05 Setembro 2019
Greta e seus amigos lançaram um novo método para se comunicar com as multidões, evitando o uso de um microfone: uma pessoa pronuncia alto uma frase que é repetida por um coro de outras vozes, que amplificam naturalmente as palavras faladas. É uma ideia belíssima, mas eles não sabem que foi inventada em um convento de 1500 por M. Madalena De'Pazzi.
A reportagem é de Dacia Maraini, publicada por Corriere della Sera, 03-09-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
A florentina tornou-se carmelita aos 16 anos, imediatamente se tornando famosa por suas orações, jejuns e discursos públicos. Mas também porque ela falava de amor em tempos de guerras, falava de solidariedade em tempos de racismo social e falava de espiritualidade em tempos de hedonismo generalizado. As pessoas nunca se cansavam de ouvi-la. Eles pediram que ela escrevesse o que dizia, mas ela nunca quis fazer isso. Então as irmãs inventaram um sistema que consistia em colocar-se em círculo em volta dela e repetir suas frases assim que as pronunciava, para que toda a multidão pudesse ouvi-las e memorizá-las, para servir de registro.
É claro que não podemos voltar à Idade Média, quando o alto-falante e o gravador não haviam sido inventados, mas as invenções de Greta são importantes porque sugerem a ideia de que poderíamos facilmente dispensar muitas próteses tecnológicas. O impulso para o uso contínuo de instrumentos alternativos às habilidades do nosso corpo, como justamente o uso da voz, nos leva a ficar cada vez mais dependentes das máquinas e cada vez mais ignorantes. O cérebro, desacostumado a usar a memória, a inventar e a experimentar, fossiliza-se. Daí os fenômenos de ignorância linguística e histórica dos estudantes sobre que se fala nesses dias.
O impulso para a mais recente ferramenta tecnológica é nocivo, inútil e beneficia apenas as grandes empresas que estimulam a vaidade humana.
Um impulso para o aumento no consumo só pode multiplicar os desperdícios: tudo o que é posto de lado para correr atrás da novidade acaba no lixo. E assim se multiplicam os aterros, as ilhas de plástico no fundo dos mares, o lixo tóxico que envenena nossas águas.
A pequena Greta, com o rosto de criança sincera, apaixonada e determinada, nos dá algumas indicações, como, por exemplo, a ideia de substituir garrafas de plástico por garrafinhas de metal. Não são soluções absolutas, mas pequenas flechas que devem atingir nossa imaginação, como fazia Cupido para deixar apaixonados os corações preguiçosos.
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A pequena Greta e suas invenções - Instituto Humanitas Unisinos - IHU