Por: Wagner Fernandes de Azevedo | 08 Janeiro 2020
O caminho do novo governo uruguaio começa a ser desenhado antes de tomar posse no dia 1º de março. Em uma transição cordial entre os dois polos políticos do país, Luis Lacalle Pou já formou seu gabinete e procura aparar as arestas – que lhe interessam – na política doméstica e internacional. Na primeira semana de 2020, já se reuniu com representantes do movimento interiorano e, majoritariamente, ruralista Un Solo Uruguay, da central de sindicatos Plenario Intersindical de Trabajadores - Convención Nacional de Trabajadores – Pit-Cnt e o secretário de Estado dos EUA Mike Pompeo. O compromisso inicial expressado por Pou é de uma linha direta com esses setores.
O sistema político uruguaio demonstrou desde o processo eleitoral manter uma estabilidade incomum à região. Enquanto nos países vizinhos, sobretudo Argentina e Brasil, a “grieta” ou a polarização acirraram os ânimos, na banda Oriental segue-se o curso da vida pampeana. Os 15 anos de governo da Frente Ampla no poder executivo foi, até então, contestado apenas nas urnas, com eleições acirradas e superado por uma ampla coalizão de partidos de direita. Apesar de o mapa eleitoral demonstrar a divisão acentuada entre o interior e Montevidéu – junto com Canelones, os únicos departamentos em que a FA venceu o segundo turno.
Mapa e dados: Corte Electoral | Tradução e edição: Jonathan Camargo
O gabinete de Pou está praticamente formado e, conforme anunciado por ele, dividido entre os demais partidos da coalizão de direita. O Partido Nacional tem sete nomes, enquanto o Partido Colorado (com destaque a Ernesto Calvi como chanceler) e Cabildo Abierto (vinculado aos militares) três e o Partido Independente um – o Partido de la Gente, do ultradireitista Edgardo Novick, não compõe a equipe de ministros. Manter esse alinhamento dos grupos da direita será um dos fatores primordiais para o governo que depende da solidez da coalizão para garantir a maioria absoluta no legislativo. Portanto, Lacalle Pou, que participou de todas as legislaturas desde o ano 2000, precisará demonstrar habilidade política na presidência para equilibrar os diferentes grupos.
A transição cordial entre o governo esquerdista e direitista se demonstra nas declarações e atos de ambos os lados, mas não significa um governo de conciliação. Tabaré Vázquez disse que entregará a presidência e seguirá militando na oposição, “mas sem derrubar o governo”. Lacalle Pou viajou no dia 10 de dezembro para Buenos Aires acompanhando o atual presidente para a posse de Alberto Fernández.
Por outro lado, as divergências ideológicas emergem nesse longo período de transição. Algumas medidas tomadas por Vázquez depois da eleição causaram rechaço por parte dos blancos, como o aumento das tarifas em 1º de janeiro e a nomeação de seis generais sem acatar as recomendações dadas pelo próximo governo.
Já Lacalle Pou deu traços do novo rumo da política externa uruguaia. Na segunda-feira, 06 de janeiro, conversou com Mike Pompeo, secretário de Estado dos EUA, e apresentou a intenção de criar um acordo de livro comércio entre os países. Assim como fez uma manifestação de repúdio ao processo eleitoral da Assembleia Nacional venezuelana ocorrido no último domingo e a intenção de entrar no Grupo de Lima, agrupamento de países da América Latina para articular a oposição e soluções ao governo de Nicolás Maduro.
Na terça-feira, 7 de janeiro de 2020, Pou encontrou-se com os movimentos internos do Uruguai, também de polos opostos. A central sindical Pit-Cnt, de boa relação com a Frente Ampla, pautou que os aumentos anuais dos salários sigam em vigência e a divulgação detalhada do que será a “ley de urgente consideración” antes de ser enviada ao Parlamento, anunciada pelo futuro presidente, que promete ser uma ampla reforma do Estado, em diversos setores. Conforme relata a revista Caras y Caretas, ao final da reunião, os participantes disseram ter firmado “uma linha-direta” entre sindicato e governo.
O encontro posterior foi com o movimento Un Solo Uruguay, que desde 2018 articulou a oposição ao governo frenteamplista no interior do país, que fez coro justamente ao rechaço ao aumento de tarifas. Guillermo Franchi, representante do movimento que falou com a imprensa após a reunião, afirmou que a reunião foi cordial e com o propósito de levar o país adiante, destacando o crescimento da pobreza no interior: “a perda de emprego que houve no interior é enorme, há gente vivendo na indigência em praticamente todas as cidades do interior”.
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Uruguai. Lacalle Pou divide agenda de transição entre Frente Ampla, sindicatos, ruralistas e governo dos EUA - Instituto Humanitas Unisinos - IHU