12 Agosto 2020
Os negacionistas gourmet
Crianças precisam das escolas. É bastante prejudicial a interrupção do processo de aprendizagem em anos cruciais para o desenvolvimento cognitivo delas. Com o desamparo produzido pelo Estado e pelos estados ao manterem o descontrole epidemiológico à solta (naturalizando 30 ou 1 mil mortes por dia), chegamos a um paradoxo. As mães pobres, dependentes de busão, trabalham diariamente, enfrentando várias aglomerações, enquanto seus filhos ficam desamparados pelo Estado, o que é uma baita violação, diga-se de passagem.
Mães e pais trazem o vírus pra dentro de casa todo santo dia. Como são os pobres (principalmente, os pais) a morrer atualmente, a demanda que sai deles é: você, Estado, enquanto cumpro as ordens do patrão, não cuida dos meus filhos?
A liberação das "atividades econômicas" manteve e manterá o ritmo de mortes em níveis absurdos, numa roleta que tem pouco de russa e mais de brasileira mesmo: MATAR os mais pobres. Como somos um país marcado pela passado colonial, autoritário, escravagista, os filhos das classes ricas e médias continuarão a evitar "o espaço espinhoso" das escolas particulares. Os dos mais pobres não terão essa opção, como os pais. E a economia, por causa disso, continuará seguindo para o desastre que logo se avizinha (por não ser a pandemia enfrentada pelas autoridades no Brasil), o que cria novo paradoxo: mais demanda por educação pública, vinda da classe média, agora, empobrecida.
Enquanto isso nos iludimos pensando no "quando" chegará a vacina, apesar de estarmos cientificamente apenas na fase do "se" vamos tê-la (o "quando" é só um sonho de verão).
Ao final, o Estado jogará a Polícia pra cima dos educadores no lugar de ter feito isso contra os seus empresários e tecnocratas propinados, a verdadeira matriz para todo risco social.
Saímos da fase do negacionismo brucutu, adentramos na do negacionismo gourmet.
Com a entrevista de Guedes, depois da saída do secretário de privatização do Ministério da Economia, a Globo rasgou a fantasia. Sim, ela é contra (ocasionalmente) Bolsonaro. Mas está com Guedes, com o privatismo, e com outras políticas de assalto às empresas edificadas com o dinheiro dos brasileiros. Começou anteontem com as "descobertas" sobre o "imenso" gasto com funcionalismo. Sofismas como o de contar como gasto com funcionalismo inútil os pagamentos a serviços como educação, saúde, etc. Enfim. Hoje de manhã, no primeiro jornal da Globo News, os comentaristas parecem ter digerido a mesma pílula de Leilane Neuberth: repetiam sem cessar o mantra contra o funcionalismo público e bradavam por reformas, reformas, reformas. Enfim, a Globo abre o jogo e defende de modo escancarado os mesmos interesses caros a Guedes e seus boys. A indignação contra Bolsonaro era e ainda é FAKE.
Para além do fascismo negacionista na Casa Branca, dos 5 milhões de casos de coronavírus e das 160.000 mortes, como potência de vida da pólis, como resposta de quem não está morto e sabe qual é o norte da vida, há o Black Lives Matter e seus aliados. E não há mais nada.
É nesse contexto que se deve entender a escolha da Senadora da Califórnia, ex Procuradora e ex pré-candidata a Presidente Kamala Harris, para disputar junto com Joe Biden aquela que é a eleição mais importante para o planeta em muito tempo, na qual se tentará desalojar, em meio a uma pandemia, um supremacista branco da presidência dos EUA.
Nos EUA, em geral, a lógica da escolha do Vice passa pelo eleitorado que a figura é capaz de carregar. Nesse sentido, Kamala Harris aporta pouco, pois a população afro-americana já votará em Biden em proporção de 9 x 1 de qualquer forma, e a Califórnia é um estado garantido na coluna Democrata. Do ponto de vista eleitoral, escolher, por exemplo, a governadora de Michigan Gretchen Whitmer (que tem se destacado na pandemia), faria mais sentido, porque Michigan é o campo de batalha dos campos de batalha, o estado-pêndulo entre os pêndulos, foi onde Trump selou a vitória de 2016.
Mas na política muitas vezes há que se ir com a potência da afirmação, em vez do cálculo eleitoral, e mesmo sendo Harris uma das procuradoras mais punitivistas da história, é inegável que ela também foi impactada pelo Black Lives Matter e foi se tornando, em vários sentidos, outra pessoa. A minha preferida não era Harris nem Whitmer, mas outra mulher, também, como Harris, negra: Keisha Lance Bottoms, prefeita de Atlanta.
Eu não esperava, no entanto, que Biden fosse ter a coragem de ir com Keisha, sendo ela tão jovem, estando sob fogo cruzado tão violento na Geórgia (cujo governador é um supremacista branco), e sendo Biden um velhinho que, sacumé, pode morrer a qualquer momento. Cancha, experiência e cool para herdar a Presidência a qualquer hora Harris tem, disso não há dúvidas.
Vamos com Biden e Harris, então, tentar desalojar o supremacista branco, e dar um pouco de respiro aos EUA, ao continente, ao mundo. Eles têm o meu voto. Se eu me entusiasmar um tiquinzim, até faço campanha.
Foto: Reprodução Facebook
O único pássaro que se atreve a bicar uma águia é o corvo. Ele se senta de costas e morde o pescoço. No entanto, a águia não responde, nem luta contra o corvo; não perde tempo ou energia no corvo. Basta abrir suas asas e começar a voar mais alto nos céus. Quanto mais alto o vôo, mais difícil é para o corvo respirar e então o corvo cai por falta de oxigênio.
Pare de perder tempo com corvos.
Basta levá-los às suas alturas e eles vão desaparecer.
O inimigo vai sentar-se atrás de você e morder-lhe o pescoço ... "mas os que confiam no Senhor terão sempre novas forças; e poderão voar como águias ..." (Isaías 40, 31).
Terminando a manhã para dizer que a rua não é o lugar do coronavírus. O lugar dele é na pessoinha. O que precisamos é de um radical distanciamento social. Se as pessoas estão na rua se exercitando, caminhando, dando um pulo na praia, no parque, no rio, na bica, ótimo.
Não cague regras para quem está nas ruas com um fim hiper recomendável: exercitar-se, pegar sol, curtir a brisa no descanso do trabalho etc.
Encha o saco de (e denuncie) quem se aglomera, de quem não usa máscara (e de quem usa mas não respeita 2 metros mínimos de distanciamento) e, principalmente, da negligência de políticas públicas para tudo isso evitar.
"Isso não é uma escola". Tenho ainda refletido sobre essa transformação abrupta na qual se insere o trabalho docente, que me afeta diretamente. Não cheguei ao ponto de repudiar. Não se trata também de dizer que não existe aprendizagem possível pela tela. Existe. Se trata de afirmar que um modo de vida pode desaparecer, aquele que dependia da convivialidade, da troca, do riso, da presença, mas também do conflito e do controle. Pensei nisso ao planejar minhas primeiras atividades de ensino remoto. Não se trata aqui de externar o sentimento hoje, apenas de marcar esse estranhamento de não pensar a sala de aula ou mesmo o espaço do campus como parte das atividade pedagógicas. E de ter em mente o que podemos fazer para que não desapareça no âmbito do rolo compressor tecnoburocrático. A tela me faz ver "tudo enquadrado, remoto controle" como diz a canção. Fica para pensar.
O mundo sem carros
Feche os olhos e pense longe. Pronto, foram eliminados todos os veículos automotores individuais do planeta. Agora é possível escutar o som dos pássaros, o caminhar das pessoas, o deslizar suave dos bondes e ônibus elétricos, sem o inferno de motores a combustão e buzinas.
Milhões de quilômetros quadrados de vias, que ocupavam cerca de um quarto do espaço das cidades, foram transformados em praças, jardins, parques, rios renaturalizados, habitação social, bibliotecas, clubes públicos, escolas.
Voltamos a respirar ar puro, a transitar de forma segura de bicicleta ou a pé, a conversar com os vizinhos à sombra das árvores que ocupam o meio das ruas. Recuperamos o valioso tempo que era gasto em deslocamentos e passamos a aplicá-lo na vida social, em encontros com amigos e familiares, em atividades de lazer ou puro ócio.
Como resultado, a saúde da população melhorou substancialmente, reduzindo a pressão sobre o sistema público de saúde, que pôde se aprimorar no atendimento a situações de fato inevitáveis.
O enorme ganho de eficiência nos deslocamentos foi complementado pelo uso racional de alguns veículos elétricos para transportar pessoas idosas ou enfermas, moradores de áreas rurais, alimentos e produtos em geral.
Pela primeira vez em um século, conseguimos reduzir as emissões de gases geradores de efeito estufa. Contaremos orgulhosos a nossos netos como nos empenhamos nessa mudança, que à vista deles pode parecer banal, mas que demandou um grande esforço coletivo para a superação de um vício social que sustentava a riqueza de poucos.
O cancelamento da antropóloga branca e a pauta identitária
Ataques a Lilia Schwarcz refletem disputa pelo 'mercado epistêmico' da questão racial, diz professor
11.ago.2020 às 8h00
Wilson Gomes
Professor titular da Faculdade de Comunicação da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital, é autor de "Transformações da Política na Era da Comunicação de Massa" (Paulus), entre outros livros
[RESUMO] Autor discute os termos do cancelamento da antropóloga Lilia Schwarcz nas redes sociais na última semana, depois da publicação na Folha de artigo crítico ao novo álbum visual de Beyoncé. Em sua avaliação, o episódio revela disputas acirradas entre militantes identitários que, por meio de práticas autoritárias e ofensivas, tentam se firmar como os únicos debatedores legítimos de temas raciais.
Aconteceu nestes dias o cancelamento ou linchamento digital nº 4.984.959.569, realizado por defensores de pautas identitárias, desta vez identitários negros. Cancelamentos e linchamentos são hoje das ações mais banais das estratégias dos identitários, sejam esses de esquerda ou de direita, principalmente depois que grande parte das nossas vidas passou a transcorrer em direta relação com ambientes digitais.
Nesses ambientes é que se consegue facilmente mobilizar enorme montante de pessoas, insuflar em grandes massas um estado de indignação moral ou furor ético e, enfim, colocar alvos em pessoas, instituições e atos na direção dos quais toda a fúria deve ser dirigida.
Para o linchamento e o cancelamento digitais se requer, antes de tudo, uma multidão unida por algum sentido de pertencimento recíproco, motivado pela percepção de que todos estão identificados entre si por algum aspecto essencial da sua própria persona social. Um recorte comum, por meio do qual são separados e antagonizados, de um lado, o “nós”, de dentro do círculo, e, de outro, “eles”, os de fora.
Lilia Schwarcz em mesa da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), em 2019 - Mathilde Missioneiro - 12.jul.2019/Folhapress
Em geral, o ponto de corte formará grupos de referências ou comunidades baseadas em etnias, cor, gênero, orientação sexual e origem geográfica ou até mesmo em posições políticas. Desde que estas últimas possam naturalmente ser vistas como alguma coisa que constitui essencialmente um conjunto de pessoas, como é o caso da nova extrema direita.
Em segundo lugar, há que haver uma motivação moral. Linchar ou cancelar não é como inventar fake news ou disseminar teoria da conspiração, seus parentes mais próximos na família dos comportamentos antidemocráticos digitais, que podem ser realizados amoralmente, isto é, sem que valores estejam em questão.
O grupo que faz um linchamento digital, por sua vez, parte da premissa de que, pelo menos naquele ato especificamente, é moralmente superior a quem está sendo justiçado. A comunidade de linchadores se sente justificada porque um dos seus patrulheiros, em seu turno de guarda das fronteiras da identidade, constatou um erro, um pecado, uma violação de alguma das suas crenças por parte de algo ou alguém.
Cabe ao patrulheiro tocar a corneta e chamar às armas os vigilantes da identidade para que a punição seja aplicada e o valor pecaminosamente violado seja restaurado e reafirmado.
O cancelamento pode se seguir a linchamentos, só que o primeiro é reservado a poucos. Todo mundo pode ser um dia linchado digitalmente, mas só pessoas com visibilidade e importância social e, o que é mais importante, que pareciam vinculadas a ou simpatizantes da pauta identitária, é que podem ser canceladas. O cancelamento envolve ruptura e luto, uma vez que o cancelado tem que ter representado alguma coisa para quem o cancela, mas o sentido de ultraje moral e a fúria linchadora é mesma.
Desgostoso, li nesses dias os textos do cancelamento/linchamento de Lilia Schwarcz pelos identitários negros. Os termos dos decretos de cancelamento são repugnantes para o meu paladar liberal-democrático, uma vez que, na grande maioria dos casos, são autoritários, ofensivos, humilhantes e, vejam só, frequentemente racistas.
Se, pelo menos, ainda fosse justa a indignação, por ter a Lilia publicado um texto racista ou ofensivo, ainda assim ficaria envergonhado pelos termos do cancelamento, mas compreenderia. O pior de tudo é que não, não há nada de errado com o artigo usado como desculpa para linchar. Divergir do que os outros dizem é normal e esperável, ainda mais quando se trata de artistas endeusados por fãs e pessoas identificadas com eles, mas o que veio depois disso foi violência.
