25 Novembro 2020
O Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic) e a Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político, integrada por 96 organizações compromissadas com a democracia, manifestaram solidariedade à professora aposentada Ana Lúcia Martins, a primeira mulher negra eleita para a Câmara de Vereadores de Joinville, Santa Catarina.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
Ana recebeu ameaças nas redes sociais tipo: “Agora só falta a gente matar ela e entrar o suplentes que é branco (sic)”. “Sabia que não seria fácil. Estava ciente de que enfrentaria uma certa resistência em uma cidade que elegeu apenas na segunda década do século XXI a primeira mulher negra. Só não esperava ataques tão violentos”, admitiu a vereadora do PT ao jornal Brasil de Fato.
O Conic e a Plataforma dos Movimentos Sociais exigem que as instituições responsáveis por investigar essas denúncias “realizem apurações sérias e transparentes e que as pessoas responsáveis pelas ameaças sejam responsabilizadas nos termos da lei”. Ana Lúcia é reconhecida nacionalmente pelo seu engajamento e compromisso contra o racismo e pela dignidade das mulheres negras.
A manifestação de solidariedade destaca que o Brasil tem uma dívida histórica com as populações negras, indígenas e trans. “Garantir que os espaços institucionais de representação política sejam reflexo da sociedade é um passo fundamental para repararmos esta divida. Não há democracia em um país representado por uma pequena elite política identificada e comprometida com agendas políticas que não possibilitam as transformações estruturais necessárias para o aprofundamento da democracia”, enfatiza o texto.
Uma das surpresas das eleições de 15 de novembro foi justamente a eleição de pessoas que representam grupos socialmente vulnerabilizados e excluídos da política representativa. De acordo com a análise do Conic e da Plataforma dos Movimentos Sociais, “a eleição de mulheres negras e jovens, de mulheres trans e representações indígenas indicam que há uma mudança social em curso que aponta para a necessidade de ruptura com a política patrimonialista, racista e patriarcal”.
Ao final da nota, as entidades que a assinam repudiam a tentativa de lideranças políticas levantarem suspeitas sobre o resultado das eleições, insinuando, sem provas, que houve fraude no processo eleitoral.
Para o Dia da Consciência Negra, o Conselho Curador da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil (IPU) emitiu pronunciamento no qual enfatiza que “o racismo é pecado e crime, dos quais a sociedade brasileira precisa se converter e superar, em sua dimensão cotidiana e estrutural”.
A manifestação lembra dois documentos emitidos pela igreja em 2008 e outro em 2015. No primeiro – Pedido de Perdão aos Negros - presbiterianos unidos reconhecem e denunciam a “criminosa concepção ocidental da superioridade branca” que apoiou a escravidão até o século XIX “e muitas vezes ainda sustenta uma espécie de escravidão contemporânea, camuflada em subempregos, como os domésticos”, e em grande parte na prestação de serviços, “no uso de mão-de-obra não especializada no campo e na cidade”.
No segundo pronunciamento, a IPU repudia “todos os atos de violência e agressão praticados em nome de uma suposta fé cristã contra pessoas ou espaços sagrados ligados a expressões religiosas de matriz africana, indígena e, inclusive, católico romanas, as quais, muitas vezes têm sua origem em sentimentos, ideias e discursos raciais”.
O Conselho Curador da igreja instiga as congregações a estudarem esses documentos e frisam que “nenhum cristão vive um cristianismo maduro se permanece omisso diante deste pecado social que marginaliza e mata milhões de negros e negras em nossa pátria”.
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Organismos social e eclesial solidarizam-se com vereadora negra de Joinville e presbiterianos unidos enfatizam que racismo é pecado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU