21 Novembro 2019
O momento mais aguardado da viagem papal à Tailândia e ao Japão será o seu discurso sobre as armas nucleares.
A reportagem é de Nicolas Senèze, publicada em La Croix International, 20-11-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
É uma viagem pessoal e estratégica que o Papa Francisco iniciou no dia 19 de novembro, ao voar para a Ásia, a sua quarta viagem ao continente depois da Coreia do Sul (2014), do Sri Lanka e Filipinas (2015), e da Birmânia e Bangladesh (2017).
É pessoal porque o Japão já foi um destino dos sonhos para Jorge Mario Bergoglio, que, como jovem jesuíta, esperava ir para lá como missionário antes que seus superiores se recusassem, porque sua saúde era considerada muito precária.
Quando se tornou provincial dos jesuítas na Argentina, ele enviou vários jovens padres para o Japão. Um deles é o agora provincial jesuíta de lá, que atuará como intérprete papal durante a visita apostólica.
Enquanto estiver no Japão, Francisco seguirá os passos do padre Pedro Arrupe (1907-1991), o superior geral dos jesuítas que causou uma ótima impressão no futuro papa. A vocação de Arrupe ao apostolado social estava enraizada na “experiência de contato com a dor humana” das vítimas da bomba atômica de Nagasaki, onde ele morou em 1945.
É provável que Francisco também mencione o Pe. Arrupe em sua chegada à Ásia, em Bangcoc. Foi em seu retorno da capital tailandesa que Arrupe sofreu um derrame que levou João Paulo II a removê-lo como superior geral da Companhia de Jesus em 1981.
No dia anterior, o Pe. Arrupe havia se dirigido aos jesuítas da Tailândia, pedindo um compromisso com os refugiados que muitos de seus coirmãos consideravam arriscado demais.
Da mesma forma, Francisco também disse aos jesuítas europeus em agosto de 2018: “A Companhia deve ter coragem, ir para as periferias, para as encruzilhadas de ideias, problemas, missão”.
Mas o papa não visitará um campo de refugiados enquanto estiver na Tailândia. Isso é um grande pesar para muitos católicos tailandeses, que consideram a sua Igreja muito ativa em termos sociais e educacionais, mas muito tímida em seu testemunho e muito relutante em fazer ouvir as vozes dos excluídos, especialmente entre as minorias onde há forte presença.
Também no Japão, Francisco encontrará uma Igreja cujo lugar na sociedade, especialmente por meio de suas instituições educacionais, é desproporcional ao 0,4% de católicos japoneses.
Mas alguns católicos, muitas vezes imigrantes, acham o testemunho da Igreja no arquipélago muito discreto, promovendo formas de fé que são contrárias à cultura japonesa e correndo o risco de se chocar com a maioria japonesa.
A pedido dos bispos, o Caminho Neocatecumenal, muito popular junto à Congregação para a Evangelização dos Povos, foi solicitado a estabelecer o seu seminário fora do país.
Por outro lado, outros católicos criticam os bispos que estão comprometidos demais com questões consideradas políticas, por exemplo, sua oposição à energia nuclear ou à modificação da constituição pacifista.
O discurso do papa na manhã do dia 25 de novembro às vítimas dos “três desastres” – o terremoto de 2011, o tsunami e o acidente nuclear de Fukushima – será ouvido com atenção, pois ele pode falar sobre a pena de morte, que goza de um amplo consenso no país.
Em uma sociedade à espreita da desintegração dos laços sociais tradicionais, as palavras do papa na Universidade Sophia também serão aguardadas com muita expectativa.
Mas é sobre as bombas atômicas que as palavras de Francisco serão mais examinadas. No dia 24 de novembro, ele proferirá uma mensagem sobre as armas nucleares em Nagasaki, antes de se dirigir para Hiroshima para um encontro inter-religioso pela paz.
“O Santo Padre não deixará de fazer o maior apelo possível para a total eliminação de armas nucleares”, alertou o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, em setembro passado, nas Nações Unidas, reafirmando a posição do Vaticano em favor da Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares.
Em 2017, sua assinatura e ratificação pela Santa Sé levantaram preocupações nas chancelarias ocidentais, particularmente em Paris e Londres, onde um desarmamento progressivo está sendo promovido dentro do marco do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares.
Desde então, os países que possuem armas atômicas fizeram um intenso lobby junto ao Vaticano, e muitas autoridades visitaram a Santa Sé para tentar influenciar a posição do papa. Seu discurso no dia 24 de novembro em Nagasaki revelará se elas foram ouvidas.
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Papa Francisco na Ásia: uma viagem pessoal e estratégica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU