02 Setembro 2020
"Pantera Negra não é um filme com atores negros, ou mesmo com heróis negros. É um filme radicalmente negro", escreve Luiz Alberto Gomez de Souza, sociólogo.
Chadwick Boseman teria muitos filmes ainda por fazer. O câncer o levou, depois de quatro anos de resistência, aos 43 anos, fazendo filmes sem parar. Passa então para uma dimensão atemporal permanente, como um novo mito. Comoção mundial. Crianças choram com miniaturas de Pantera Negra. Lewis Hamilton lhe dedica sua pole position, com o gesto significativo de Wakanda. LeBron James, grande astro do Los Angeles Lakers, militante da causa negra, antes do jogo de domingo faz o mesmo gesto e publica em seu site: "Descanse no paraíso, Rei". Choram seus companheiros de filmagens.
Pantera Negra não é um filme com atores negros, ou mesmo com heróis negros. É um filme radicalmente negro. E com poderosas guerreiras negras, Shuri, a irmã, que coordena a tecnologia, Nakia, companheira, Okoye, chefe da guarda. Trazem de volta para a vida o Rei T’Challa, num certo momento vencido por seu primo, que como conquistador quis negar o caráter pacifista da tradição de Wakanda. A força das mulheres negras salva a tradição e trás T’Challa de volta ao trono. Chadwick Boseman é Pantera Negra/T'Challa.
Wakanda passa ao largo do colonialismo, sem tocá-lo. Com grandes raízes numa venerável tradição ligada aos ancestrais mas, ao mesmo tempo, com uma tecnologia muito à frente de nosso tempo. Para isso deve permanecer oculta aos olhos ocidentais ávidos. Tem sua força num elemento, um metal, vibranium, ligado a um meteorito. O que não impede Marvel/Disney de, como concessão empresarial, introduzir canhestramente e sem necessidade, um personagem branco que vinha da CIA! O próprio ator, Ross, disse ter medo de ser um branco chato, no que tinha razão. Outro branco roubara um punhado de vibranium de um museu ocidental. Nossos museus ocidentais estão entupidos de roubos de outras civilizações. O vibranium é recuperado.
T’Challa mantém, na tradição de seu povo, uma política pacífica de não agressão. Em um momento vai a ONU oferecer seus serviços para a causa do desenvolvimento. Um delegado branco não se contém e diz: o que esperar de um povo de camponeses? Ficava subentendido, ele queria dizer, um povo negro. Na verdade, tecnologicamente, séculos à nossa frente.
Da esquerda para a direita: T'Challa/C. Boseman; Nakia (Lupita Nyong'o); Okoye (Danai Gurira) e Shuri (Letitia Wright) (Fotos enviadas pelo autor)
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Boseman, de herói a mito - Instituto Humanitas Unisinos - IHU