28 Mai 2020
A Ir. Christiane Baka, decana de Filosofia da Universidade Católica da África Ocidental (CUWA, na sigla em inglês), credita as feministas cristãs por promoverem o lugar das mulheres na Igreja Católica.
A reportagem é de Lucie Sarr, publicada por La Croix International, 27-05-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Membro consagrada das Irmãs de Nossa Senhora da Paz na Costa do Marfim, ela possui doutorado em Filosofia pelo Institut Catholique de Paris e mestrado em Teologia pela Universidade de Poitiers.
Além das suas funções como decana no campus central da CUWA em Abidjan, ela também leciona e continua pesquisando vários temas filosóficos e teológicos – incluindo o papel das mulheres na Igreja.
Eis a entrevista.
Os movimentos feministas costumam culpar o cristianismo por perpetuar a desigualdade de gênero. A senhora acha que essa é uma crítica justa?
O que podemos reconhecer nos movimentos feministas é que eles foram – e ainda são – um apelo dirigido tanto à hierarquia da Igreja quanto aos teólogos para refletirem sobre formas e meios de promover as mulheres.
Qualquer que seja a forma que esses movimentos feministas tomem, eles trazem no coração a denúncia dos estereótipos e preconceitos que mantêm as mulheres sob o domínio dos homens.
Dentro da Igreja, por exemplo, os movimentos feministas estão na origem de várias iniciativas que devem ser elogiadas.
Podemos mencionar a abordagem feminina às Escrituras adotada por exegetas por exemplo na França, como Anne Soupa, católica, e Élisabeth Parmentier, protestante.
Além disso, foi a luta dessas feministas que levou o Magistério a tomar uma posição real sobre a questão das mulheres na Igreja.
Por outro lado, o que me perturba em alguns círculos feministas são elementos rancorosos e marxistas.
Eu acredito que Cristo, no começo, foi o primeiro a promover as mulheres, e, como tal, o cristianismo contém as sementes dos fundamentos para a promoção das mulheres.
Mas é verdade que ainda há um longo caminho a se percorrer para que as mulheres encontrem o seu lugar de direito na Igreja.
O Papa Francisco disse que a questão da ordenação sacerdotal de mulheres foi encerrada por João Paulo II. Por que isso aconteceu? E quais são os argumentos teológicos que se opõem às mulheres sacerdotes? E o diaconato feminino ainda é possível?
Quanto à ordenação sacerdotal de mulheres, Francisco foi claro ao alinhar-se com seus antecessores, especialmente João Paulo II.
Para ele, a questão foi encerrada por este último. Não sei dizer por que, já que eu mesma me faço essa pergunta.
De qualquer forma, ele continua sendo o papa da Igreja Católica com um governo que é extremamente ortodoxo.
No entanto, posso citar os argumentos teológicos apresentados pela Igreja para justificar a não acessibilidade das mulheres ao sacerdócio ministerial.
Eles podem ser resumidos em três pontos, de acordo com a declaração sobre a questão da admissão de mulheres ao sacerdócio ministerial feita no dia 15 de outubro de 1976.
Cita-se uma fidelidade tríplice. Primeiro, a Igreja Católica nunca admitiu que as mulheres possam receber validamente uma ordenação presbiteral ou episcopal. Segundo, uma fidelidade à atitude do próprio Cristo, que não chamou mulheres para estarem entre os Doze.
Nesse ponto, várias pessoas dizem que se Cristo viesse hoje, sem dúvida ele chamaria mulheres para segui-lo e que, acima de tudo, era a tradição que o impedia de fazer isso.
A posição oposta sustenta que Cristo era livre o suficiente para se libertar da tradição e escolher mulheres dentre seus apóstolos. De acordo com os proponentes dessa tese, Cristo deliberadamente retirou as mulheres do sacerdócio ministerial.
A terceira fidelidade é a da prática dos apóstolos. Quando escolheram um substituto para Judas, eles não escolheram uma mulher.
Edith Stein usou um argumento quase ontológico. Ela disse que o padre celebra “in persona Christi” e, como Cristo era um homem, uma mulher não pode presidir.
Quanto ao diaconato, que é considerado um serviço, pode-se imaginar que um dia as mulheres terão acesso a ele.
Mas é preocupante saber que o Papa Francisco diz que as mulheres devem intervir nos locais onde se tomam as decisões. Atualmente, os locais onde se tomam as decisões são os consistórios, e não há mulheres cardeais para participar da tomada de decisões.
Nas Igrejas da África, as mulheres são atraídas pelas novas comunidades que surgiram a partir da Renovação Carismática. A Igreja tradicional falhou em encontrar a linguagem apropriada para falar com elas?
A Igreja deve ser reconhecida por ter fomentado o florescimento de várias associações religiosas femininas.
No entanto, as mulheres ainda ocupam lugares significativos e desempenham um papel importante.
Mas uma coisa é certa: essas novas comunidades dão às mulheres a oportunidade de serem pastoras, assim como os homens e outras pessoas, de serem pregadoras.
Não sei dizer se isso ajuda a atraí-las, mas reconhecemos essas comunidades como lugares onde as mulheres podem se sentir ouvidas e cuidadas.
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“A Igreja ainda tem um longo caminho pela frente para que as mulheres encontrem o seu lugar de direito” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU