01 Outubro 2019
O Papa Francisco se encontrou na manhã dessa segunda-feira, 30, em Roma, com o Pe. James Martin, um padre jesuíta que foi violentamente atacado por ir ao encontro das pessoas LGBTQ e dos católicos LGBTQ em particular. Os dois jesuítas compartilham uma abordagem pastoral que enfatiza a compaixão e o acompanhamento, em vez da condenação e da exclusão.
O comentário é do jesuíta estadunidense Thomas J. Reese, ex-editor-chefe da revista America, dos jesuítas dos Estados Unidos, de 1998 a 2005, e autor de “O Vaticano por dentro” (Ed. Edusc, 1998), em artigo publicado por Religion News Service, 30-09-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Uma revelação: Jim Martin é um bom amigo; ele começou a trabalhar na revista America quando eu era o editor.
Quando perguntado sobre os padres gays no seu primeiro ano como papa, Francisco respondeu: “Quem sou eu para julgar?”. Esse é um papa que reconhece que somos todos pecadores, até ele mesmo, e que estamos em uma peregrinação comum rumo a Deus.
Pe. James Martin em seu encontro com o Papa Francisco (Foto: Página pessoal do Pe. Martin no Facebook)
Os católicos conservadores estão incomodados porque Francisco está mais preocupado com pecados da exploração e da injustiça do que com os pecados sexuais entre adultos consenscientes.
Para muitos católicos, os pecados sexuais são o pior tipo de pecado. Tais pecados sempre foram uma matéria grave. Embora os teólogos elogiassem o casamento e a procriação, na homilética popular, muitas vezes, o sexo era apresentado como algo sujo e mau. Para o escrupuloso, a confissão semanal estava totalmente ligada ao fato de ter pensamentos “sujos”.
O sexo entre as pessoas do mesmo sexo era um pecado indizível. Eu cresci nos anos 1950 e não fazia nem ideia do que eram os homossexuais até os meus 20 anos, embora as “maricas” estivessem sujeitas a bullying na Escola Fundamental e no Ensino Médio. Talvez eu não tivesse consciência disso.
Ao mesmo tempo, o clero e o convento sempre foram uma vocação atraente para bons católicos gays. Afinal, se você não quer se casar e não pode fazer sexo, por que não ser padre ou freira? O sacerdócio ou a vida religiosa lhe davam uma explicação socialmente aceitável sobre o porquê você não se casou.
O celibato, no entanto, não é nem fácil nem natural. Os conservadores acham que qualquer suavização da abordagem da Igreja aos pecados sexuais desencadeará uma avalanche de promiscuidade. Sem a castidade, haverá gravidezes fora do casamento e doenças. A única maneira de impedir que os jovens façam sexo é assustando-os.
As pessoas mais velhas que cresceram dentro desse regime moral ficaram horrorizadas com a revolução sexual dos anos 1960 e 1970. Gravidezes fora do casamento, abortos e doenças aumentaram. Elas viam a Igreja como o último baluarte contra essa revolução cultural.
Mas poucas pessoas hoje se preocupam com o fato de irem para o inferno. Mesmo usando a moral católica tradicional, muitos moralistas e confessores acreditam que a maioria dos pecados sexuais ocorre em condições em que não há “reflexão suficiente” ou “pleno consentimento da vontade” para serem qualificados como pecados mortais, mesmo que você acredite que todos os atos sexuais sejam “matéria grave”.
Outros moralistas rejeitam a ideia de que todos os atos sexuais sejam qualificados como matérias graves. Eles argumentam que as circunstâncias e as atitudes das pessoas envolvidas devem ser levadas em consideração. Muitas Igrejas cristãs até aceitam relações amorosas entre parceiros do mesmo sexo como relações abençoadas por Deus.
Nem Martin nem Francisco foram tão longe. Eles nunca contradisseram o ensino tradicional da Igreja contra o sexo fora do casamento entre um homem e uma mulher. Isso desaponta muitos que querem ver o ensino da Igreja mudar.
Enquanto os teólogos debatem essas questões, os pastores católicos devem lidar com pessoas reais nas suas igrejas. Lá, a compaixão e o amor de Jesus deveriam ser os nossos guias. Ele comeu com os pecadores. Ele nunca ficou bravo com os pecadores sexuais. Ele só ficou bravo com os escribas e os fariseus, a quem ele via como hipócritas.
Certamente, todos podem concordar que os gays não deveriam ser submetidos a violências ou discriminação. Somos todos irmãos e irmãs do mesmo Deus. E, se a Igreja não é um clube para os perfeitos, mas sim um hospital de campanha para os feridos, então todos devem ser acolhidos e amados.
Francisco e Martin estão simplesmente imitando Jesus, que, por seu exemplo e palavras, nos ensinou que o nosso Deus é um Pai compassivo que cuida de todos os seus filhos e filhas.
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O encontro do papa com o jesuíta da pastoral LGBTQ. Artigo de Thomas Reese - Instituto Humanitas Unisinos - IHU