26 Junho 2020
Ex-missionário no Brasil diz que o Papa Francisco tem ajudado a reviver a prática devocional durante a pandemia.
O Pe. Maximilien de la Martinière acredita firmemente no poder da religiosidade popular e das devoções para ajudar a reconectar as pessoas com sua fé católica. Ordenado presbítero em 2005 pela Diocese de Versalhes, na França, Martinière passou quatro anos como sacerdote fidei donum no Brasil, onde pôde melhor conhecer algumas práticas sacramentais, como rezar o rosário e as novenas.
Em 2019, o sacerdote publicou um livro de 215 páginas sobre o tema, intitulado La piété populaire: une chance pour l’évangélisation.
Maximilien de la Martinière conversou com Caroline Celle e disse que o atual isolamento social imposto pela covid-19 tem ajudado a reviver alguns tipos de piedade popular e devoções que muitos fiéis haviam abandonado.
A entrevista é de Caroline Celle, publicada por La Croix International, 25-06-2020. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Novenas, peregrinações virtuais e altares domésticos… Essas formas de piedade popular têm ajudado os fiéis durante o período de confinamento?
Realmente, foi preciso haver uma crise na área saúde, imposta pela covid-19, para que tivéssemos outras práticas religiosas além da Eucaristia. A piedade popular tem nos ajudado a superar esse período de confinamento.
Nos tempos difíceis, em geral nos voltamos instintivamente para aquilo que nos tranquiliza, e os símbolos religiosos que caíram em desuso, como os rosários e os crucifixos, voltaram a se fazer presentes.
Esse período tem sido bastante desconcertante, pois vem perturbando os nossos hábitos, e muitas orações rítmicas, como as novenas, ajudam a restaurar o significado da fé entre os fiéis. A vida fica mais fácil com o apoio desses símbolos, quando as celebrações religiosas estão interrompidas.
A Igreja incentiva estas práticas?
Desde a década de 1970, a Igreja tende a menosprezar a piedade popular. A Igreja se concentra mais nos sacramentos – matrimônio, batismo, etc. – do que nos símbolos sacramentais, como o rosário e o crucifixo.
Mas alguns fiéis começaram a se afastar dos sacramentos, e o Papa Francisco vem transformando a relação que temos com a piedade popular. Por ser argentino, ele é sensível a estas expressões de fé, muito presentes na cultura sul-americana. E em seus escritos e homilias, o papa enfatiza regularmente a importância delas.
Durante este período de isolamento social (lockdown), seguindo a cobertura feita pelos meios de comunicação em torno de suas missas diárias, ele convida os fiéis a rezar o rosário e a ter novenas coletivas para apoiar as vítimas do coronavírus.
Depois da crise na saúde, a piedade popular poderá futuramente desempenhar um papel na Igreja?
Eu penso que devemos nos alegrar com a genialidade dos fiéis que desenvolveram uma forma própria de piedade durante estes meses de confinamento. A Igreja também entendeu que, para chegar a todos, é necessário ter várias portas de entrada, adotar várias formas de fé, associadas a diferentes culturas. As novenas do papa tornaram possível manter um vínculo com os fiéis; seria uma pena não dar continuidade a isso.
Ainda é cedo demais para saber se essas marcas de piedade continuarão sendo praticadas depois do “lockdown” e depois das crises de ansiedade associadas com a situação atual. Porém, a piedade popular tem um papel cada vez mais importante na evangelização, e eu particularmente estou curioso para ver o que acontecerá daqui para frente.
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“A piedade popular tem nos ajudado a superar esse período de confinamento” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU