14 Janeiro 2020
"Tempestades, secas e queimadas em várias partes do mundo mostram que os pontos de inflexão climáticos já estão sendo ultrapassados e uma nova realidade de catástrofes ambientais deve ocorrer de Leste a Oeste e de Norte a Sul", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 13-01-2020.
“Até 2100, 73,9% da população do mundo enfrentará ondas letais de calor, pelo menos 20 dias por ano” IPCC (2018)
Nos últimos 250 anos houve um progresso fantástico da humanidade, com redução da mortalidade infantil, aumento da esperança de vida, avanços significativos no nível de educação e melhoria nas condições de moradia e no padrão de consumo. Mas tudo isto teve um custo ambiental terrível. As externalidades econômicas se acumularam neste período. Hoje, o mundo vive uma emergência climática devido ao aumento imemorial da temperatura do Planeta. O vetor principal do aumento do efeito estufa é a emissão de CO2 decorrente da queima de combustíveis fósseis e de outras atividades antrópicas que liberam gases de efeito estufa (GEE).
Turbinada pelos combustíveis fósseis, a economia global cresceu 135 vezes, a população mundial cresceu 9,2 vezes e a renda per capita cresceu 14,7 vezes, entre 1770 e 2020. Os ganhos sociais foram tremendos, mas os custos ambientais foram funestos. O conjunto das atividades antrópicas ultrapassou a capacidade de carga da Terra e a Pegada Ecológica da humanidade extrapolou a Biocapacidade do Planeta.
As emissões globais de CO2 estavam em 2 bilhões de toneladas em 1900, passaram para 6 bilhões de toneladas em 1950, chegaram a 25 bilhões de toneladas no ano 2000 e atingiram 37 bilhões de toneladas em 2019. Em consequência, a concentração de CO2 que estava abaixo de 280 partes por milhão (ppm) antes da Revolução Industrial e Energética, iniciou uma trajetória de aumento ininterrupto. A concentração de CO2 na atmosfera chegou a 300 ppm em 1920, atingiu 310 ppm em 1950, 350 ppm em 1987, 400 ppm em 2015 e chegou a 411,4 ppm em 2019, conforme mostra a curva de Keeling do gráfico abaixo.
Variação da concentração de CO2 na atmosfera.
Na primeira década do século XXI, a concentração de CO2 aumentava 2 ppm ao ano e na segunda década (2010-2019) passou a aumentar 2,47 ppm ao ano. O mundo caminha para uma situação inusitada e dramática de agravamento do efeito estufa.
Taxa média anual de crescimento de CO2, em Mauna Loa.
Não existem mais dúvidas que o aquecimento global é provocado pela emissão de gases de efeito estufa, decorrentes das atividades antrópicas. Os últimos 6 anos (2014-19) foram os mais quentes já registrados e a década 2011-20 é a mais quente desde 1880. A atmosfera do Planeta está ficando mais quente e isto tem um impacto devastador em diversos aspectos, pois vai deixar amplas áreas da Terra inapropriadas para a vida humana e não humana.
O desafio da contemporaneidade é reduzir as emissões de GEE e reduzir a concentração de CO2 na atmosfera de 411,4 ppm em 2019 para menos de 350 ppm (que é o nível seguro para evitar o descontrole do aquecimento global) o mais rápido possível.
Em 2019, maior concentração de CO2 na história humana.
A crise climática significa clima instável e com variações extremas. Mais furacões. Mais secas. Mais inundações. Mais incêndios e queimadas. Mais mortes relacionadas ao calor. Haverá mais doenças infecciosas à medida que os insetos se deslocarem para o norte. O Ártico poderá ficar sem gelo no verão e a passagem do Norte poderá ficar aberta a maior parte do ano. O nível do mar aumentará alguns metros à medida que as prateleiras de gelo dos polos derretem, produzindo maiores tempestades e inundações mais intensas em áreas baixas ao redor do mundo. Milhões de pessoas serão forçadas a mudar de área ou país. A agricultura terá perda de produtividade e a insegurança alimentar deve aumentar.
Portanto, não há como negar que a maior concentração de CO2 está relacionada com maiores temperaturas na Terra. O Copernicus Climate Change Service anunciou no dia 08 de janeiro que 2019 foi o segundo ano mais quente da série histórica (abaixo apenas de 2016) e os últimos 5 anos foram os mais quentes já registrados, ficando entre 1,1º C E 1,2º C em relação ao período pré-industrial. Mas alguns locais aquecem em ritmo mais rápido como o Alasca.
As ocorrências de desastres climáticos se espalham. As chuvas torrenciais que caíram na véspera de Ano Novo causaram inundações e deslizamentos de terra na região de Jacarta. Mais de 60 pessoas morreram e mais de 170 mil pessoas que viviam nos bairros mais atingidos foram para abrigos temporários. Na cidade do Rio de Janeiro a sensação térmica chegou a 55º C no dia 11 de janeiro de 2019.
Outro exemplo de aquecimento excessivo ocorre na Austrália, onde as altas temperaturas, o tempo seco e os ventos estão espalhando os incêndios e transformando a ilha em um inferno. A área devastada pelas chamas se aproxima de 100.000 km². Dezenas de pessoas morreram, mais de duas centenas de milhares tiveram de abandonar suas casas e estima-se que mais de 1 bilhão de animais foram mortos.
Tempestades, secas e queimadas em várias partes do mundo mostram que os pontos de inflexão climáticos já estão sendo ultrapassados e uma nova realidade de catástrofes ambientais deve ocorrer de Leste a Oeste e de Norte a Sul. O fato é que a queima de combustíveis fósseis e o aumento geral das emissões de gases de efeito estufa estão acelerando o aquecimento global e tornando diversas partes da Terra inóspitas ou até inabitáveis.
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Concentração de CO2 na atmosfera bate recorde histórico em 2019 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU