07 Novembro 2020
Desmatamento em importantes áreas de proteção da água, pode agravar ainda mais a situação de rio que luta há cinco anos por recuperação após desastre em Mariana (MG).
A reportagem é publicada por Fundação SOS Mata Atlântica, 06-11-2020.
Monitoramento inédito da Fundação SOS Mata Atlântica verificou a situação do desmatamento nas Bacias Hidrográficas do bioma. Essas regiões são conhecidas por desempenharem importante função ambiental e ecossistêmica para segurança hídrica e proteção da água. Somente entre 2018 e 2019, na bacia do rio Doce, por exemplo, foram desmatados 1.857 hectares de Mata Atlântica.
As informações são do Atlas da Mata Atlântica, iniciativa que conta com a parceria do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O estudo teve execução técnica da Arcplan e patrocínio de Bradesco Cartões. O Atlas traz informações de todos os remanescentes de vegetação nativa do bioma acima de três hectares.
O desmatamento ocorreu em seis sub-bacias do rio Doce. A que sofreu maior desmatamento foi a bacia do rio Suaçuí Grande, em Minas Gerais. Na região, foram desmatados 969 hectares de Mata Atlântica. Essa bacia abrange 48 municípios, com uma população de aproximadamente 500 mil pessoas, tendo como um dos principais municípios Governador Valadares. É uma das sub-bacias mais problemáticas da Bacia do Rio Doce em termos de erosão do solo, por falta de cobertura florestal da Mata Atlântica, o que acarreta impacto direto à qualidade da água, por carreamento de sedimentos e poluentes.
O desmatamento também aconteceu nas áreas de drenagem dos rios: Santo Antônio (343 hectares), Piracicaba (206 hectares), Piranga (146 hectares), Manhuaçu (138 hectares) e Caratinga (55 hectares), tributários importantes da bacia do rio Doce.
Para Marcia Hirota, diretora executiva da Fundação SOS Mata Atlântica, assim como o ocorrido no desastre de Mariana, quando os rejeitos da barragem de Fundão atingiram essa região de cabeceira da bacia e percorreram quilômetros ao longo do rio Doce, os impactos para a qualidade ambiental não se limitaram apenas na água. “A sociedade precisa olhar para um rio pensando em sua bacia, pois tudo que acontece no entorno dele, impacta a qualidade de vida da população, dos ecossistemas e todas as atividades humanas. A bacia do rio Doce ainda está lutando por sua recuperação. Se o desmatamento continuar na região, pode ser que os esforços para sua recuperação não sejam eficazes. É urgente coibir essas ações”, afirma ela.
Os especialistas da Fundação SOS Mata Atlântica ainda destacam a ocorrência de desmatamento entre 2018 e 2019 em regiões do sul e sudeste do país que vêm sofrendo com crise hídrica. Entre elas, a Região Metropolitana de Curitiba, por exemplo, que tem enfrentado escassez e racionamento de água.
No Paraná a bacia do rio Iguaçu teve mais de 1.000 hectares de Mata Atlântica desmatados nesse período de monitoramento dos remanescentes florestais. Destaque para a região do Baixo Iguaçu, na sub-bacia Iguaçu 6, entre os municípios de Cascavel e Guarapuava, a quarta bacia hidrográfica que mais desmatou o bioma no último período analisado.
Vale destacar que o Paraná está entre os estados que mais desmatam a Mata Atlântica, revezando as primeiras colocações com Minas Gerais e Bahia. Entre 2018 e 2019, por exemplo, o estado foi o terceiro que mais desmatou o bioma com 2.767 hectares.
Segundo Malu Ribeiro, gerente da Fundação SOS Mata Atlântica, assim como o impacto para a qualidade das águas, a floresta também influencia para a quantidade de água disponível para a população. “As florestas são reguladoras do clima nas suas regiões e funcionam como esponjas. Ou seja, quando chove, elas armazenam água no solo para, aos poucos, abastecerem os aquíferos, as nascentes e os rios. Se falta floresta, falta água”, destaca ela.
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Bacia do Rio Doce sofre desmatamento de 1.857 hectares de Mata Atlântica entre 2018 e 2019 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU