrer da peste às vésperas da chegada da vacina. Voltamos a ter quase 1 mil mortos e mais de 50 mil novos contaminados por dia. Só os casos testados e confirmados, fora os assintomáticos e não testados, que devem ser 80%. Ou seja, devem ser uns 400 mil novos contaminados por dia, entre 2,5 e 3 milhões por semana, uns 40 milhoes até o inicio da vacinação em massa. E desta vez nós somos os principais responsáveis. Todos relaxamos, muitos passaram a cometer irresponsabilidades. Hora de apertar a autodisciplina e redobrar os cuidados. Cada um sabe o que pode fazer. O que importa é sobreviver por mais uns três meses.
A bíblia sagrada quando bem usada têm o poder de curar, libertar , santificar, transformar e salvar a vida de qualquer um.
Só que a mesma bíblia quando nas mãos de homens cruéis ela tem o poder de matar, roubar, enganar e destruir.
Você acha sinceramente do fundo do seu coração que Jesus Cristo aprovaria esses dois elementos como seus discípulos?
Marcelo Godoy. Copio para os não assinantes. RR
Infiltração da extrema-direita é ameaça para Forças Armadas e polícias
Marcelo Godoy, O Estado de S. Paulo11 de janeiro de 2021
Caro leitor,
Durante toda a Guerra Fria, os comandantes de Forças Armadas e de órgãos de segurança do Ocidente viviam preocupados diante da influência comunista em suas unidades. Diziam que o problema era ter em um posto-chave algum oficial identificado com as ideias do inimigo em razão do risco para a segurança de suas forças. A situação seria pior em caso de guerra em sociedades divididas, como a italiana, onde um embate com o Pacto de Varsóvia podia facilmente reacender o conflito civil que o país conhecera nos anos finais da 2.ª Guerra Mundial.
No Brasil, o medo da infiltração comunista e da constituição de células do PCB no Exército se nutria da lembrança da rebelião de 1935 e do impacto do caso do capitão Carlos Lamarca, do 4º Regimento de Infantaria. Os relatórios periódicos de informação produzidos pelos generais Tamoyo Pereira das Neves e Sérgio Augusto de Avellar Coutinho nos anos 1980 mostram o grau de preocupação com a agitação nos quartéis e a vigilância mantida pelo Centro de Informações do Exército (CIE).O relatório de fevereiro de 1989, assinado por Coutinho, fazia um balanço sobre a participação de militares da ativa e da reserva nas eleições municipais de 1988. Ele mostrava que 40 oficiais e praças haviam se apresentado aos eleitores - 18 da ativa, entre os quais o capitão Jair Bolsonaro. Com o atual presidente, outros 21 oficiais haviam se candidatado (nove da reserva). Para o general Coutinho, o quadro mostrava que a política sensibilizava pouco os militares da ativa, onde haveria "certa imunidade para aliciamento político". "Entretanto, estes dados não indicam a impossibilidade do aliciamento ideológico, que pode estar ocorrendo clandestinamente dentro e fora dos quartéis."A afirmação do general era seguida por informações sobre o ataque ao quartel do 23.º Regimento de Infantaria Blindada, em La Tablada, na Argentina, onde um grupo esquerdista liderado pelo guerrilheiro Enrique Gorriarán Merlo tentou tomar a unidade. Entre os assaltantes estava a brasileira Aldira Pereira Nunes, uma das 39 pessoas mortas na ação. O movimento comunista era vigiado e monitorado pelos militares. E as manifestações de grupos de esquerda continuaram a ser alvo de vigilância de militares da inteligência, como demonstrou em 2016 o trabalho do capitão William Pina Botelho, o Balta.
Na Europa e nos Estados Unidos outro tipo de infiltração preocupa chefes militares e políticos: a de ativistas de extrema-direita. Eles são hoje o principal perigo para a democracia em países como Alemanha, Espanha e Estados Unidos. Foi isso que levou a Alemanha a dissolver uma companhia do Comando de Forças Especiais (KSK), uma tropa de elite das Forças Armadas alemãs. A medida foi anunciada pela ministra da Defesa do país, Annegret Kramp-Karrenbauer, em razão do envolvimento de integrantes da unidade com extremistas da direita alemã. As Forças Armadas e as polícias alemãs mantêm investigações permanentes sobre a possível radicalização de seus integrantes. No caso da companhia dissolvida, seus homens organizaram uma festa de despedida para um comandante na qual fizeram a saudação nazista. Em 2017, o governo alemão colecionava 391 investigações sobre infiltração da extrema-direita no Exército. No mesmo ano, o Alternativa para a Alemanha (AfD, partido da extrema-direita, obteve 12,6% dos votos e se tornou a 3ª maior bancada da Câmara baixa, o Bundestag, com 94 deputados. No começo de dezembro, o Ministério da Defesa espanhol enviou ao Ministério Público cópias de mensagens de um grupo de WhatssApp de militares do país nas quais se discutia um golpe. Em novembro, 73 deles haviam enviado uma carta ao rei Felipe VI declarando se oporem ao governo espanhol, liderado pelo socialista Pedro Sánchez. Entre as mensagens, havia uma do major-general Francisco Beca: "Não há outra opção senão começar a fuzilar 26 milhões." O grupo foi denunciado por outro militar, que acusou os colegas de serem franquistas influenciados pelo Vox, o partido da extrema-direita espanhola, que obteve 15% dos votos na última eleição e fez 52 parlamentares. Nos Estados Unidos, a infiltração de grupos da extrema-direita ligados ao presidente Donald Trump voltou ao debate depois da facilidade com que os extremistas invadiram e vandalizaram o prédio do Capitólio. Havia a suspeita de que policiais e militares de folga tivessem participado da ação. Uma das vítimas fatais da baderna foi a trumpísta e veterana da Força Aérea Ashli Babbit, morta pela polícia no ataque. Nos EUA não existe - como na Alemanha - um controle permanente nas forças policiais e nas militares para lidar com o fenômeno.
No Brasil, a infiltração da extrema-direita nas forças policiais e nas Forças Armadas é promovida pelo bolsonarismo. O guru Olavo de Carvalho ofereceu seus cursos online de graça a policiais e a militares. Enquanto alguns militares ainda se preocupam com movimentos sociais e organizações não governamentais, os quartéis são invadidos a partir da base pelo radicalismo bolsonarista, primo-irmão do extremismo trumpista. Em São Paulo, as polícias mantém um acompanhamento da ação de grupos de ódio e de extremistas. A Polícia Civil, por meio de uma delegacia, e a PM pelo Departamento Político de seu Serviço de Inteligência. O foco, porém, ainda é o antigo extremismo, aquele de grupos punks e skinheads ou neonazistas. Há, porém, novas facções. Eles se articulam na internet e divulgam suas ideias, como o QAnon, cujos membros participaram do assalto ao Capitólio, onde cinco pessoas morreram - entre elas o policial Brian Sicknick, que tentava conter os vândalos. O grupo se transformou em um centro irradiador de radicalismo e teorias conspiratórias em todo mundo. Não há notícia ainda que a Contrainteligência ou as Corregedorias da Polícia tenham aberto investigações para apurar a infiltração desses extremistas em suas fileiras. O mesmo vale para as Forças Armadas.
Esses grupos podem encontrar um terreno fértil na simpatia que o radicalismo bolsonarista desperta entre policiais e militares. É ele que explicaria a razão pela qual um policial militar se preocupa em fotografar a Kombi da Pastoral dos Povos de Rua, da Arquidiocese de São Paulo, no que foi compreendido como uma tentativa de constranger os assistentes sociais que distribuíam pães a moradores de rua, no sábado, dia 9, na Praça Princesa Isabel, no centro. Em vez de se dedicar a reprimir traficantes na vizinha cracolândia, o policial gastou seu tempo e o dinheiro dos impostos do contribuinte com o qual é pago para controlar os agentes da pastoral. Talvez a turma dos direitos humanos seja mais perigosa do que os bandidos do PCC.
Essa conivência com o extremismo também estava no policial que abraçou uma manifestante bolsonarista que carregava um taco de beisebol em uma passeata na Avenida Paulista em vez de apreender o objeto e identificar a suspeita. Ou ainda no policial que se sentiu à vontade para postar em suas redes sociais que ia descer a borracha em manifestantes contrários a Bolsonaro em São Paulo. Denunciado, o policial foi afastado do trabalho naquele dia. Foi pouco. Um policial sem isenção e partidário não serve para a defesa da sociedade e da democracia. Torna-se braço-armado de uma facção extremista que ameaça o País com baderna igual à americana nas eleições de 2022.
O mais grave na desatenção das forças de segurança em relação aos extremistas de direita é o fato de que, nos últimos anos, eles passaram a disputar com grupos islâmicos a primazia das ações terroristas ao redor do mundo. Em 2011, um deles matou 77 pessoas em um acampamento de jovens na Noruega. Em 2019, outro assassinou 51 pessoas na Nova Zelândia. Nos Estados Unidos, supremacistas brancos foram responsáveis por massacres em uma igreja em Charleston, em 2015, em uma sinagoga em Pittsburgh, em 2018, e em um supermercado em El Paso, em 2019. Os alvos eram muçulmanos, negros, judeus e hispânicos. Antes da eleição nos EUA, o FBI desbaratou um plano de extremistas para sequestrar a governadora democrata de Michigan, Gretchen Whitmer.
