17 Setembro 2019
Ocorre em Madrid, de 15 a 17 de setembro, o “Encontro Internacional Paz sem Fronteiras”, organizado pela Comunidade Santo Egídio e a arquidiocese de Madrid. Com expositores de várias confissões e diversos países, porém todos de acordo em que “o desenvolvimento sustentável é o nome de paz”.
O arcebispo de Lima, Carlos Castillo, durante sua intervenção em uma mesa-redonda afirmou que “estamos sofrendo por uma economia neoliberal torta e manca, que arrasta os invisíveis ao esquecimento e à insignificância”.
A reportagem é de José Manuel Vidal, publicada por Religión Digital, 16-09-2019. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Moderados pelo grande rabino de Israel, Oded Wiener, intervieram o arcebispo de Lima, Carlos Castillo, o secretário de Estado para a Cooperação internacional, Juan Pablo de Laiglesia, o presidente da Conferência de Igrejas Europeias (KEK), Christian Krieger, a prefeita de Assis, Stefania Proietti, e o presidente do Centro para o Diálogo e a Cooperação entre Civilizações da Indonésia, Din Syamsuddin. Entre os assistentes, o cardeal Osoro, arcebispo de Madrid, que ao final das exposições, subiu ao palco convidado pelo apresentador para participar juntos aos palestrantes.
O tema foi dirigido pelo grande rabino de Israel, Oder Wiener, perguntando: “Como ajudar a tantas pessoas que sofrem pela pobreza e discriminação na aldeia global do mundo?”. Da sua parte, “as nações desenvolvidas devem criar um clima de paz e reconciliação” e “empregar a tecnologia moderna para uma mobilização global em favor dos mais necessitados”.
Em continuação foi Carlos Castillo quem tomou a palavra. O novo arcebispo de Lima é um intelectual profundo, porém, ao mesmo tempo, fala claro e simples, com vocabulário fácil, um tom de voz extremamente sugestivo e cativante, e um discurso repleto de poesia.
Dom Castillo concorda com São Paulo VI em que “o desenvolvimento é o nome da paz”. Porém, que tipo de desenvolvimento? Porque, as vezes, o desenvolvimento atual “produz tal desvinculação entre as pessoas e os povos, que poderia nos levar a uma das mais graves crises da humanidade”.
Se trata de buscar, pois, “um desenvolvimento pleno”, que vai mais além das clássicas coordenadas de “conservadores e progressistas”. Porque, hoje, o “desenvolvimento pode ser imaginativo ou não”. E o bispo pôs como exemplo a própria Igreja, “onde há gente conservadora que vai para trás e não tem capacidade imaginativa”.
A seu juízo, na sociedade acontece algo parecido e “a economia come a sociedade”. Porque “estamos sofrendo uma economia neoliberal torta ou manca, que arrasta os invisíveis ao esquecimento e à insignificância”.
Para “inverter esse processo de desenvolvimento e reequilibra-lo”, Castillo propôs a importância do diálogo, isso é “o que o papa Francisco chama de uma grande conversa, porque todos somos uma bela prosa de Deus”.
Ali, “onde estão se forjando os novos relatos da humanidade é onde tem que estar a Igreja Católica”, para “regenerar o mundo, com uma forma nova de pensar e de atuar”. Porque, segundo Castillo, ainda que pareça difícil, o caso é que “é possível a solução, porque a grande crise atual se soluciona com a inspiração de Deus e inundando-nos com uma nova esperança”.
A prefeita de Assis, Stefania Proietti, definiu a sua bela cidade como “a cidade da paz e a cidade sobre o monte”, onde João Paulo II celebrou seus célebres encontros inter-religiosos e, agora, o papa Francisco acaba de convocar um encontro com jovens para construir uma nova economia. Porque, a seu ver, com a economia atual “o que estamos fazendo é queimar nossa casa com nossos filhos dentro”.
A prefeita, orgulhosa de sua cidade “capital mundial da ecologia” e “a Davos da nova economia”, assegurou que “não pode haver paz em um mundo em que morrem cinco milhões de crianças ao ano”. Porém, apesar das nuvens, acredita que pode sair o sol, “porque muitas pessoas juntas podem mudar o mundo”.
O secretário de Estado de cooperação, Juan Pablo de Laiglesia, explicou os eixos da ajuda à cooperação do Governo espanhol, que trata de aplicar a agenda 20-30, com o objetivo de “modificar as políticas públicas”. Essa agenda requer, segundo ele, “uma mudança de mentalidade e passar de bilhões a trilhões”. Em qualquer caso, “a agenda 20-30 é o coração do programa político do Governo espanhol”.
O pastor francês Christian Krieger, presidente da KEK, assegurou que “a paz é o DNA da nossa organização”, porém uma paz “inclusiva que exige uma transformação do coração e que, certamente, implica o diálogo inter-religioso, porque as religiões têm que ser parte da solução e não do problema”.
Terminadas as exposições de todos os palestrantes, o moderador convidou o cardeal Osoro, presente na sala, a subir ao estrado e dirigir umas palavras aos presentes. O arcebispo de Madrid aproveitou para destacar uma deficiência do sistema educativo, que “está mais centrado na defesa e na guerra”. Por seu julgamento, “é necessário mudar a onda e desenvolver a consciência de paz no sistema educativo da aldeia global”. Porque “necessitamos um sistema educativo que nos ensine a sonhar”.
Osoro tem claro que “temos que nos encontrar, porque não temos mais remédio”. Por exemplo, com os jovens, tanto dentro como fora da Igreja. “Temos que deixar de falar aos jovens, dar-lhes voz e protagonismo na Igreja, que é algo que tentei fazer durante toda minha vida pastoral”.
Na parte das perguntas, o arcebispo de Lima voltou a fazer intervenção, para denunciar “a concepção espasmódica e irracional do desenvolvimento”, porque “a crise requer paciência e um amplo processo de educação para a paz”.
Um processo que, na sua opinião, o papa Francisco está tentando implementar na própria Igreja “passando da educação do catecismo (do se pode ou não se pode) ao discernimento”.
Acredita dom Castillo que “na Igreja de Francisco está se fazendo um ensaio do que propomos para a sociedade. Se não o fazemos na Igreja, não podermos ajudar a fazê-lo na sociedade”.
E o prelado concluiu assegurando que “a paz é um processo infinito de negociação” e assegurou, dessa forma, que “a paz cristã é a paz que não nos deixa em paz, mas sim que nos coloca em saída permanente”.
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“Estamos sofrendo por uma economia neoliberal torta e manca, que arrasta os invisíveis ao esquecimento e à insignificância”, afirma Carlos Castillo, arcebispo de Lima - Instituto Humanitas Unisinos - IHU