Bispo de San Diego condena o ‘julgamentalismo’ na Igreja

Bispo de San Diego condena o julgamentalismo na Igreja. Crédito: Pixabay

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10 Dezembro 2019

Em uma palestra dada recentemente, o bispo da Diocese de San Diego, Dom Robert McElroy, condenou o julgamentalismo, particularmente na Igreja, e advertiu dos danos que tal atitude inflige, em especial na retenção de jovens católicos. Suas palavras foram duras o suficiente?

O comentário é de Robert Shine, em artigo publicado por New Ways Ministry, 07-12-2019. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

McElroy expôs a sua condenação do julgamentalismo na Palestra MacTaggart 2019, realizada na Universidade de St. Mary, em San Antonio, no Texas. Lembrando os dias em que esteve participando do Sínodo para a Amazônia, ao qual o Papa Francisco o nomeou como delegado, o bispo disse:

Se quisermos construir uma Igreja mais acolhedora nos Estados Unidos, a dura questão do 'julgamentalismo' deve ser encarada. Não existe pecado que Jesus condena nos evangelhos mais do que o do julgamentalismo. (...) A igreja de Jesus Cristo deve ser uma igreja que proclama a vida moral católica em toda a sua plenitude, e que convida os fiéis a altos padrões de fé e conduta. Mas a Igreja deve proclamar esta vida no reconhecimento de que é a misericórdia divina que nos salva, não os nossos próprios méritos. A menos que reflitamos este princípio fundamental da nossa fé na realidade vivida da vida eclesial, correremos o risco de legitimar a rejeição dos próprios jovens que buscamos convidar para a Igreja. Não é que os jovens adultos vivam vidas melhores, ou que não erram em ser, eles mesmos, julgamentais. Mas os da geração millennial e os que estão vindo depois deles têm um limiar particularmente baixo para a hipocrisia que reside no professar seguir o Senhor Jesus enquanto se rejeita a sua condenação contínua do julgamentalismo em nossa vida individual e eclesial”.

McElroy poderia ser mais específico até. O que provoca a saída de tantas pessoas não é apenas um julgamentalismo generalizado e a hipocrisia; é algo bem específico. Dados publicados pelo Instituto de Pesquisas sobre Religião Pública (Public Religion Research Institute) em 2016 revelaram que 39% dos que foram criados em lares católicos e que abandonaram a Igreja citam o mau tratamento dispensado às pessoas LGBTQs como uma das principais razões. Este número de 39% é 7% mais alto do que a próxima causa mais citada – a crise de abusos sexuais clericais – e é dez pontos mais alto do que a população geral de pessoas que não vão mais à igreja e que citaram o mau tratamento à comunidade LGBTQ como a principal razão.

McElroy enquadra, como um risco potencial, aquilo que já é uma realidade condenatória. Os jovens católicos estão partindo em massa porque a Igreja institucional é julgadora e hipócrita. Os frutos azedos da difamação que já dura décadas dos líderes eclesiásticos jogados contra as pessoas LGBTQs, no ensino e na prática, amadureceram. Não é exagero falar, nos EUA, daquela que já pode ser uma geração perdida de católicos entre os millennials.

Felizmente, Dom Robert McElroy está desafiando os seus irmãos bispos a serem mais sinodais, mais pastorais e, ulteriormente, mais alinhados com a visão do Papa Francisco. Mas os seus companheiros episcopais nos EUA têm rejeitado repetidamente esta abordagem, focando-se em impedir a igualdade LGBTQ. Até que possam considerar o mau tratamento dispensado às pessoas LGBTQs como uma causa central – ou mesmo com “a” causa central – do porquê os jovens estão abandonando a Igreja e até que assumam o papel desempenhado por eles neste mau tratamento, os bispos não têm chance alguma de deter a hemorragia de jovens para fora das partas da Igreja.

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