Não adianta dizer que a democracia não está em perigo no Brasil, se a ideia que alguns dela têm é meramente instrumental. A oposição não pode desempenhar apenas um papel simbólico, e a alternância de poder não deve ser tratada como ameaça ou risco de anomia. Achar que o perigo vem de um comunismo internacional que não existe mais ou de uma Guerra Fria do século passado é uma luta contra moinhos de vento, enquanto outra ameaça - real - deixa uma fila de cadáveres mundo afora. Se os chefes militares e policiais querem manter a política fora dos quartéis, devem começar a se preocupar com a infiltração da extrema-direita em suas organizações. Ela pode arrastar o País ao caos em nome dos delírios de terroristas que pretendem entregar o poder a promotores de badernas armadas.
Marcelo Godoy
Repórter especial | Jornalista formado em 1991, está no Estadão desde 1998. As relações entre o poder Civil e o poder Militar estão na ordem do dia desse repórter, desde que escreveu o livro A Casa da Vovó, prêmios Jabuti (2015) e Sérgio Buarque de Holanda, da Biblioteca Nacional (2015).
Estado Policial
Hoje a imprensa (o Estado de São Paulo e outros veículos) traz uma notícia velha como a ditadura de 1964.
O poder federal arrancará os últimos controles da Polícia Militar dos Estados. O regime tirânico já retirou dos governadores o controle pleno da Força Pública, espécie de exército estadual para garantir o mínimo da força física que sustenta um poder. Foram fechadas as Guardas Civis e seus membros incorporados na Polícia Militar comandada por um coronel que servia ao Exército. Com tal medida, ocorreu o fim efetivo do federalismo no Brasil. Sem os três monopólios (força física, norma jurídica, impostos) não existe poder estatal. Assim, os governadores foram despossuídos de poderes reais. Na época, eles próprios eram nomeados pelo governo central, nas mãos de ditadores civis e militares.
A questão do monopólio da força se concentrou a partir daí na repressão aos "subversivos"e aos "bandidos". Salim Maluf e outros corruptos fascistas insistiam todo dia e toda noite: "a Rota na rua". Seu megafone chamava-se "programa de TV policial". Canalhas da mídia televisiva e de rádio berravam a cada átimo a necessidade de se entregar à polícia o controle da vida pública. A propaganda calou fundo no cérebro movido a novelas da população sem escola, sem saúde, sem direitos mas que se tornou cúmplice da abolição de todos os direitos. "A turma dos direitos humanos", liderada por Dom Arns e outros passou a ser a inimiga das "pessoas de bem".
Além do poder democrático, o Brasil perdeu as noções mais elementares de civilização. Foi aí que os indígenas passaram a receber (mesmo após o genocídio que sofreram desde 1500) o título de "gafanhotos"que, além de nada produzirem em termos capitalistas, seriam nocivos pois apenas usufruíam a natureza sem desmatar, sem plantar com agrotóxicos, etc. Os negros tiveram sua sorte piorada com a concentração da força nas mãos da Polícia Militar. Membros daquela corporação ficavam ansiosos para serem entrevistados por Datena e seus iguais, sempre caluniando os direitos, sempre com preconceitos. O termo para designar um suspeito passou a ser "o elemento".
Escrevi sobre tal coisa ao criticar o policiamento imposto pela ditadura e que dura até hoje. É segredo de Polichinelo que Bolsonaro tem planos de ficar no Palácio do Planalto enquanto viver (se é possível pensar que ele vive, pois lhe faltam todos os elementos de uma existência humana), deixando o legado do poder federal para seus pimpolhos. Peça chave para a façanha é o controle das polícias militares, das baixas patentes das Forças Armadas, das milícias. Agora –e volto ao início do post– está sendo discutido no Congresso Nacional um projeto de reorganização das polícias militares que retira de vez qualquer possibilidade de ação dos governadores sobre a Polícia Militar. A ditadura encerra o ciclo da morte de modo patético. O Brasil será doravante conhecido como a república dos Tonton Macoute. E instituições como o Congresso, o STF etc serão apenas fantoches dos novos "generais"da PM, apoiados e apoiando o Inominável.