Li ou vi uma centena de vídeos, posts e comentários para entender os “termos do cancelamento”, e vamos ser francos de uma vez por todas: não se trata aqui meramente de uma luta por superioridade moral, como costumava ser em casos como esse, mas simplesmente de uma disputa pelo "mercado epistêmico" dos temas da questão racial.
Uma luta concorrencial entre certos negros que pretendem o monopólio exclusivo e os concorrentes não negros que falam e discutem os temas por serem especialistas neles ou simplesmente porque se interessam pelo assunto e que precisam ser retirados do mercado.
Notem duas coisas a este ponto do argumento. Primeiro, os que podem reivindicar o monopólio dos temas não são todos os negros em geral, mas apenas o que pretendem ter os certificados de autênticos representantes e vozes autorizadas. Outros negros que não se atrevam a negar-lhes o direito de falar em seu nome, pois arriscarão a ser, eles próprios, excluídos, como se arrisca, mais uma vez, este escriba.
Em segundo lugar, todos os outros títulos e predicados que antes autorizavam as pessoas a falar sobre "temas negros" —formação acadêmica, interesse cultual, empatia etc.— foram unilateralmente cancelados. Que este caso sirva de exemplo a todos: só negros autorizados™ podem dizer qualquer coisa sobre qualquer negro (mesmo porque são todos partes de um mesmo monólito) e seus problemas.
Claro, isso não pode ser apresentado em termos mercadológicos, mas sempre em jargão moral: “uma mulher branca dizer o que uma artista negra deve fazer é ofensivo”, por exemplo. Resta saber se, em vez de Beyoncé o criticado fosse Justin Bieber, por exemplo, o que poderia ser feito dessa sentença.
É curioso como só nos damos conta desta luta pelo monopólio epistêmico quando há essas escaramuças que vemos nos cancelamentos, linchamentos e assédio digitais. Uma blitzkrieg eficiente sempre rearranja o campo. Para os atacantes, são chances de melhor se posicionarem no mercado epistêmico: quem mais lacrar e mais humilhar mais acumula capital. Naturalmente, quem já está bem posicionado no campo acumulará ainda mais prestígio e distinção.
O padrão, que já vimos repetidos milhares de vezes, é sempre o mesmo. Um patrulheiro dá o alarme após detectar aquilo que, na sua sensibilidade identitária, é uma violação das suas crenças. Em seguida, se já não tiver sido o caso, uma voz autorizada™ acionará a sua rede, composta por pessoas que compartilham dogmaticamente as suas crenças, para a denúncia do comportamento inadequado, para a exposição do infrator ou para envergonhá-lo publicamente.
E como, na dinâmica dos ambientes digitais, uma rede inevitavelmente toca a outra, em pouquíssimo tempo toda a ecologia midiática da comunidade identitária, composta por vozes autorizadas, mas também por pretendentes a influenciadores digitais e abelhinhas de combate, estarão atacando em enxame para fazer desse caso um exemplo para intimidar futuros infratores.
Reafirmados os valores tribais, seguem a vida, a vigilância, as patrulhas, o alarme e novos ataques. Foi só mais um honesto dia de trabalho da polícia identitária.
E ai dos atacados, que são vítimas, mas nem isso podem alegar, uma vez que no linchamento identitário são justamente "as vítimas ontológicas", portanto, imunes às circunstâncias, os que lhes arrancam pedaços da reputação, eventualmente empregos e vida, enquanto choram pela opressão estrutural.
É luta por acúmulo de autoridade em termos de raça e de etnia. Um capital que depois vai render no mercado de palestras, livros, produtos culturais, posições acadêmicas, convites internacionais, empregos na mídia, cargos públicos e autoridade tribal.
O mercado epistêmico é um mercado como qualquer outro, claro, mas não pode aparecer assim e precisa se camuflar como disputa moral pela superioridade no horizonte dos valores. E há os crentes e simpatizantes que juram que há apenas questões morais em jogo.
O que me assusta, em todos esses ataques, é a enorme complacência e cumplicidade da esquerda na tentativa de tornar nobre aquilo que, no fundo, é um discurso e um comportamento de um tremendo autoritarismo. O que li nos termos do cancelamento foram coisas como “cala a boca”, “racista”, “se eu fosse você estaria com vergonha agora”, “a antropóloga branca não sabe o seu lugar”. É um filofascismo sem oposição dos antifascistas, porque os antifascistas são cúmplices. Lamentavelmente.
