14 Outubro 2019
Pesquisador identifica o motivo para o declínio na frequência à missa de domingo.
A entrevista é de Christophe Henning, publicada por La Croix International, 10-10-2019. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Na edição de outubro da revista jesuíta Études, Jean-Louis Schlegel, sociólogo das religiões, analisa as causas do declínio na frequência às missas dominicais na França. Ele contou ao La Croix que os desdobramentos litúrgicos recentes mantiveram distantes os leigos.
Em seu artigo, você descreve uma “ressacralização” da liturgia que tem levado cada vez mais católicos a abandonar os cultos de domingo. Portanto seriam causas internas [que são as responsáveis] e não somente causas externas, como a secularização ou atividades recreativas aos domingos?
Há anos já os fiéis me dizem que estão “cansados” das missas. Muitas vezes isso os faz se sentir descontentes com a ocasião, que é essencial na vida de um fiel.
Eu acredito que estamos, de fato, testemunhando uma sacralização da missa de Paulo VI, que aumentou a distância entre o celebrante e a assembleia. A participação dos leigos tem caído cada vez mais, enquanto os gestos e as posturas estão carregados de solenidade e compostura.
Além desta sacralização, existe uma reclassificação: o padre tem um papel exclusivo, distante de uma assembleia que não mais participa, mas simplesmente “frequenta” a missa.
A celebração “de frente para o povo” tornou-se um confronto “face a face”. É esse papel passivo dos fiéis que leva, mais cedo ou mais tarde, ao descontentamento.
No entanto, há um grande interesse nas celebrações em mosteiros, que deixam pouco espaço para os fiéis...
Em uma abadia, os fiéis se unem em oração de uma comunidade monástica. Então, a missa dos monges é geralmente bela – e quanto mais, melhor! – e orante. Os mosteiros têm uma longa tradição litúrgica do belo e da sobriedade, longe de toda piedade demonstrativa.
O fato de as ordens religiosas acolherem os fiéis é uma coisa boa para a vida interior dos leigos. Mas o que me preocupa é a deserção do território paroquial e das missas aos domingos. É algo que todos precisamos abordar.
Os leigos ainda se envolvem, por exemplo ao terem um papel mais ativo nos funerais...
Isso acontece porque os padres não mais conseguem dar este suporte a famílias enlutadas, algo que eles lamentam.
Eis um outro efeito da clericalização: o padre parece mais legítimo do que um leigo. Os paroquianos tiveram aceitar funerais sem um padre. Enquanto os padres, agora em menores em número, ainda são onipresentes nas celebrações de domingo.
Mas, em 2035, ainda vai haver padres, inclusive para os domingos? Precisamos pensar sobre isso já. Se os católicos não tiverem mais acesso ao corpo e ao sangue de Cristo, será realmente dramático.
O Papa Francisco não responde a estes desafios ao debater a ordenação dos viri probati durante o Sínodo para a Amazônia, ou em seu recente motu proprio Aperuit illis, abrindo a celebração da Palavra durante a Eucaristia a leigos e leigas?
Sejam os viri probati (homens casados de virtude provada), seja a ordenação de mulheres, já é tarde demais. Infelizmente, a Igreja muitas vezes fica paralisada pelo seu passado e, nesse caso, ela demorou muito para evoluir. Precisamos de audácia para tentar coisas, mas sempre há uma forte resistência.
Quanto ao motu proprio, ele reequilibrou a missa ao insistir na importância da Palavra, que é endereçada a todos. É uma forma de responder à ritualização excessiva da Eucaristia – o Evangelho está no centro da celebração, e o papa nos lembra disso de uma maneira bem concreta.
Cabe agora às comunidades paroquiais pôr este convite em prática e, quem sabe, encontrar o caminho de volta delas aos encontros dominicais.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Leigos descontentes por terem um ‘papel passivo’ - Instituto Humanitas Unisinos - IHU