25 Junho 2020
Roberto Romano Da Silva: sobre o arrependimento de Lya Luft.
A responsabilidade de uma pessoa aumenta na medida de suas informações intelectuais. Quando alguém chega ao ponto de escrever livros destinados ao público, sua capacidade de compreensão de fenômenos sociais, econômicos, políticos, ideológicos deve ser mais ampla e profunda. Se tal pessoa decide, apesar de conhecer bem a cena em que os interesses se movem, apoiar alguém que faz o elogio da tortura, despreza as mulheres, odeia os homossexuais, debocha de quilombolas e de indígenas, temos duas razões. Ou possui a mesma ideologia assassina ou é covardemente cúmplice. Até hoje se discute a opção de Heidegger pelo nazismo. Tratando-se de um filósofo poderoso, a opção não permite desculpas. No máximo é possível relativizar sua atitude para tentar colher em seus livros algo útil para entender a tragédia humana. Não sou rigorista. Todo mundo erra. Mas existe graduação nos erros. Dizer não existir alternativa na eleição de 2018 não exime de responsabilidade, agrava. Existia sim alternativa. Livremente a escritora optou pelo pior. Ela, com certeza, conhece as teses de Sartre e de toda a filosofia sobre a liberdade. Ninguém apertou seus dedos para que aplicasse na urna eletrônica o número de Bolsonaro. Aceite que errou, confesse. Mas não queira enganar os outros seres humanos com sofismas. Havia coisa menos ruim na falta de coisa melhor como ela diz. E cá para nós, entre um professor de filosofia e um fascista, a escolha no rumo do melhor não era tão árdua. Bastava pensar que, para além dos erros, o partido de Haddad nunca prometeu matar oponentes, nunca desprezou negros, índios, mulheres, nunca elogiou a ditadura e o assassino Ustra. Volto a Sartre: a desculpa da escritora é evidência clara de má fé. Que ela e todos releiam O Ser e o Nada. RR
Lya Luft numa entrevista de 2006:
"Estou cansada de ver esses bandidos do Movimento dos Sem-Terra (MST) invadirem terras, surrarem velhos casais de proprietários e seus peões, escrever com fezes nas paredes e matar o gado de fazendas. Eles não são pobres, mas arruaceiros que bebem cachaça, usam celulares e têm ônibus. É possível que o Brasil seja uma fênix que vai renascer mais limpa, mas não tenho grandes ilusões."
"Hoje, atores e atrizes de televisão vivem como se participassem de uma grande orgia, porque é isso o que interessa à mídia."
"Acho, inclusive, que, para fins legais, um jovem de 16 anos já deveria ser considerado responsável."
Ela ter votado em Bolsonaro não é mais do que coerência com uma trajetória de reacionária convicta, exposta em inúmeras entrevistas e textos para a Veja. O que talvez espantasse é querer agora saltar fora. Mas isso é fácil de entender: com a pandemia, o massacre prometido por Bolsonaro também atingiu a classe a que Lya Luft pertence. A malta fascista, que deveria matar os pobres, os "comunistas", os indesejáveis, agora está matando também os "nossos". O problema não é o fascismo, mas a falta de mira.
Cf. Disponível aqui.
O Novo Estilo do Governo Golsonaro
Os militares parecem encarar Bolsonaro como se fosse o Lula na época do mensalão, que ao fim conseguiu vencer o cerco. Querem ver se o presidente sobrevive calando a boca dele durante a pandemia, enquanto acertam os ponteiros. Dando certo, soltam de novo em 2022 a matilha de radicais.
Seja como for, não custa lembrar que o projeto de transformar o governo Bolsonaro em um governo Figueiredo, encabeçado por um "Lula de direita", não é dos radicais, nem do exército brasileiro. É um projeto de poder exclusivo dos generais ambiciosos que se meteram com política e que chegaram lá. É esse plano que está agora em curso.
O plano A dos militares é esse: tentar explorar o "carisma" potencial do Bolsonaro para o seu governo Figueiredo recauchutado. O Judiciário e o Legislativo acertaram com os generais deixar o barco correr para ver o que acontece nos próximos meses. Cruzaram os braços e estão deixando os militares jogarem, para ver se fazem gol na prorrogação.
Mas está tudo acertado. Todo mundo sabe que pode dar errado. Nesse caso, sempre haverá disponível um general para suceder ao capitão. E o plano de ressuscitar o regime militar "democraticamente" seguirá como plano B para ser julgado em 2022. Quem sabe se até lá, citando Neném Prancha, o general Mourão não consegue virar um Medici "democrático"?
Enquanto isso, marchamos céleres para os 60 mil mortos. Esses não votarão na próxima eleição.
Um desabafo muito forte:
Na carta de uma assistente social: "Até agora você só trouxe morte, destruição e tristeza para esse país. As pessoas estão morrendo de fome, de depressão, de doenças, de vírus, de descaso, de negligência e do ódio que você acirra contra todos que não comungam de suas idéias neonazistas."
Ei Bolsonaro, sabe aquele dia que você falou no seu cercadinho que “Ninguém tinha morrido por falta de UTI”?
Você disse que não ia gastar com isso, porque havia leitos suficientes de UTI. Não ajuda os governos estaduais e ainda mandou seus seguidores invadir hospitais.
Eu nunca acreditei em você, obviamente, porque tudo em você é uma farsa. Você por si só é uma farsa.
Então, Bolsonaro, minha mãe morreu vitima de um AVC, neste dia 17 de junho de 2020, na cidade de Teresina, depois de esperar por quase 2 dias um leito de UTI que faltou no momento que ela mais precisava.
Ela não tinha covid (testou negativo). Ela teve um AVC e resistiu por quase dois dias sem um leito de UTI.
O irmão da minha mãe, um empresário rico, fez uma peregrinação pela cidade de Teresina/PI, para pagar uma internação pra ela numa UTI. Mas não tinha um leito de UTI vago, nem em hospitais particulares, nem públicos.
Eu quero q você saiba, Bolsonaro que, para mim, você sempre será o assassino da minha mãe. E o mundo todo vai saber disso.
Altamira aguarda há uns 8 anos que a iniciativa privada de Belo Monte entregue a rede de esgoto do município.
E a culpa é da Dilma que tava cagando pras condicionantes ambientais e só queria inaugurar a usina genocida antes de ter mais merda no ventilador.
Literalmente uma PPP pra matar o rio Xingu e deixar no lugar um belo monte de bosta.
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