Já passou da hora: os que desejam uma democracia para o Brasil (algo que nunca existiu aqui em plenitude) dirão amém para o projeto? Enquanto nefelibatas discutem as formas das nuvens, a boiada passa. Que os democratas recordem o que ocorreu no século 20 brasileiro, com duas ditaduras ferozes. Ou preferem sofrer o guante de novos Filinto Muller e suas aplicações de ferro ardente na pele dos oposicionistas, ou passar pelos inventos do Delegado Fleury e Ustra? O destino de 200 milhões está em jogo. Que se pare a prática dos tratos e inimizades miúdos. União das forças democráticas já! Sem sectarismos e sem dogmas, porque tal é a via da mais melancólica derrota. A via da morte programada.
Teu dinheiro indo limpinho pro bolso do bispo. Nem precisa ser fiel pra pagar dízimo pra charlatão.
Projeto: Filmes em Perspectiva: Faustino Teixeira e Mauro Lopes com convidados. Presenças dos debatedores, que vão se intercambiar:
Angelo Atalla (UFJF) e Rodrigo Petrônio (FFAP-SP)
Os debates ocorrerão, a partir de 24 de fevereiro de 2021, com o filme de Hector Babenco: Meu amigo hindu, com o comentário de Faustino Teixeira e Angelo Atalla. Os debate ocorreram sempre nas terceiras e quartas quartas de cada mês)
Horário: 17:00 - 18:00
Projeto comum: Paz e Bem e IHU (Unisinos)
Previsões de outros filmes:
. Paris Texas (Win Wenders)
. Asas do desejo (Win Wenders)
. Luz de inverno (Bergman)
. Vergonha (Bergman)
. O sétimo selo (Bergman)
. A hora do lobo (Bergman)
. Cenas de um casamento (Bergman)
. Sonata de outono (Bergman)
. A paixão de Ana (Berman)
. Morangos Silvestres (Bergman)
. Noites Brancas (Luchino Visconti)
. E nós que nos amávamos tanto (Ettore Scola)
. A família (Ettore Scola)
. O discreto charme da burguesia (Luis Buñuel)
. O segredo das águas (Naomi Kawase)
. Era uma vez na América (Sergio Leone)
. O sacrifício (Andreui Tarkóvski)
. Para sempre Alice (Richard Glatzer e Wash Westmoreland)
. Ginger e Fred (Fellini)
. Um dia de chuva em Nova York (Wood Allen)
. Fale com ela (Pedro Almodóvar)
. Cria Cuervos (Carlos Saura)
. O quarto do filho (Nanni Moretti)
. Teorema (Pier Paolo Pasolini)
. Acossado (Jean-Luc Godard)
. Corações e mentes (Peter Davis)
. Nostalgia (Andrei Tarkóvski)
. Violência e Paixão (Jacques Rivette)
. Balzac e a costureirinha chinesa (Dai Sijie)
. O amante (Jean-Jacques Annaud)
. Um homem, uma mulher (Claude Lelouch)
. Zorba o grego (Michael Cacoyannis)
. Lolita (Stanley Kubrick)
. Blue Jasmin (Woody Allen)
. Homen Irracional (Woody Allen)
. Ana e os lobos (Carlos Saura)
. Além da linha vermelha (Terrence Malick)
. A liberdade é azul (Krzysztof Kielowski)
. A igualdade é branca (Krzysztof Kielowski)
. A fraternidade é vermelha (Krzysztof Kielowski)
. El bosque del luto (Naomi Kawase)
. Gosto de cereja (Abbas Kiarostami)
. O vento nos levará (Abbas Kiarostami)
. Pontes de Madison (Clint Eastwood)
. Sabor da vida (Naomi Kawase)
. Vision (Naomi Kawase)
. O enigma de Kaspar Hauser (Werner Werzog)
. Derzu Usala (Akiro Kurosawa)
. Sonhos (Akiro Kurosawa)
. Rapsódia de agosto (Akiro Kurosawa)
. Viver (Akiro Kurosawa)
. Tess (Roman Polansky)
. Decálogo (Krzysztof Kieslowski)
. Pontes de Madison (Clint Eastwood)
. Um dia muito especial ( Ettore Scola)
E outros que se seguirão
Neste semestre terei o prazer de fazer algumas incursões no curso do querido Faustino Teixeira abordando estes filmes acima, junto com Angelo Atalla. Uma parceria do Paz e Bem e do IHU (Unisinos).
"Toda mulher, ao saber que está grávida, leva a mão à garganta: ela sabe que dará a luz um ser que seguirá forçosamente o caminho de Cristo, caindo na sua via muitas vezes sob o peso da cruz"
Clarice Lispector
Oscar Wilde
(Minha frase predileta)
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