Por: Guilherme Tenher Rodrigues | 10 Novembro 2020
“A energia eólica consiste em fonte limpa, mas seus impactos tornam-se nítidos principalmente na fase de implantação dos Parques e Complexos Eólicos. Alterações nas características dos meios físico, biótico e socioeconômico são previstas, devido à abertura de acessos, deslocamento de veículos e trabalhadores, exploração de áreas para jazidas e bota-foras e, por conseguinte, interferências na vida de pessoas em comunidades e cidades”, aponta Rosana Batista Almeida, mestra em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE e autora dos Cadernos IHU Ideias 306.
Apesar dos investimentos de parques eólicos apresentarem minimização de impactos ambientais em relação às hidrelétricas e termelétricas, Rosana comenta que a avaliação integral das vicissitudes oriundas da implementação de energia eólica exige um olhar transdisciplinar e engajado entre as diferentes partes do processo de licenciamento e execução destes projetos.
A autora utiliza a implementação dos parques eólicos no semiárido baiano como exemplo da necessidade de um olhar capaz de analisar e intervir nas diversas mutações biossociais que se manifestam. Logo, “os impactos ambientais relacionados à implantação dos Parques Eólicos estão relacionados àqueles de caracteres social (desapropriação/indenização de terras/interferências de deslocamento de máquinas e funcionários), físico e biótico (supressão de vegetação; interferência na fauna e avifauna; emissão de ruídos; geração de poeira; impacto visual; alterações na geometria do relevo, nas redes naturais de drenagem e uso do solo; suspensão, carreamento de partículas e condições de aporte de sedimentos)”, relata.
Rosana recorre a Edgar Morin como método de análise dos impactos dos parques eólicos. Para a autora, “o entendimento, mesmo que aproximado, do meio ambiente perpassa por leituras de mundo a partir de correntes dominantes de pensamento. O método de análise cartesiano baseia-se no conhecimento do todo a partir das características das partes. Morin introduziu o pensamento complexo sobre a realidade, apontando que o todo possui propriedades divergentes do simples somatório das partes”.
E acrescenta: “conforme Morin, o sistema só se constitui quando existe organização e interação entre os elementos constituintes. A relação entre o todo, a totalidade sistêmica e as suas partes é medida por interações. É o conjunto dessas interações entre as partes in acto que gera uma organização que molda e configura sua estrutura interna. A organização dá coerência, regula, mantém, protege, rege o sistema, enquanto as interações exprimem o conjunto de relações, ações e retroações que se manifestam e se desenvolvem dentro de um sistema”.
Rosana analisa os pareceres técnicos, emitidos no órgão ambiental do estado da Bahia-Inema, para concessão de Licença para implantação de três Complexos Eólicos, localizados nos municípios de Sobradinho, Caetité e Campo Formoso.
Após o estudo, a autora alerta sobre a falta de diálogo entre as partes envolvidas nos processos de licenciamento dos parques: “os órgãos executores da Política Ambiental nos Estados da Federação devem desenvolver metodologia para análise dos efeitos cumulativos desta atividade no Semiárido da Bahia. Observou-se, a partir dos processos analisados, que o Condicionante de avaliação de efeitos cumulativos se reproduz, sem aprofundamento e apropriação da equipe técnica”.

Capa de "Impactos Ambientais de Parques Eólicos no Semiárido Baiano: do licenciamento atual a novas perspectivas". Artigo de Rosana Batista Almeida. Cadernos IHU Ideias 306
O artigo se estrutura da seguinte forma:
Introdução
Revisão de Literatura
Fonte Eólica para a Geração de Energia Elétrica
]Impactos ambientais na implantação de Parques Eólicos
Aspetos Relevantes sobre o Semiárido
Análise dos Impactos Ambientais Cumulativos e o Pensamento Complexo
Metodologia
Resultados e Discussão
Conclusão
O texto integral pode ser acessado aqui.
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Energia eólica e impactos ambientais: um olhar a partir da complexidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU