14 Agosto 2020
Kamala Harris preencheu dois critérios que Joe Biden queria em uma companheira de chapa: é mulher e é negra, dois grupos de eleitores democratas cruciais antes das eleições de novembro.
A reportagem é de Religion News Service, 12-08-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Mas Harris, a jovem senadora de 55 anos da Califórnia, tem outras vantagens na corrida presidencial de 2020. Ela encarna o futuro da religião estadunidense: em uma época de expansão do pluralismo religioso, a geração mais jovem do país – muitos deles filhos e netos de imigrantes – reconhecerá em Harris uma espécie de pertença multirreligiosa e espiritual desconhecida para a maioria cristã branca das décadas passadas.
Harris, que nasceu em Oakland, Califórnia, filha de pai imigrante jamaicano – Donald Harris – e de mãe imigrante indiana – Shyamala Gopalan – é negra e sul-asiática. Ela cresceu em uma casa que acolhia práticas religiosas tanto cristãs quanto hindus.
Quando adulta, ela se casou com Douglas Emhoff, um advogado judeu nascido no Brooklyn.
“Há muito mais jovens estadunidenses que, em termos de identidade, são como Kamala Harris – mestiços, com um histórico de muitas experiências culturais, étnicas e religiosas diferentes”, disse Eboo Patel, fundador e presidente do Interfaith Youth Core. “Isso é apenas um fato demográfico.”
Isso é particularmente verdade para os membros do Partido Democrata e a sua coalizão eleitoral, que é mais jovem, mais racial e etnicamente diversa do que a base do Partido Republicano. Ela também está menos afiliada à religião tradicional.
Na realidade, Biden e Harris se identificam como cristãos – ele, católico; ela, batista negra. Mas a chapa que será formalmente indicada em Milwaukee na próxima semana como a escolha do Partido Democrata para presidente e vice representa um forte contraste com o presidente Donald Trump e o vice-presidente Mike Pence, que são brancos, protestantes e homens.
Harris, que é membro da Terceira Igreja Batista de San Francisco, traz uma versão étnica e racialmente diversa do cristianismo para as urnas. Ela também aprecia as contribuições de muitos não cristãos, que, aliás, são membros da sua família.
Um relatório do Pew Research no ano passado descobriu que os EUA estão se tornando cada vez menos cristãos, e que o número de pessoas sem religião está aumentando. O cristianismo ainda lidera – dois terços (65%) dos estadunidenses se descrevem como cristãos –, mas os cristãos brancos são uma minoria, cerca de 42% do país, disse Robert P. Jones, diretor executivo e fundador do Public Religion Research Institute.
Nesse sentido, disse Jones, “a chapa Biden-Harris se parece muito mais com o futuro dos EUA, e a chapa Trump-Pence se parece muito mais com o passado dos EUA”.
Olhando para a filiação religiosa dos estadunidenses em termos de idade, o contraste é ainda maior, disse Jones.
“Em termos da sua composição racial e religiosa, os autodenominados democratas se parecem com os EUA de 30 anos de idade, enquanto os autodenominados republicanos se parecem com os EUA de 70 anos de idade”, disse ele.
Filiação religiosa por idade, com sobreposição de partido político (Imagem: PRRI)
O Partido Republicano também viu mudanças demográficas em seus quadros. Nikki Haley, que atuou como embaixadora nas Nações Unidas, para o governo Trump, de 2017 a 2018, nasceu em uma família sikh e se converteu ao cristianismo logo depois de se casar com um metodista (sua cerimônia de casamento combinou elementos sikh e cristãos).
Da mesma forma, Bobby Jindal, ex-governador da Louisiana, nasceu em uma família hindu e se converteu ao catolicismo no Ensino Médio.
Essa mudança religiosa, assim como a pertença religiosa múltipla, faz parte da paisagem religiosa dinâmica dos EUA e provavelmente se tornará ainda mais comum.
“Eu me lembro que, como pastor, uma das minhas famílias mais ativas era uma em que um dos cônjuges tinha crescido em uma família batista tradicional no Sul, e o outro era judeu e tinha crescido em uma família judia no Nordeste do país”, disse Derrick Harkins, diretor nacional de questões inter-religiosas do Comitê Nacional Democrata. “Eles eram uma das minhas famílias mais ativas e engajadas.”
Os capelães universitários veem isso o tempo todo, disse Rachel A. Heath, doutoranda da Vanderbilt University que está escrevendo sua tese sobre as respostas cristãs à pertença religiosa múltipla e que atuou como capelã no passado.
Nessa atmosfera, a eclética origem religiosa de Harris provavelmente é tanto um trunfo quanto uma distração na corrida para as eleições do dia 3 de novembro.
“Eu não acho que a biografia religiosa dela será algo negativo na campanha”, disse John C. Green, diretor emérito do Instituto Ray C. Bliss de Política Aplicada da Universidade de Akron. “Pode haver gente que reclame. Mas eu não acho que essas reclamações terão muita ressonância, porque ela representa uma tendência de um padrão que é cada vez mais comum.”
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Kamala Harris é mais do que gênero e raça: é também o futuro da religião nos EUA - Instituto Humanitas Unisinos - IHU