A própria Lilia Schwarcz publica um mea-culpa em que aceita, empática, uma por uma as premissas dos que a atacam e que estão lutando por monopólio no mercado epistêmico. Não as examina, não as discute, nada. Renuncia docilmente ao exame racional das alegações e aceita dogmaticamente que quem a ataca tem razão.
Mas, vamos ao que deveria ser essencial. É Lilia Schwarcz racista? Não me parece possível. O seu texto é racista? Nada nele dá a entender isso. Por que, então, aceitar as acusações de racista e as descomposturas em que se lhe acusam de ter exorbitado por ter falado sobre o que está proibida de falar simplesmente por não ser da raça ou da cor que reivindica o monopólio do tema?
Ora, é muito simples. Porque Lilia Schwarcz é de esquerda —ou progressista ou liberal, vocês escolhem. Na estrutura mental, sentimental e política de um progressista, ela não pode desafiar o dogmatismo, o autoritarismo, o dedo na cara e a interdição quando vêm dos “oprimidos”. Tem que aceitar, pedir desculpa, jurar que não fará de novo.
A esquerda pede desculpas aos linchadores-oprimidos até quando sabe que não está errada. “Não desista ainda de mim, posso melhorar”, suplica o progressista. E, em todo caso, torna-se o cúmplice que retroalimenta a fera.
Não se iludam: tem muita gente na esquerda que acha que linchamentos, cancelamentos, assédio e assassinatos de reputações só são feios quando praticados pela direita. Pelos identitários, é justiça.
Claro, os identitários negros radicais não são bestas. Não cancelam nem lincham os racistas, a direita conservadora. Sabem que os seus ataques seriam inúteis contra um Sérgio Camargo, que ocupa as cotas da direita identitária no governo Bolsonaro e está ali só para que o bolsonarismo tenha uma prova de que não é racista, mas cujo único objetivo na administração púbica parece ser provocar diuturnamente os identitários negros —e todos os outros negros, de sobra.
Ou um Olavo de Carvalho, um Weintraub, ou mesmo um dos “garotos” do presidente, que vivem de provocá-los só para ver se vem algum ataque orquestrado dos enxames identitários de esquerda, uma vez que isso lhes daria Ibope, currículo e distinção no bolsonarismo. Que, diga-se de passagem, é estruturalmente um identitarismo de direita, que se alimenta justamente do ressentimento criado pelos identitários de esquerda.
Afinal, Bolsonaro passou a vida agitando panos vermelhos para atiçar a fúria dos identitários de esquerda e capitalizar com isso, com o sucesso eleitoral que todos conhecemos.
Os identitários de esquerda, portanto, atacam justamente onde podem machucar, ou seja, só arremetem contra pessoas de esquerda ou pessoas com empatia. Afinal, ninguém pode difamar uma outra pessoa se o alvo justamente desejar a "fama" que se quer imputar-lhe.
Sérgio Camargo acorda todo santo dia para tentar preencher as cotas de insultos de “racista” e “capitão do mato” que os identitários de esquerda vão preencher, inocuamente. Depois vai "printar" e colocar na parede.
Já Lilia... bem, Lilia vai pedir desculpas e dizer que aprendeu a lição. Afinal, passou a vida lutando contra o racismo, ensinando contra o racismo, publicando contra o racismo. Nela deve doer ser acusada de racista e, pior, usurpadora do lugar de falar, uma pessoa sem noção que acha que pode compartilhar uma episteme que doravante é monopólio dos negros. Triste isso.
Lendo sobre a repercussão da "debandada" no Ministério da Economia que agora parece a estante vazia de livros do Paulo Guedes: a imprensa lamenta mais do que ele a saída dos "quadros liberais que largaram a inciativa privada para estar no governo". Garanto que não foi altruísmo da parte deles.
O poder pelo poder. Bolsonaro não quer liberalismo, muitos já avisavam que era apenas uma escada. Quer continuar no poder. Adiar reformas, furar teto de gastos, aumentar impostos para classe média: faz a oposição ficar sem papel e pavimenta sua vertente populista para 2022. Se bobear lança até um "paz e amor" com uma arma na cintura.
Paulo Guedes passou de fiador (Posto Ipiranga) de Bolsonaro a funcionário do projeto político dos militares. Pode até se aproveitar das informações privilegiadas mas segue ordens, e a ordem agora é lançar o Pró-Brasil e gastar para garantir a perpetuação do projeto. Bolsonaro não tem apoio dos militares, ele é parte do projeto dos militares para se manterem democraticamente no poder.
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