23 Janeiro 2020
No momento em que celebramos a vida e o legado de Martin Luther King Jr., vale lembrar que, apesar na natureza intensamente política de seu ministério e ativismo, o Dr. King foi mais profeta do que um político. Ministro e pregador, o seu ativismo pelos direitos civis fundava-se em uma compreensão profunda das noções bíblicas de justiça e da promessa irrevogável feito por Deus ao povo do Êxodo. Mas, como aconteceu já durante sua vida e no meio-século após sua morte, parece que sempre buscamos associar um rótulo político conveniente a ele.
A reportagem é publicada por America, 10-01-2020. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Luther King (Foto: America Magazine)
O Federal Bureau of Investigation (polícia federal americana), sob o comando de J. Edgar Hoover, tentou, com toda força, ao longo das décadas de 1950 e 1960, identificar King como um “marxista-leninista” e associá-lo a figuras políticas comunistas: documentos de 1968 divulgados pelo FBI em 2017 descrevem King como um “marxista completo que estudou [o marxismo], acredita nele e concorda com ele, mas por ser um ministro de religião, não se atreve a defendê-lo publicamente”. (Certa vez, Hoover também chamou publicamente King de “o mentiroso mais notável do país”.)
Por outro lado, King igualmente enfrentou críticas de figuras como Malcolm X por não ser combativo o suficiente na luta pelos direitos civis dos afro-americanos, pregando métodos de não violência quando Malcolm X e outros queriam uma postura mais assertiva e militante.
“Queremos liberdade agora, mas não vamos consegui-la dizendo: ‘Devemos superar’”. Malcolm X certa vez observou: “Temos que combater para superar”. Em anos recentes, houve quem disse que King fora, na realidade, republicano. (Na verdade, King não se registou em nenhum dos grandes partidos políticos.) Figuras de todo o espectro político, em outras palavras, tentaram transformar Martin Luther King Jr. em algo que ele jamais foi.
Estes debates a respeito do legado de King ignoram o ponto mais importante: ele não foi um revolucionário marxista, nem um político moderado, mas um cristão radical. O seu compromisso com a causa dos direitos civis (e o seu ulterior sacrifício por esta causa) era evangélico: ele acreditava que todo ser humano, não importa a cor da sua pele, nasceu à imagem e semelhança de Deus – algo que as grandes religiões monoteístas ensinam há 4 mil anos.
Tampouco o seu compromisso com a não violência era um movimento tático para alcançar objetivos políticos. Era, isto sim, uma crença profundamente arraigada nascida daquelas mesmas convicções religiosas. Honramos melhor a sua memória e o seu sacrifício quando vemos o grande homem pela alma profética que foi – não como alguém a ser cooptado para os nossos próprios objetivos políticos.
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A política radical de Martin Luther King tinha raízes num amor cristão radical - Instituto Humanitas Unisinos - IHU